Longa argentino sobre tragédia entre patroa e empregada estreia na Netflix

'Um crime em comum' procura expor a desconexão da elite com a realidade social dos países latino-americanos

Mariana Peixoto 28/01/2021 04:00
VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO
Elisa Carricajo interpreta Cecília, a protagonista do filme, que descobre tragicamente sua desconexão com a realidade social de seu país (foto: VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO)
Cecília (Elisa Carricajo) considera-se uma pessoa progressista de classe média. Professora de sociologia, divide-se entre o trabalho e sua casa, onde cria o filho pequeno sozinha. É querida entre os amigos e alunos, e conta com a ajuda da diarista Nebe (Mecha Martínez) para dar conta de seu cotidiano. Até que o inesperado acontece. 

Durante uma madrugada, ela é acordada pelas batidas na porta de Kevin (Eliot Otazo), o filho de Nebe. Assustada, não abre. No dia seguinte, descobre, por meio da imprensa, que o jovem foi morto pela polícia e seu corpo jogado em um rio.

Com estreia na Netflix nesta quinta-feira (28/01), o longa argentino Um crime em comum, dirigido por Francisco Márquez, trata de uma questão tão urgente nos tempos atuais. A bolha social em que vivemos, e a divisão entre os conceitos que pregamos e a forma como agimos.

Cecília não demora a descobrir sua desconexão com o mundo real. E a culpa vai corroê-la – o que (não) teria ocorrido se ela tivesse aberto a porta? Também autor do roteiro, Márquez comenta que o mote da narrativa nasceu de uma “observação da realidade”. 

“O que aconteceu com Kevin é uma situação comum em toda a América Latina. A Argentina tem casos emblemáticos, de corpos jogados em rios contaminados, de um jovem preso acusado de roubar uma bicicleta.”

ACADEMIA

A protagonista representa a distância entre teoria e prática. “Eu compartilho muitas inquietações com Cecília. O processo (de fazer o filme) foi bastante doloroso para mim, pois as perguntas dela são também algumas que me faço. Na Argentina, e acredito que no Brasil seja parecido, a ditadura produziu uma distância entre os intelectuais e os setores populares. Nos anos 1970, eles eram mais unidos pela militância. Hoje, a intelectualidade está muito circunscrita à academia. E é muito difícil pensar a realidade a partir da academia”, diz o diretor.

Márquez filma a história em um clima de thriller psicológico. Onipresente em cena, a atriz Elisa Carricajo entra numa espiral silenciosa de medo e culpa. O assassinato de Kevin marca uma quebra do que a personagem considera sua vida até então. Sua fortaleza racional, que a mantinha segura de si, entra em colapso. A jornada da protagonista é filmada de forma lenta, com muitos silêncios. Cecília torna-se solitária e sua conexão com a realidade se fragiliza.

Um crime em comum tem coprodução com o Brasil, por meio da Multiverso Produções. A trilha sonora é assinada pelo paranaense Orlando Scarpa Neto. No país, o filme chegou aos cinemas no início de janeiro. Na Argentina, ele só chegará às salas a partir de abril, de acordo com o andamento da pandemia.  

UM CRIME EM COMUM
• O longa argentino dirigido por Francisco Márquez está disponível a partir desta quinta (28/1) na Netflix.

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