Tem filme que marca época. E “Os Outros”, de 2001, é definitivamente um deles. Dirigido pelo espanhol Alejandro Amenábar e estrelado por Nicole Kidman, essa obra-prima do terror psicológico conseguiu algo raro: assustar sem mostrar sangue, sem sustos baratos, só com pura atmosfera.
A história é simples, mas genial. Grace Stewart vive com os dois filhos numa mansão isolada na Ilha de Jersey durante a Segunda Guerra Mundial. As crianças têm uma doença rara que as impede de ter contato com a luz solar, então a casa vive mergulhada na escuridão total. Quando três novos empregados chegam, coisas estranhas começam a acontecer.
Por que “Os Outros” é considerado um clássico?
A genialidade de Amenábar está em criar terror através da sugestão. Nada de efeitos especiais caros ou sangue jorrando. Ele usa elementos clássicos do gótico – neblina, casarões sombrios, passos misteriosos – mas com uma abordagem completamente moderna.
O filme é “um clássico contemporâneo” que consegue ser “estiloso, assustador e divertido de assistir sem se rebaixar como tantos outros do gênero”. A atmosfera é construída tijolo por tijolo, criando uma tensão que vai crescendo até explodir no final.
Amenábar “combina a economia de Alfred Hitchcock com o tom sinistro de clássicos como A Volta do Parafuso, de Henry James”. É terror inteligente, que respeita a inteligência do espectador.
Como Nicole Kidman entregou a performance da vida?
Nicole Kidman estava numa fase complicada da carreira em 2001. Tinha acabado de se separar do Tom Cruise e precisava provar que era mais que “a mulher do astro”. “Os Outros” foi sua carta de alforria.
A atriz “usa da carga dramática forte, da intensidade e da austeridade de uma mulher dominada pela distância do marido, pela doença dos filhos”. Sua Grace é controladora, religiosa ao extremo, mas também vulnerável e desesperada.
Kidman está “no seu melhor gelado neste thriller psicológico, mostrando o tipo de medo interno silencioso que primeiro trouxe sua atenção fora de sua Austrália nativa”. É uma atuação de camadas, onde cada expressão conta uma história.
Qual é o segredo por trás da atmosfera única?
A casa é praticamente um personagem do filme. Mergulhada na escuridão permanente por causa da doença das crianças, ela vira um labirinto de medos e mistérios. As regras são rígidas: “nunca abrir uma porta sem fechar a anterior”.
A direção de arte foi “certeira” em usar elementos como “escuridão, trilha sonora tensa, móveis, vestimenta sombria”. Até um detalhe curioso: as fotos de defuntos que Grace encontra são autênticas, cedidas por um museu americano da era vitoriana.
O som também é fundamental. Amenábar assina a trilha sonora, usando “incômodos violinos e pianos no máximo volume em momentos de tensão”. É música que machuca de propósito.
Por que o final continua surpreendendo depois de 20 anos?
Não vamos dar spoiler, óbvio. Mas o final de “Os Outros” é coisa de gênio. “Ninguém consegue adivinhar o ponto final da trama que tem uma das melhores reviravoltas da história do cinema”.
O filme chegou numa época em que finais com twist viraram moda depois de “O Sexto Sentido”. Mas Amenábar não apenas seguiu a tendência – ele a aperfeiçoou. O diretor “consegue convencer quem assiste e imprimir uma certa assinatura”.
Mesmo quem já viu o filme múltiplas vezes continua descobrindo detalhes novos. É daqueles finais que fazem você querer assistir tudo de novo com outros olhos.
Como o filme se relaciona com temas profundos?
Por baixo do terror, “Os Outros” fala de coisas pesadas. Depressão pós-guerra, superproteção maternal, trauma, luto. É “uma abordagem única como filme de terror lidando com trauma e repressão”.
A fotossensibilidade das crianças não é só um elemento de trama. É baseada na xerodermia, “doença rara” que força famílias reais a “trocarem a noite pelo dia para preservarem as crianças”. Amenábar transformou uma condição médica real em metáfora poderosa.
“Os Outros” “não é um filme de sustos, mas sim um thriller que te oferece informações”. É terror que faz pensar, que fica na cabeça dias depois.
Por que vale a pena assistir hoje?
Vinte e três anos depois, “Os Outros” continua assustando. “Ver Os Outros hoje faz entender como o longa envelheceu bem, mesmo depois de sua fórmula ser aplicada à exaustão”.
Num mundo cheio de filmes de terror que apostam no gore e no susto fácil, “Os Outros” lembra que o verdadeiro medo vem do que não vemos. Da sugestão. Do mistério.
“Um dos melhores suspenses – provavelmente o melhor – desde O Sexto Sentido”. É filme para assistir sozinho, no escuro, e se preparar para uma experiência que vai ficar na memória para sempre.
Se você ainda não viu, corra atrás. Se já viu, assista de novo. “Os Outros” é daqueles filmes que merecem ser revisitados, porque sempre têm algo novo para mostrar. É cinema no seu melhor – inteligente, emocionante e absolutamente inesquecível.