Existe uma série na Netflix que virou febre mundial, mas também gerou debates intensos. “Dahmer: Um Canibal Americano” não é uma história qualquer – é baseada nos crimes reais de um dos assassinos mais brutais dos Estados Unidos.
“Dahmer: Um Canibal Americano”, criado por Ryan Murphy, ficou sete semanas consecutivas no Top 10 global da Netflix e entrou na lista em 92 países. Não demorou muito para se tornar a segunda série de língua inglesa mais assistida da história da Netflix, obtendo 701,37 milhões de horas de visualizações em apenas algumas semanas.
Mas por que uma série sobre um assassino se tornou tão popular? E o que realmente aconteceu na vida real que inspirou essa produção?
Quem foi Jeffrey Dahmer na vida real?
Jeffrey Dahmer (1960–1994) estuprou e matou pelo menos 17 homens e meninos até o início dos anos 1990. Os crimes aconteceram entre 1978 e 1991, e eram brutais mesmo para os padrões de serial killers.
Dahmer não era só um assassino comum. Os crimes, bastante macabros, envolviam canibalismo e necrofilia (sexo com pessoas mortas), abuso sexual infantil, exposição indecente e até intoxicação pública.
O primeiro assassinato aconteceu em 1978, três semanas após a formatura na escola. Depois disso, entre 1989 e 1991, ele atacou principalmente homens e garotos não-brancos homossexuais, todos com o mesmo padrão: mortos geralmente por estrangulamento.
Como Dahmer conseguiu agir por tanto tempo?
Uma das partes mais perturbadoras da história é como Dahmer conseguiu escapar da justiça por mais de uma década. Mesmo sua vizinha, Glenda Cleveland, tentando de várias maneiras denunciar o comportamento suspeito de Dahmer durante anos, a polícia a ignorou.
O racismo sistemático teve um papel fundamental nisso. Tendo como alvo principalmente homens gays negros, Dahmer saiu impune por anos pelo simples fato das autoridades ignorarem o desaparecimento das vítimas.
Dahmer entendia seu privilégio como homem branco e usou isso a seu favor. Quando foi pego se masturbando em público, o juiz disse que não queria “estragar a vida do rapaz” por causa de um erro causado pelo alcoolismo. Imaginem se fosse um homem negro fazendo a mesma coisa.
O que aconteceu quando ele foi descoberto?
A prisão de Dahmer aconteceu em 1991, quando uma de suas vítimas conseguiu escapar. Tracy Edwards foi o único sobrevivente – ele conseguiu fugir do apartamento e levar a polícia ao local.
Quando a polícia entrou no apartamento, encontrou uma cena de horror: Dahmer costumava manter partes do corpo cortadas como “troféus”. Pedaços de corpos estavam guardados em sacos plásticos na geladeira, e fotos das vítimas estavam espalhadas pelo local.
Quando finalmente veio a ser preso e julgado por seus crimes, foi condenado por 15 assassinatos, o que resultou em 15 penas de prisão perpétua. Mas a história não terminou aí.
Como Dahmer morreu?
Dahmer foi espancado até a morte em 1994 por Christopher Scarver, um companheiro de prisão no Columbia Correctional Facility. Scarver teria questionado Dahmer sobre as mortes de homens negros, e a discussão terminou em violência.
Ironicamente, o homem que matou tantas pessoas acabou sendo morto na prisão. Para muitos, foi uma espécie de justiça poética.
Por que a série da Netflix gerou polêmica?
“Dahmer: Um Canibal Americano” não foi só um sucesso – foi também controversa. Famílias das vítimas reclamaram que não foram consultadas sobre a produção, e muitas pessoas questionaram se era ético transformar crimes reais em entretenimento.
A série estrelada por Evan Peters (que já havia interpretado um serial killer em American Horror Story) foi elogiada pela atuação, mas criticada por alguns aspectos. A produção de Dahmer se posicionou publicamente informando que nunca houve a intenção de humanizar a figura do serial killer, mas apresentar a perspectiva das vítimas.
Qual é o impacto da série hoje?
“Dahmer: Um Canibal Americano” ultrapassa um bilhão de horas assistidas, provando que o interesse público por true crime continua gigantesco. A série também abriu discussões importantes sobre racismo, homofobia e falhas do sistema de justiça americano.
O caso Dahmer mostra como preconceitos podem custar vidas. Se a polícia tivesse levado a sério as denúncias sobre homens gays negros desaparecendo, muitas mortes poderiam ter sido evitadas.
Ryan Murphy, criador da série, conseguiu criar uma produção que é ao mesmo tempo entretenimento e crítica social. É pesada, é perturbadora, mas também é necessária para entendermos como funciona a impunidade quando as vítimas são minorias.
A série serve como lembrete de que monsters existem de verdade – e que a sociedade às vezes os ajuda a continuar matando por puro preconceito e negligência.