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Estado de Minas

Giramundo inova em O pirotécnico Zacarias, que estreia em BH

Peça fica em cartaz até abril, no CCBB e traz inovações como ator em cena, máscaras e junção de teatro e cinema


14/03/2019 08:00 - atualizado 14/03/2019 08:57

O ator Antônio Rodrigues contracena com bonecos e objetos animados do Giramundo (foto: Marcos Malafaia/divulgação)
O ator Antônio Rodrigues contracena com bonecos e objetos animados do Giramundo (foto: Marcos Malafaia/divulgação)



O pirotécnico Zacarias, que estreia nesta quinta-feira (14), no Centro Cultural Banco do Brasil, não é somente o novo espetáculo do Grupo Giramundo (o 39º, vale dizer). Adaptação da obra de Murilo Rubião (1916-1991), é também uma evolução da assinatura da companhia, que chegará aos 50 anos em 2020.

“Ele é uma decorrência natural do novo Giramundo, que surge após o período do Álvaro”, afirma Marcos Malafaia, um dos cabeças do grupo, referindo-se ao fundador Álvaro Apocalypse. Desde a morte dele, em 2003, Marcos passou a comandar as montagens – Pinocchio (2005, esse com direção coletiva), Vinte mil léguas submarinas (2007) e Alice no País das Maravilhas (2010).

Para um grupo com tanta experiência e história, O pirotécnico Zacarias traz uma série de primeiras vezes. Agora, há o trabalho de ator, bem como a junção de teatro e cinema, além da utilização da técnica de máscaras.

“Como estamos quase chegando aos 50, nosso olhar é muito reflexivo sobre quem somos e que tipo de teatro fazemos”, continua Malafaia. Em cena, quatro atores-manipuladores são capitaneados por Antônio Rodrigues, que atua como o personagem-título.

“Mesmo com o Giramundo do século 20 acostumado à imagem projetada no fundo da cena, não havíamos tido a oportunidade de trabalhar com a configuração em que cinema e teatro estão na mesma cena. Além disso, o teatro de sombras e o teatro de máscaras são gêneros clássicos do teatro de bonecos, mas não havíamos experimentado as duas áreas tão enfaticamente como agora.”

Lançado em 1974, O pirotécnico Zacarias é o quarto livro de contos de Rubião. Na adaptação teatral foram reunidas cinco histórias: O ex-mágico da Taberna Minhota (1947), Teleco, o coelhinho (1965), O bloqueio e Os comensais (ambos de 1974), além do conto-título.

Primeiro contista brasileiro a se dedicar à literatura fantástica, Rubião cria situações inusitadas em suas curtas narrativas. Zacarias, por exemplo, é um pirotécnico morto que segue vivendo. Já o coelho Teleco aborda o narrador com um pedido de cigarro e acaba entrando na vida dele.

“O texto do Rubião tem características muito peculiares. Muito dessa força vem de recursos próprios da literatura, da ourivesaria no uso da palavra. Rubião escreveu pouco, sua obra completa cabe num livro (publicou apenas 33 contos). Mas escreveu com muita profundidade, trabalhou a literatura exaustivamente. O que fizemos foi encontrar os contos que continham uma espécie de herói muriliano. O Zacarias é um ser contemporâneo, de certo modo iludido e impotente diante de uma realidade mágica”, explica Malafaia.

ORIGINAL

Assim como em outras adaptações literárias, o Giramundo manteve o texto original, depois das devidas edições. “Buscamos encadear os contos para que houvesse fluidez entre eles. Mas não modificamos o texto original”, diz o diretor.

Para Malafaia, a obra de Rubião traz a necessidade de se pensar sobre a realidade e suas dimensões. “O cinema nos auxiliou nesse desafio. Através dele, conseguimos recursos dramáticos para tratar da ideia de múltiplas realidades.” A nova montagem traz também uma invenção técnica, marca da trajetória do Giramundo. “Estamos fazendo um espetáculo que tem partitura. É tudo junto: teatro, cinema, animação, sombras”, observa Malafaia.

Adaptar Murilo Rubião, para quem conhece a trajetória da companhia mineira, é algo natural. O jornalista e contista mineiro foi o criador, em 1966, do Suplemento Literário. Apocalypse ilustrou várias edições da publicação. “Há cerca de dois anos, em uma conversa informal com Angelo Oswaldo (então secretário de Estado de Cultura), ele falou da proximidade entre Rubião e Álvaro”, revela o diretor. Além disso, Madu Vivacqua (outra fundadora do Giramundo) foi uma espécie de secretária eventual do escritor. “E eu já havia trabalhado com a obra de Rubião na (extinta) revista Grafitti 76% quadrinhos, nos anos 1990”, completa Malafaia.

Apesar da antiga intenção, apenas em 7 de janeiro o Giramundo deu início à produção da montagem que estreia hoje. “O espetáculo foi produzido em tempo recorde para nós, o que demandou organização diferenciada para podermos cumprir as etapas normais do processo”, diz o diretor.

Em Belo Horizonte, O pirotécnico Zacarias será apresentado até 8 de abril. Depois, o espetáculo segue para temporadas nos outros três CCBBs (São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília). As duas maiores capitais do Sudeste terão temporada de dois meses. Ao todo, serão 107 apresentações, durante sete meses (o Giramundo fica na estrada até outubro). “Nunca fizemos turnê tão extensa. É algo com que sempre sonhamos, pois sabemos que o espetáculo só amadurece durante a temporada”, conclui Marcos Malafaia.


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