Nos últimos meses, um cenário de mudanças expressivas tem marcado o setor de móveis nos Estados Unidos. Empresas tradicionais e reconhecidas do segmento de móveis residenciais estão encerrando suas operações diante de desafios econômicos intensificados em 2025. Este fenômeno ocorre de maneiras variadas: enquanto algumas empresas optam por encerramentos voluntários e liquidação ordenada, buscando evitar processos judiciais, outras chegam a recorrer formalmente ao pedido de recuperação judicial para tentar reorganizar suas finanças ou, quando não é possível, declarar falência. A estimativa é que cerca de 15 mil lojas de varejo, incluindo importantes nomes do setor moveleiro, fecharão em 2025, refletindo a gravidade da situação enfrentada pelo segmento.
O aumento do custo de mão de obra e matéria-prima, combinado com juros altos e queda no fluxo de clientes nas lojas, tem pressionado fabricantes de móveis de todos os portes. Essas adversidades impactam principalmente companhias que dependiam de grandes clientes do varejo e cadeias de suprimentos internacionais, cujos elos tornaram-se vulneráveis em meio à instabilidade do mercado global e problemas logísticos recentes. Soma-se a isso a mudança de comportamento do consumidor, que passou a priorizar compras online e itens usados, afetando ainda mais as vendas do varejo tradicional.
Por que fabricantes de móveis estão encerrando atividades nos EUA?
Empresas que até pouco tempo integravam a base da indústria de móveis americana iniciaram processos de liquidação sem recorrer ao tradicional pedido de falência, embora algumas sejam obrigadas, diante da gravidade financeira, a pedir formalmente recuperação judicial — como ocorreu com a Worthy’s Run Furniture. O caso da Progressive Furniture, subsidiária da Sauder Woodworking, ilustra bem esta tendência. A companhia decretou o fim das operações para o final de 2025, atribuindo a decisão tanto à perda de 60% do seu fornecimento, causada pelo fechamento de sua principal fornecedora no México, quanto ao agravamento de custos e à redução da demanda do consumidor.
Além disso, companhias como a Elk Home, com mais de 40 anos no mercado de móveis e iluminação, e nomes como Kith Furniture e Worthy’s Run Furniture também anunciaram fechamentos e, em alguns casos, liquidações completas dos estoques e ativos. Em paralelo, outras seguiram o caminho da recuperação judicial (Capítulo 11), evidenciando o impacto profundo da crise. A assessoria de grupos especializados em leilões tem garantido a venda ordenada dessas mercadorias, sinalizando uma movimentação sem precedentes no setor.
Quais fatores explicam a crise no setor de móveis residenciais?
Esse fenômeno de encerramentos está diretamente ligado a três fatores principais: inflação persistente, juros elevados e queda da confiança do consumidor. De acordo com dados recentes, o custo para manter operações de fábricas e a aquisição de materiais registrou crescimento contínuo, prejudicando a margem de lucro.
- Inflação dos insumos: Matérias-primas essenciais, como madeira e aço, encareceram significativamente, refletindo também em custos logísticos mais altos.
- Juros altos: Com o crédito mais caro, tanto empresas quanto consumidores passaram a investir menos, desacelerando as vendas e restruturando o consumo.
- Mudança no perfil do consumidor: O enfraquecimento do poder de compra e a preferência cada vez maior por compras online ou de itens usados impactou negativamente grandes fabricantes que atuavam principalmente no varejo físico.

Como empresas estão lidando com a onda de fechamentos?
A resposta do setor de móveis tem variado, mas predomina a busca por estratégias para honrar compromissos existentes — como entrega de pedidos em aberto e manutenção de garantias firmadas no passado — mesmo diante do fim das operações. Em muitos casos, a opção é por liquidar ativos e encerrar atividades sem recorrer à falência judicial, evitando processos burocráticos e protegendo, tanto quanto possível, a reputação das marcas junto ao mercado.
Porém, em situações mais graves, algumas empresas recorreram à recuperação judicial visando reestruturar dívidas, ajustar a estrutura de custos e, se possível, garantir a continuidade do negócio sob novo patamar — caso da Worthy’s Run Furniture. A mobilização de grupos de leilão para escoar estoques, como visto no caso da Elk Home, tornou-se frequente nesse contexto.
A instabilidade do setor de móveis pode impactar todo o varejo?
Mesmo sendo um segmento historicamente visto como estável, a cadeia de móveis residenciais dos Estados Unidos reflete mudanças profundas nas dinâmicas de consumo e produção do país. O fechamento de fabricantes que supriam grandes redes e marketplaces, como Walmart e Amazon, desencadeia impactos em toda a cadeia de abastecimento e pode gerar falta de produtos ou substituição por itens importados de menor custo.
Esses acontecimentos evidenciam um novo ciclo para o setor: empresas de móveis norte-americanas, que durante décadas foram consideradas pilares do varejo, agora enfrentam um cenário de incertezas, reestruturações e necessidade de reinvenção. Apesar do fechamento de milhares de lojas e da saída de empresas tradicionais, é importante reforçar que o setor moveleiro busca movimentos de adaptação, seja por meio de liquidações programadas, reinvenção de portfólios, novas estratégias de distribuição ou até integração ao comércio online. O mercado observa com atenção o desenrolar desse movimento, à medida que as empresas buscam alternativas para superar turbulências econômicas e adaptar-se a um novo perfil de consumo, marcado por mudanças aceleradas e competitividade global crescente.