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Estado de Minas

Casa do Grupo Galpão, o Galpão Cine Horto recebe o 19° Festival de Cenas Curtas

Espaço para a experimentação, com 16 cenas de palco e 8 interações de rua, apresentações enfatizam grupos marginalizados


26/09/2018 08:30 - atualizado 26/09/2018 08:59

(foto: André Cavaleiro/Divulgação )
(foto: André Cavaleiro/Divulgação )
O Galpão Cine Horto se tornou importante incubadora de projetos teatrais nas duas últimas décadas em Minas Gerais. Além de ser a casa por excelência do Grupo Galpão, um dos mais importantes do Brasil, o espaço recebe o Festival de Cenas Curtas há 19 anos. As cenas selecionadas para esta edição começam a ser apresentadas nesta quarta (26). Entre as escolhidas para abertura do festival estão Agô, de Ramon Paixão, Canto ao mar, de Ana Martins e Rikelle Ribeiro, De Zé a seu Zé, dois de nós mesmos, de Ricardo Lazzeta e Sergio Siviero, e Encontros e desencontros de Fátima Bernardes, do Coletivo Transborda. Na abertura, haverá o rolê Intervenção vintage, do grupo BeHoppers, às 19h30, na Rua Pitangui, e, às 22h, na Gruta, o rolê O corpo é o universo em transe, de Gabrieu e Letícia.

Nesta edição, serão 16 cenas de palco com duração máxima de 15 minutos, três interações de rua e cinco rolês, intervenções artísticas no Corredor Leste. Os rolês serão realizados nos espaços Zona Last, Teatro 171, Gruta Casa de Passagem, Santa e Galpão Cine Horto. A proposta dessas intervenções é abordar temas e estéticas diversas como o direito à cidade, a luta contra o racismo e o orgulho LGBTQIA.

Para definir as cenas do festival, a curadoria analisa as propostas enviadas sem, no entanto assisti-las. A jornalista Joyce Athiê, da equipe curatorial, informa que, embora não tenha ocorrido recorte prévio, muitos trabalhos escolhidos dialogam com elementos da cultura negra. Para ela, esse enfoque dos trabalhos reflete momento pelo qual passa o teatro brasileiro ao jogar luz à produção de grupos que estiveram à margem. Também fazem parte da curadoria Amaury Borges, Carlandréia Ribeiro, Chico Pelúcio, Henrique Vertchenko e Ricelli Piva. “Fizemos duplas para analisar as propostas, mas todas elas foram analisadas pelo conjunto de curadores. A primeira análise não foi definitiva. Cada um dos curadores trouxe elementos para fazermos a escolha”, informa Joyce. Ao todo foram analisadas 239 propostas de 45 cidades de 12 estados.



Iorubá

Agô, com direção de Patrícia Alencar, será a primeira cena a ser apresentada. “A proposta da cena é trabalhar a partir da palavra agô, que quer dizer, em iorubá, pedir licença. A palavra está relacionada à raiz, ao dizer de si, ao pedir licença e bênção para prosseguir”, define Ramon. O ator lembra que a ação traz a estética do corpo negro para a cena. “Os barulhos são do corpo, do caminhar”, afirma. Como o trabalho tem ligação com as culturas de matriz africana, em que os elementos da natureza são sagrados, Ramon coloca em cena espada-de-são-jorge, terra, água e folhas. Os movimentos dialogam com a dança afro, uma vez que Ramon tem formação na área e integrou a Cia. Evandro Passos Bataca e a Cia. Movimento do Beco.

Apesar da tradição de teatro de rua, fortalecida pelo Grupo Galpão, nenhuma das três intervenções no espaço público escolhidas foi enviada por grupos mineiros. Joyce explica que a curadoria se surpreendeu com o pequeno número de inscrições do estado, apenas duas. Na avaliação do diretor do Galpão Cine Horto e um dos fundadores do Grupo Galpão, Chico Pelúcio, a baixa quantidade de propostas de Minas evidencia o momento de crise que atinge de maneira mais expressiva o teatro de rua. “É a forma de teatro que mais precisa de fomento público. Não tem bilheteria, precisa ser convidado para eventos e precisa dos cachês para sobreviver”, afirma. No entanto, Pelúcio destaca que esse formato contribui para a democratização, descentralização e interiorização do teatro. “O Festival de Cenas Curtas faz questão de manter esse apoio para o teatro de rua, seja como provocação, seja como denúncia dessa situação tão precária”, afirma.

As cenas ilustram movimento de toda a sociedade brasileira – e também do teatro – de incluir sujeitos antes marginalizados. “É uma realidade que o país está passando, de reivindicar, questionar a situação dessas pessoas que estavam à margem do olhar da Justiça, à margem do olhar da educação”, afirma. Na avaliação de Pelúcio, as ameaças de retrocesso nos direitos humanos, nos direitos de quilombolas e de LGBTQIA colocam a produção artística em alerta. No entanto, para ele, é importante que as questões sociais e políticas sejam apresentadas sem prescindir da qualidade estética. “O teatro sempre refletiu movimentos políticos e sociais. Mas há que se ter cuidado para equilibrar conteúdo e qualidade artística. Muitas vezes, no afã de apresentar esses conteúdos, os grupos se esquecem da estética e da qualidade teatral”, aponta.

Estética


Pelúcio reforça não ser possível aos curadores fazer a avaliação estética previamente, uma vez que recebem propostas de cenas. “O teatro ruim afasta tanto quanto o discurso conservador. É preciso ter cuidado para o tiro não sair pela culatra”, ressalva.

Ao longo dos 19 anos, o Festival Cenas Curtas revelou artistas e grupos que fizeram história no teatro mineiro. Pelúcio destaca Por Elise, do Grupo Espanca, e Rosa choque, com direção de Cida Falabella. Como espaço de experimentação, os grupos podem se arriscar em termos de linguagem. “O espetáculo é lugar para o risco e para o erro. Um ambiente legal para experimentar, para que os grupos não tenham medo do erro, do ridículo, da busca de uma nova possibilidade”, defende. Joyce completa: “A curadoria corre os mesmos riscos que artistas pretendem correr em cena. Será uma surpresa para nós também”. Chico adianta que já está sendo pensada a programação especial para os 20 anos do festival, a ser realizado em 2019.

Muitas cenas serão solos, o que, na avaliação de Joyce, pode evidenciar a questão econômica já que é mais em conta produzir solos. Também foi identificada a preferência dos artistas pela performance. “O interesse na performance é cada vez mais presente na produção teatral. Alguns trabalhos mesclam teatro performativo ou sinalizam para as performances”, diz.

Outro ponto a se destacar é o fato de que, para realização de algumas cenas, foram convocados não atores. Dois exemplos são Encontros e desencontros de Fátima Bernardes, uma das quatro cenas da estreia, e Todas as vozes, todas elas, de Cris Tolentino. “Cris trabalha com as mulheres da Ocupação Carolina Maria de Jesus”, destaca Joyce. A cena será apresentada no sábado (29), às 21h, no Galpão Cine Horto.

Diversidade no palco e na rua
Confira a programação de hoje

19h30 – Rua Pitangui
Rolê: Intervenção vintage, por BeHoppers

20h – Teatro Wanda Fernandes (Galpão Cine Horto. Rua Pitangui, 3.613, Horto)
Cena 1: Agô, de Patrícia Alencar. Teatro-dança
Cena 2: Canto ao mar, de Ana Martins e Rikelle Ribeiro
Cena 3: De Zé a seu Zé, dois de nós mesmos, de Ricardo Iazzeta e Sergio Siviero
Cena 4: Encontros e desencontros de Fátima Bernardes, de Coletivo Transborda

Entreato: Lá da Favelinha (em frente ao Galpão Cine Horto)

22h – Gruta (Rua Pitangui, 3.613 C, ao lado do Galpão Cine Horto)
Rolê: O corpo é o universo em transe, de Gabrieu e Letícia

* Cenas de Rua, Rolês, Feira Quarta Queer e Debate do Dia Seguinte: entrada franca
Cenas de palco e Festa de encerramento: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)


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