Roberto Cabrini revela bastidores da notícia: 'Denunciados não mandam flores'

Apresentador do Conexão repórter, no SBT/Alterosa, diz que gosta de conversar com pessoas, mesmo as que colocam sua vida em risco. Jornalista já foi sequestrado pelas Farc

Fernanda Gomes* 19/01/2020 06:00
SBT/Alterosa
Desde 2009, Roberto Cabrini comanda o Conexão repórter, exibido às segundas no SBT/Alterosa (foto: SBT/Alterosa)
Roberto Cabrini se destaca como um dos maiores nomes do jornalismo brasileiro. Com 43 anos de profissão, atualmente está à frente do programa semanal Conexão repórter, exibido pelo SBT/Alterosa. Cabrini começou sua carreira ainda adolescente, aos 16 anos. “A escolha do jornalismo foi algo natural”, revela, ao contar que a comunicação sempre fez parte de sua vida, seja como orador da turma ou conversando com os amigos.

“Admirável mundo novo” é a expressão utilizada pelo jornalista para descrever o que sentiu na primeira vez em que entrou na rádio onde iniciou sua carreira, aos 16 anos. Ao ver jornalistas andando de um lado para o outro, sentiu que era aquilo que queria fazer pelo resto da vida. A evolução na carreira ocorreu de forma rápida: aos 17 anos, tornou-se o mais novo jornalista da Globo. Aos 21, estava cobrindo sua primeira Copa do Mundo (1981) e, aos 22, tornou-se correspondente internacional da emissora em Nova York.
Além da Globo, Cabrini trabalhou na Band, Record e, desde 2009, é o contratado de Silvio Santos para comandar o Conexão repórter, que vai ao ar às segundas no SBT/Alterosa. Em sua carreira, coleciona a cobertura de cinco Copas do Mundo, cinco Olimpíadas, seis conflitos internacionais – Afeganistão, Iraque, Israel/Palestina, Camboja, Caxemira e Somália – e a realização de matérias em mais de 70 países. “Tive que abrir mão de uma parte da minha juventude para ser repórter. Enquanto eles (os amigos) se divertiam, eu redigia reportagens e morava sozinho no Centro de São Paulo”, relembra Roberto Cabrini sobre as dificuldades que enfrentou para chegar aonde chegou.

Especializado em jornalismo investigativo, coberturas de guerra e defesa dos direitos humanos, Cabrini é rápido ao ser questionado sobre qual a melhor reportagem que produziu: “Sempre a próxima”.

Em seu livro No rastro da notícia (2019), Cabrini apresenta fatos curiosos sobre 10 grandes matérias de sua carreira – escolhidas com base na audiência, pelo caráter investigativo ou por serem cobertura de guerras. Uma das histórias narradas por ele é o sequestro que sofreu enquanto seguia pistas que o levariam até brasileiros que supostamente estavam escondidos na Colômbia, em 2010. O jornalista e sua equipe foram levados por guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em um carro de boi até o local onde ficaram presos por quase três dias. Lá, teve de convencer os sequestradores de que não tinha ligação com os EUA. “A convivência que tive com os guerrilheiros valeu muito mais a pena do que se estivesse com os brasileiros”, revela.

PRÊMIOS 

Cabrini conta que gosta de conversar com gente, sobretudo aqueles que colocam a vida em risco. “Várias vezes, pensei que era o meu fim. As primeiras vezes são muito difíceis e depois você vai começando a controlar a sua mente”. Nesse ponto, o medo deixa de ser um empecilho e se torna sinalizador de oportunidades. O jornalista adverte: “Denunciados não mandam flores”. Ele sabe que as pessoas que investiga irão ameaçá-lo –  isso faz parte da profissão que escolheu.

Tanto trabalho duro só poderia ter um resultado: prêmios. Entre os mais de 20 que coleciona, Cabrini destaca o Prêmio Esso Especial de Telejornalismo 2010, que recebeu pela matéria “Sexo, intrigas e poder”, que denunciava casos de pedofilia envolvendo representantes da Igreja Católica em Arapiraca, no interior de Alagoas.

Há quase 10 anos à frente do Conexão repórter, Cabrini atribui o sucesso do programa à equação entre credibilidade e popularidade: “Não há circo sem bilheteria”. A pauta da atração aborda tanto reportagens investigativas quanto as de interesse público. “Meu único preconceito é contra matéria malfeita”, completa. O jornalista também leva em consideração os comentários dos telespectadores na hora de escolher um assunto. Com essa conectividade, o programa não é apenas sucesso televisivo, mas também destaque nos meios digitais. Somente no YouTube, tem mais de 1 milhão de inscritos e mais de 165 milhões de visualizações. “O fascinante do jornalismo é que ele sempre se renova. O importante é não perder a sintonia com a sociedade”, diz.Aos 59 anos, Cabrini não pensa em parar: “Nunca me passou pela cabeça me aposentar”. Ao ser questionado sobre que conselho daria para aquele adolescente de 16 anos que sonha ser jornalista, é categórico: “Tenha menos ansiedade, porque tudo vai dar muito certo.”

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro

NO RASTRO DA NOTÍCIA
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
(foto: FOTOS: ARQUIVO PESSOAL)
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