'Kingdom' aposta na combinação de epidemia, guerra política e zumbis

Segunda temporada da série sul-coreana mostra uma sociedade à beira do caos depois da contaminação de pessoas por um vírus. Médica luta contra ignorância científica e oportunismo dos poderosos

Mariana Peixoto 24/04/2020 04:00
Desde que renovou a maneira de se narrarem invasões zumbi, a primeira temporada da série sul-coreana Kingdom, disponível na Netflix, surpreendeu com uma história medieval eletrizante, com tons já vistos no cinema de seu país em Train to Busan (2016).

A vantagem que faz a série arrancar na frente, para bem longe da cansativa The walking dead, é seu recorte histórico, ambientado no período da Dinastia Joseon (1392-1897). Em apenas seis episódios, narrou, em sua temporada inicial, a convulsão social provocada pela contaminação de pessoas que se transformam em monstros sedentos por carne humana.

Da periferia do país, a massa de zumbis seguiu para a capital, casa do poder e das conspirações. O boato do rei morto cede espaço para uma disputa aberta. Quem vai ocupar seu lugar? O filho do rei, acusado de traição, tem outras preocupações, como erradicar a contaminação com flechas inflamadas, armas de fogo rudimentares, barricadas e espadas.

Nesse quesito, Kingdom traz cenas repletas de ação que pouco lembram os massacres zumbis urbanos de outras séries do gênero. A metáfora de uma sociedade exaurida, rodeada de prédios e transformada em massa alienada, ganha diferentes contornos na paisagem de florestas e construções milenares.

Netflix/divulgação
Série sul-coreana mostra sociedade devastada por pandemia e violência (foto: Netflix/divulgação)


A epidemia zumbi deixa rastros particulares. O luxo vivido pelos clãs tem fim e a desigualdade social é escancarada. O mal não escolhe entre ricos e pobres, embora os poderosos tenham mais vantagens. Se a força militar não basta, o que pode dar fim ao caos?

A segunda temporada de Kingdom mantém em alta temperatura a ação de zumbis correndo, lutas e investidas, mas também constrói de maneira silenciosa os segredos por trás da epidemia. Enquanto os homens vão suar sangue na batalha, a heroína tem nome e profissão: Seo-bi, a médica.

Na primeira temporada, foi a personagem da atriz Doona Bae quem percebeu o ciclo de funcionamento dos zumbis. Na segunda rodada, Kingdom avança no desenvolvimento das criaturas, devido a descobertas promovidas por Seo-bi. Como é de imaginar, a potência militar não basta, mesmo que sirva para acariciar o ego masculino. O embate força versus inteligência está posto. Acreditar na intuição de uma médica ou no barulho das armas?

RAINHA As revelações de Seo-bi são usadas pela rainha, que não abre mão de seu espaço. O boato sobre sua gravidez provoca crise política inédita. A realeza reconhece que tem o caos a seu favor, construções seguras para viver, um exército pessoal. Mas pode aprisionar o conhecimento?

Ao descobrir as origens e os motivos da contaminação zumbi, Seo-bi não se surpreende. Dominar o outro sempre foi da natureza humana. Kingdom encerra a segunda temporada exaltando a batalha da médica e lhe impondo um desafio maior. A nova guerra será pelo conhecimento, contra a ciência ainda mais antiga. Boa sorte para os zumbis. (Estadão Conteúdo)

KINGDOM
• Segunda temporada
• Seis episódios
• Netflix

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