Sem tiroteios e flashbacks, 'Criminal' escapa da zona de conforto das séries policiais

Episódios se passam em salas de investigação de quatro países, valorizando o 'jogo de gato e rato' entre policiais e suspeitos

por Pedro Galvão 04/10/2019 09:31

Séries policiais de TV, com investigações, detetives e crimes não solucionados, mexem com o imaginário do público há décadas. Criminal (Netflix) tem tudo isso, mas em formato, digamos, “econômico”. O único cenário dos 12 episódios é a sala de interrogatório, o que não impede a riqueza das histórias, que envolvem o espectador ao se concentrar nos personagens e no que eles têm a dizer.

Cada um dos 12 capítulos, com 45 minutos, apresenta um caso diferente. De um lado da mesa está o suspeito, cujo nome dá o título ao episódio, às vezes acompanhado pelo advogado. Do outro, detetives e inspetores. Logo nas primeiras cenas, o caso é contextualizado.
 
A estrutura seria simples, não fossem os pontos em aberto da trama e os jogos psicológicos travados entre as partes. No episódio britânico Edgar, o investigado é Edgar Fallon (David Tennant), médico suspeito de estuprar e matar a enteada de 14 anos durante uma viagem. A dupla de agentes, interpretada por Lee Ingleby e Mark Stanley, questiona fatos que podem incriminá-lo, como depoimentos de testemunhas, registros de compras, hospedagens e outras pistas. Porém, o doutor passa mais de 20 minutos respondendo “sem comentários”, exercendo seu direito ao silêncio.

Jose Haro/divulgação
David Tennant em 'Edgard, episódio britânico da série 'Criminal' (foto: Jose Haro/divulgação)

Quando a condenação parece óbvia, o médico resolve dar sua versão e causa uma reviravolta no caso, que conta com novos fatos apresentados pelos detetives, prendendo a atenção do espectador até o final. Não há cenas de ação, flagrantes ou flashbacks. Apenas fotos de perícia, vídeos de segurança e documentos.
 
Seja qual for o crime investigado, o clímax de Criminal ocorre nos planos fechados, valorizando expressões e trejeitos dos personagens, além da perspicácia e inteligência do time de detetives. Nem sempre o alvo da investigação é culpado. A série valoriza o lado humano dos agentes. Em algumas cenas breves, por trás do espelho falso da sala de interrogatório, eles revelam dores, opiniões, afinidade ou rivalidade em relação aos colegas.

Os 12 capítulos se dividem entre Inglaterra, Espanha, Alemanha e França – cada país tem sua própria equipe policial, mantida a cada trama, formada por atores e atrizes falando os respectivos idiomas. O elenco inclui nomes importantes do cinema e da teledramaturgia, como as espanholas Emma Suárez e Inma Cuesta e a francesa Nathalie Baye.

Os episódios abordam assassinatos, desaparecimentos, narcotráfico e até o caso de uma sobrevivente do ataque terrorista à boate Bataclan, em Paris, que estaria escondendo algo sobre a morte do namorado durante o atentado. Criminal foi criada por George Kay e Jim Field Smith.


CRIMINAL
• 12 episódios
• Netflix

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