O samba brasileiro tem em Bira Presidente uma de suas figuras mais emblemáticas e influentes. Nascido em 23 de março de 1937, no Rio de Janeiro, Ubirajara Félix do Nascimento se destacou como compositor, cantor e percussionista. Sua trajetória se entrelaça com a própria história do samba, ritmo que ele ajudou a transformar em um símbolo da identidade cultural brasileira.
Desde jovem, Bira respirava música. Cresceu em um ambiente cercado por samba e choro, graças à influência do pai. Participando de rodas de música ainda na juventude, encontrou no pandeiro sua principal forma de expressão. Esse instrumento se tornaria sua marca registrada e o acompanharía por décadas de dedicação à música, à tradição e ao respeito à cultura popular.
De que forma Bira ajudou a transformar o samba carioca?
A história de Bira Presidente se mistura com a ascensão do samba no Rio de Janeiro. Em 1961, ele fundou o bloco Cacique de Ramos e assumiu o posto de seu primeiro presidente. O local virou um reduto cultural que unia músicos, compositores e apaixonados pelo samba em encontros inesquecíveis.
Na década de 1970, os pagodes realizados ali se tornaram pontos de encontro criativos e revolucionários. Bira estimulava a inovação musical e promovia a troca entre gerações de artistas. Esses eventos ajudaram a criar uma nova estética no samba, mais livre e aberta às experimentações. Era o samba ganhando novos contornos, com energia, autenticidade e muito ritmo.
Como nasceu o Fundo de Quintal e qual foi o papel de Bira no grupo?
Em 1979, Bira participou da criação do grupo Fundo de Quintal, um divisor de águas no samba moderno. Como pandeirista, ele teve papel essencial na construção da sonoridade do grupo, que mesclava tradição com inovações rítmicas marcantes.
O Fundo de Quintal se destacou por três fatores fundamentais:
- Instrumentos inovadores como tantã e repique de mão, que mudaram o jeito de tocar samba
- Repertório imortal, com músicas como “A Amizade” e “O Show Tem Que Continuar”
- Influência duradoura sobre novos grupos e artistas do pagode e do samba contemporâneo
A atuação de Bira foi decisiva para consolidar esse novo estilo, levando o samba a públicos ainda maiores e reforçando sua importância, versatilidade e evolução.
Quais foram os grandes reconhecimentos recebidos por Bira Presidente?
Bira recebeu diversas homenagens ao longo de sua vida por sua contribuição inestimável ao samba. Um dos maiores reconhecimentos foi a Medalha Pedro Ernesto, concedida em 2015 pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Essa honraria é destinada a figuras que desempenham papéis relevantes na sociedade.
Além disso, sua presença constante em gravações icônicas e colaborações com mestres do samba reforçaram sua visibilidade. Ele era convidado frequente de programas de TV e eventos culturais, sendo lembrado não apenas pela técnica, mas também pelo carisma, pela paixão e pela generosidade com que transmitia sua arte.
O que representa o Cacique de Ramos na trajetória de Bira Presidente?
O Cacique de Ramos foi mais do que um bloco para Bira, foi uma plataforma de resistência cultural. Sob sua liderança, a agremiação funcionou como um espaço democrático onde o samba floresceu e ganhou novas cores. O local abrigava desde sambistas consagrados até jovens iniciantes em busca de oportunidade.
Por meio dos famosos pagodes do Cacique, muitos artistas tiveram sua primeira chance de brilhar. Essa convivência entre gerações fortaleceu os laços da comunidade e alimentou uma cultura musical baseada em tradição, irmandade e criatividade. Bira estava sempre no centro desse movimento, incentivando e celebrando cada conquista coletiva.
Qual é o legado de Bira Presidente após sua morte?
Mesmo após sua morte em 14 de junho de 2025, Bira continua sendo uma referência no samba brasileiro. Aos 88 anos, ele se despediu deixando um legado profundo em cada batida de pandeiro. Sua presença ainda ecoa em rodas de samba, blocos e gravações que fazem parte da memória afetiva de milhões de brasileiros.
Seu impacto não se resume à música. Bira ajudou a preservar e valorizar a cultura popular, tornando-se símbolo de resistência, alegria e orgulho para o povo do samba. A história do gênero não pode ser contada sem mencionar sua contribuição. E enquanto houver samba, haverá também um pedaço de Bira Presidente pulsando em cada compasso.
