O avanço da tecnologia e a popularização de serviços digitais bancários têm facilitado o acesso ao crédito, mas também abriram espaço para práticas de fraude cada vez mais sofisticadas. Entre as principais ameaças, destaca-se o golpe de empréstimo consignado, uma modalidade de estelionato que causa prejuízos significativos a aposentados, pensionistas e outros grupos vulneráveis, principalmente em cidades como Belo Horizonte, Juiz de Fora, Distrito Federal e Cabo de Santo Agostinho.
O golpe de empréstimo consignado ocorre quando criminosos, utilizando dados pessoais e, em alguns casos, capturas de reconhecimento facial de baixa qualidade, solicitam empréstimos em nome da vítima. Os valores concedidos são, então, transferidos para contas de terceiros — conhecidos como “laranjas” — e sacados rapidamente, dificultando o rastreamento pelas autoridades e a devolução do dinheiro à vítima.
Como funciona o golpe de empréstimo consignado?

O esquema geralmente é iniciado com a coleta de dados pessoais, que podem ser obtidos por meio de engenharia social, vazamentos na internet ou abordagens presenciais. Durante o procedimento de validação para concessão do crédito, os fraudadores podem, inclusive, capturar imagens do rosto da vítima, aproveitando momentos de distração. Assim, tornam-se capazes de acessar contas bancárias e realizar operações sem que a titularidade seja facilmente contestada.
Após a liberação do crédito consignado, o dinheiro é transferido de maneira ágil para diversos destinatários. O uso de múltiplas contas laranjas é uma tática recorrente dos golpistas, pois impede que o fluxo financeiro seja bloqueado em tempo real e limita as chances de recuperação dos valores desviados. Diante da complexidade desse rastreamento, o Banco Central anunciou o desenvolvimento de uma ferramenta específica, prevista para estar disponível até 2026, que irá monitorar o caminho do dinheiro movimentado nessas contas de transição.
Quais os impactos para as vítimas e os desafios na investigação?
Os prejuízos oriundos desse crime são extensos e variam de acordo com o perfil da vítima e a eficiência do golpe. Em Juiz de Fora, por exemplo, casos recentes apontam perdas entre R$ 10,5 mil e R$ 21,5 mil, enquanto no Distrito Federal o valor médio dos prejuízos chega a R$ 30 mil, com ocorrências isoladas ultrapassando R$ 50 mil. Já em outros municípios, golpes coletivos levaram a registros de fraudes superiores a R$ 15 mil no nome de, pelo menos, 20 vítimas em um só período.
Apesar das ações de combate realizadas pela polícia civil e pelo Procon em diversos estados, os resultados ainda são limitados. As penas para o crime de estelionato eletrônico continuam brandas, pelo fato de não envolverem violência ou ameaça direta, o que contribui para a reincidência dos envolvidos. Tanto em Minas Gerais quanto em Pernambuco, a maioria dos investigados responde em liberdade, ressaltando a necessidade de atualização nas legislações para acompanhar o novo perfil dessas fraudes.
Quais cuidados ajudam a evitar golpes de empréstimo consignado?
Embora órgãos de defesa do consumidor e instituições financeiras estejam aprimorando procedimentos de confirmação de identidade, é fundamental que possíveis vítimas também adotem medidas preventivas. Alguns cuidados incluem:
- Evitar fornecer dados pessoais por telefone, e-mail ou redes sociais sem confirmação da autenticidade do contato.
- Ficar atento a abordagens suspeitas na porta de casa ou em áreas públicas, especialmente diante de solicitações de foto ou documentos.
- Consultar regularmente extratos bancários e consignações no contracheque, para identificar movimentações não autorizadas.
- Pesquisar a reputação de bancos, financeiras e agentes antes de autorizar qualquer operação.
- Solicitar bloqueio imediato de operações em caso de suspeita de fraude e denunciar o ocorrido junto à polícia e ao Procon local.
É importante ressaltar que o reconhecimento facial, quando exigido pelas instituições financeiras, precisa ter critérios de qualidade rigorosos. Caso o procedimento não siga esses padrões, aumenta-se o risco de autorização indevida de transações, como destacam relatos de vítimas e representantes de órgãos fiscalizadores. Exemplos envolvendo fotos deformadas ou capturadas em ambiente doméstico demonstram uma vulnerabilidade adicional dos atuais sistemas de validação.
O que esperar das medidas de proteção e da legislação nos próximos anos?
No cenário brasileiro, a expectativa é de que ferramentas inovadoras sejam introduzidas para intensificar o monitoramento do dinheiro proveniente de fraudes, resultado de ações coordenadas pelo Banco Central e demais instituições financeiras. Além disso, cresce a necessidade de promover debates e ajustes legais para endurecer punições e reduzir a reincidência desse tipo de crime digital.
Por fim, o combate aos golpes de empréstimo consignado depende não só da tecnologia e da ação policial, mas, sobretudo, do engajamento coletivo na orientação e proteção de informações pessoais. Os avanços previstos para os próximos anos indicam que o tema continuará em pauta, exigindo atualização constante das políticas de segurança e do envolvimento da sociedade na prevenção desse tipo de fraude financeira.
Quais sinais indicam que uma pessoa pode ser alvo de tentativa de fraude?

Existem alguns sinais de alerta que indicam uma possível tentativa de fraude envolvendo empréstimos consignados. Entre eles estão recebimento de ligações ou mensagens inesperadas de supostas instituições financeiras solicitando confirmação de dados pessoais, notificações de operações bancárias não reconhecidas ou movimentações atípicas, principalmente em contas frequentemente inativas. Outra situação de risco é quando o consumidor começa a receber inúmeros contatos de correspondentes bancários ofertando crédito de maneira insistente. Ao identificar qualquer um desses indícios, é fundamental buscar orientação junto ao banco ou órgãos de defesa do consumidor, pois isso pode evitar que a fraude seja concretizada.
Como as instituições financeiras podem colaborar para reduzir a incidência desse tipo de golpe?
As instituições financeiras podem adotar diversas práticas para ajudar a reduzir a incidência de golpes envolvendo empréstimos consignados. Entre as mais importantes estão o investimento constante em tecnologias avançadas de autenticação, como biometria de alta precisão e validação em múltiplas etapas; a realização de campanhas educativas para clientes, alertando sobre os riscos e práticas de fraudes; o monitoramento proativo de transações suspeitas e integração de sistemas para comunicação rápida entre bancos, visando bloquear recursos em tempo hábil. Além disso, aprimorar os procedimentos internos de análise de crédito e fortalecer as rotinas de compliance são fundamentais para minimizar vulnerabilidades e responder rapidamente aos casos de tentativas de estelionato.