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Estado de Minas

Jovens atores mineiros comentam as perspectivas da profissão

Eduarda Fernandes, Gabriel Vinícius e Vanessa Machado falam de seus primeiros passos no teatro e no cinema e comentam o que esperam do futuro


23/10/2019 06:00 - atualizado 23/10/2019 07:46

(foto: Hugo Cordeiro/Divulgação)
(foto: Hugo Cordeiro/Divulgação)

Eduarda Fernandes tem 21 anos e concluiu no ano passado o curso de teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart) da Fundação Clóvis Salgado. Além de ter algumas peças no currículo, ela é a protagonista de Luna, longa-metragem do diretor Cris Azzi que está em cartaz em Belo Horizonte. Gabriel Vinícius, de 20, é um dos formandos da primeira turma do curso de capacitação profissional em artes cênicas de Contagem, e está apresentando o espetáculo Ensaio sobre a cegueira, no qual, além de atuar, assina a dramaturgia, ao lado do diretor Kalluh Araújo. Já Vanessa Machado, de 35, nascida em Belo Horizonte e formada em letras, descobriu os palcos recentemente e agora faz parte da Miúda Cia, que tem cinco anos de fundação. Mesmo com pouco tempo de carreira, esses três atores têm chamado a atenção no meio teatral.

Foi em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde nasceu e morou até há pouco tempo, que Eduarda teve o primeiro contato com as artes. Primeiro, foi a música e depois, o teatro. Com 16 anos, quando ainda cursava o ensino médio, fez a prova do Cefart e foi aprovada. Durante todo o curso, ela se deslocava de Vespasiano até o Palácio das Artes, numa jornada de no mínimo duas horas de viagem, para acompanhar as aulas. No entanto, ela precisou fazer uma pausa nos estudos teatrais para dizer “sim” a um convite especial: estrelar um filme.
O longa Luna conta a história de uma adolescente introvertida e criada por sua mãe solteira. No primeiro dia de aula do último ano escolar, ela conhece Emília (Ana Clara Ligeira), também filha única, mas com pais ricos que vivem viajando. Sentindo a mesma solidão em contextos totalmente diferentes, as duas se tornam amigas. A promessa dessa amizade intensa e explosiva é interrompida quando Luna tem sua intimidade exposta nas redes sociais. Diante de uma situação cada vez mais opressiva, ela precisa descobrir quem realmente é.

Eduarda conta que o primeiro contato que teve com o pessoal da produção do filme não foi para nenhum tipo de teste, mas para participar de um bate-papo com o diretor. “Ele queria conversar com meninas da minha geração para entender esse discurso, alinhar os pensamentos. Quando abriu a seleção, com centenas de candidatas, decidi participar. Depois de muitas etapas, acabei passando. Foi o meu primeiro trabalho profissional, mas só agora está chegando ao público. Comecei com o pé direito”, diz.

(foto: Paulo Lacerda/Divulgação )
(foto: Paulo Lacerda/Divulgação )

ESPETÁCULOS 


Após as filmagens, a jovem atriz voltou para o Cefart e encenou dois espetáculos no último ano do curso – Há algo de podre no reino da Dinamarca, inspirado na tragédia de Hamlet, de William Shakespeare, e Eclipse solar. Esse último tem direção de Ricardo Alves Jr. e dramaturgia de Germano Melo. A peça recorre a uma narrativa fragmentada e mostra um grupo de expatriados na Cidade dos Exilados. Eles estão à espera do fenômeno do título e, enquanto o eclipse não vem, têm de lidar com seus medos, procurar transformá-lo e resistir. A montagem voltará a ser encenada na próxima terça (29), no Teatro Francisco Nunes, dentro da programação do Festival Estudantil de Teatro (Feto).

Para se dedicar mais à sua profissão, Eduarda Fernandes se mudou para BH no fim do ano passado. A atriz conta que se sente privilegiada por contar com o apoio da família, sobretudo da mãe. “No comecinho, eu não tinha muito uma ideia do que isso (teatro) significava, mas, ao longo do tempo, fui me encontrando e reconhecendo o meu lugar. Vi que era aquilo mesmo que eu queria seguir”, diz ela, que agora tem feito também alguns trabalhos em publicidade, além de ter participado de curtas e da série Sou amor, dirigida por Cris Azzi e exibida em emissoras públicas, como a Rede Minas.

Mesmo com as incertezas na esfera da produção cultural, Eduarda está otimista e acredita na resistência. “É triste e problemático ver uma extrema-direita atacando os meios simbólicos, que são os mais efetivos no sentido de afirmação de uma classe e de comunicação com o público. Enquanto artista, temos que encontrar uma forma de pensamento para ir contra esse sistema de críticas e de censura que estamos vivendo”, afirma.

A jovem, que se prepara para um longa-metragem e está idealizando um projeto de arte-educação, não se imagina fazendo outra coisa na vida. Ela diz que o que mais a encanta no ofício de ator é o fato de estar sempre atenta. “É um lugar que requer um estado de presença e de atenção muito grandes. E presença não só no palco, no set, mas em tudo. É quase uma simbiose com a própria vida.”

(foto: Bárbara Junqueira/Divulgação )
(foto: Bárbara Junqueira/Divulgação )

Teatro e letras 


Apaixonado pelo teatro e pela literatura desde criança, Gabriel Vinícius passou a ter contato de verdade com os palcos quando participou de oficinas durante o Fórum Popular de Cultura de Contagem, sua terra natal. A partir dali – ele tinha então 14 anos – começou a se dedicar com afinco e a fazer cursos profissionalizantes. Acabou montando com amigos a Companhia Boemia Literária, que já se apresentou em festivais em várias cidades do interior. Um dos espetáculos do grupo, o Manifesto pelo direito à poesia: a peça, foi premiado no Festival de Teatro Comunitário de Mariana. “A gente mescla teatro e literatura nas nossas pesquisas. Sempre gostei de escrever, tanto que estou cursando letras. São duas linguagens que dialogam muito, até porque o teatro nasceu como literatura”, afirma.

Na semana passada, ao lado de 14 colegas, Gabriel estreou o espetáculo de conclusão do curso de capacitação profissional em artes cênicas de Contagem. Ensaio sobre a cegueira é uma adaptação da obra homônima de José Saramago. O diretor da montagem, Kalluh Araújo, e Gabriel assinam essa adaptação. “Adaptar um Nobel de Literatura é sempre um desafio. Foi maravilho criar com o Kalluh. O processo de escrita mistura teatro, dança, e a gente acabou fazendo um recorte dentro do que acreditamos que o texto do Saramago quer dizer ao público”, diz.

A ideia é que a peça circule. “Vamos nos aprofundar nesse texto, que é muito rico, para poder apresentar algo além”, avisa. Mesmo decidido a se formar em letras, Gabriel assegura que quer continuar se dedicando às artes cênicas. “Adoro estar no palco, mas também gosto muito de montar a luz, o equipamento de som, ajudar na técnica, escrever o texto. Gosto muito desse trabalho manual”, conta. O ator diz que a família se assustou um pouco com sua escolha pelo teatro, mas acabou aceitando e os parentes até “deram uma respirada” após a formatura no curso de capacitação. “Teve beca e tudo o mais na cerimônia. Acho importante essa profissionalização do ator, jogar para a sociedade a ideia do trabalhador de cultura enquanto um trabalhador importante no meio social. Ainda mais neste momento nebuloso que estamos vivendo. A gente sabe que é um mercado instável, mas já tentaram acabar várias vezes com o teatro, e ele resiste.”

Outra que concilia letras e palcos é Vanessa Machado, embora ela nunca tenha se imaginado atriz e diz que considerava esse universo muito distante. “Nunca passou pela minha cabeça enveredar para esse lado. Cresci vendo filmes, novelas e achava aquilo tão longe de mim. Quando eu tinha 28 anos, vi em cena uma das minhas melhores amigas, que tinha se formado no Palácio das Artes. Ali eu percebi que essa era uma realidade mais possível do que eu imaginava”, diz. E não deu outra. Vanessa fez o curso de teatro da PUC-Minas e logo depois o do Cefart. Foi ali que acabou surgindo, há cinco anos, a Miúda Cia.

O espetáculo mais recente do grupo, Zoom, une teatro com cinema e tem direção de Ricardo Alves Jr. O texto é de Vanessa. “Fizemos uma temporada na Funarte e teve uma boa repercussão. A ideia é até fazer ali mesmo uma mostra no ano que vem com o repertório da nossa companhia. Foi a primeira vez que escrevi para o teatro. Mesmo tendo uma proximidade com as palavras, foi diferente, mas uma experiência bem enriquecedora”, diz ela, que concilia a carreira teatral com a atividade de professora de inglês.

Vanessa diz que, apesar de gostar muito de dar aulas, ainda sonha em algum dia se dedicar exclusivamente ao teatro. “Quase todo artista que tem que se dividir entre duas profissões tem muito latente o desejo de se dedicar somente à arte. No momento, isso é inviável, não só por questões financeiras, mas pelo próprio período delicado que a cultura enfrenta. Mas eu penso, sim, nessa hipótese de me dedicar somente a algo que descobri sem querer, que era um hobby e no qual  me encontrei.”


Ensaio sobre a cegueira


Direção de Kalluh Araújo. Com alunos do curso de capacitação profissional em artes cênicas de Contagem. Nesta quinta-feira (24), às 20h, no Auditório da Funec (Praça Marília de Dirceu, 20, Inconfidentes, Contagem). Entrada franca. Dia 1º de novembro, às 20h, na Casa de Apoio à Criança Carente (Rua Vl 6, 1.880, Nova Contagem). Entrada franca.

Eclipse solar

Direção de Ricardo Alves Jr.  Com alunos do curso técnico de teatro do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). Terça (29), às 20h, no Teatro Francisco Nunes (Avenida Afonso Pena, s/nº, Parque Municipal). Ingressos: R$ 6  e R$ 3 (meia), à venda duas horas antes da sessão, na bilheteria do teatro.


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