Em junho de 2022, o setor de cosméticos foi surpreendido por uma notícia envolvendo uma das marcas mais tradicionais do segmento. A Revlon, reconhecida mundialmente por seus esmaltes e batons, entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. No entanto, vale ressaltar que essa não foi a primeira vez que a empresa enfrentou tal situação. Em 16 de junho de 2022, a Revlon já havia solicitado proteção judicial sob o chamado Chapter 11 (recuperação judicial nos moldes norte-americanos). A companhia permaneceu sob proteção judicial por quase um ano, saindo da recuperação em 2 de maio de 2023, após reestruturar suas dívidas e implementar um plano de reorganização aprovado pela justiça. O anúncio chamou a atenção não apenas pelo impacto no mercado, mas também pelo histórico delicado que a empresa, com mais de 90 anos de história, vem enfrentando nos últimos anos.
Nos últimos anos, a Revlon viu sua participação nas prateleiras diminuir, enfrentando concorrência acirrada de marcas emergentes, muitas delas impulsionadas por celebridades e influenciadores digitais. Além disso, a companhia foi afetada por uma série de desafios globais, incluindo dificuldades na cadeia de suprimentos, aumento dos custos de matérias-primas e mudanças no comportamento dos consumidores.
Quais fatores levaram a Revlon à recuperação judicial?
Entre os principais motivos para o pedido de recuperação judicial, destacam-se as interrupções na cadeia de suprimentos, que se intensificaram desde a pandemia de COVID-19. O transporte marítimo ficou mais lento, os custos de frete aumentaram e houve escassez de ingredientes essenciais para a fabricação dos produtos. Um único batom da marca, por exemplo, pode exigir até 40 componentes diferentes, tornando a produção ainda mais vulnerável a qualquer falha no fornecimento.
Além disso, fornecedores que antes ofereciam prazos de pagamento estendidos passaram a exigir pagamento antecipado, pressionando ainda mais o fluxo de caixa da empresa. A inflação global e a escassez de mão de obra também contribuíram para o aumento dos custos operacionais, dificultando a manutenção da competitividade da Revlon frente a concorrentes que investiram fortemente em inovação e logística.

Como a concorrência e o mercado de beleza influenciaram a situação da Revlon?
O mercado de beleza passou por transformações significativas nos últimos anos. Marcas como Fenty Beauty, de Rihanna, e Kylie Cosmetics, de Kylie Jenner, ganharam espaço rapidamente, impulsionadas por estratégias digitais e grande apelo junto ao público jovem. Essas empresas conseguiram captar tendências e responder de forma ágil às demandas dos consumidores, enquanto a Revlon enfrentava dificuldades para se adaptar ao novo cenário.
- Investimento em marketing digital: Novas marcas apostaram em campanhas nas redes sociais, alcançando públicos segmentados.
- Produtos personalizados: A oferta de linhas exclusivas e personalizadas atraiu consumidores em busca de novidades.
- Agilidade na produção: Startups do setor conseguiram lançar produtos em tempo recorde, aproveitando tendências passageiras.
Enquanto isso, a Revlon manteve estratégias mais tradicionais, o que resultou em perda de espaço e queda nas vendas. Entre 2017 e 2021, a receita da empresa caiu cerca de 22%, evidenciando a dificuldade em acompanhar o ritmo do mercado.
O que acontece com a Revlon após o pedido de recuperação judicial?
Com o pedido de recuperação judicial, a Revlon busca reestruturar suas dívidas e reorganizar suas operações para tentar garantir a continuidade dos negócios. É importante lembrar que, após o pedido de junho de 2022, a empresa conseguiu sair da recuperação judicial em maio de 2023, após implementar um plano de reorganização aprovado pela justiça. Ainda assim, novos desafios e pressões do mercado seguiram exigindo adaptações constantes em sua gestão e estratégias.
- Reestruturação das dívidas com credores.
- Manutenção das operações principais, especialmente nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.
- Busca por soluções para superar os desafios logísticos e de fornecimento.
- Possível venda de ativos ou marcas do portfólio para levantar recursos.
Vale ressaltar que as subsidiárias internacionais da Revlon, com exceção do Canadá e Reino Unido, não foram incluídas no processo de recuperação judicial. A expectativa é que, com a reorganização e a experiência adquirida desde 2022, a empresa consiga retomar o crescimento e se adaptar ainda mais rapidamente às novas exigências do mercado de beleza.
O caso da Revlon ilustra como fatores externos, como crises globais e mudanças no perfil do consumidor, podem impactar até mesmo empresas consolidadas. A trajetória recente da marca serve de exemplo para o setor, mostrando a importância de inovação, adaptação e gestão eficiente diante de um cenário cada vez mais dinâmico e competitivo.