Em Amor, morte e robôs, Netflix recorre a desenhos com pegada madura

Formato é visto como sucessor de Black mirror ao usar fantasia e humor como reflexão sobre a humanidade

por Estadão Conteúdo 06/05/2019 08:20
NETFLIX/DIVULGAÇÃO
(foto: NETFLIX/DIVULGAÇÃO)

Desde que teve os seus três primeiros episódios lançados em 2011, a série Black mirror vem deixando sua marca na cultura pop. Não só impressionou pelos roteiros pessimistas de Charlie Brooker como também ficou marcada pela forma como trata a relação entre pessoas e tecnologia – não é à toa que o termo “isso é muito Black mirror” se tornou costumeiro em conversas. Mas, até então, a impressão era de que a série era acerto único desse formato na Netflix, empresa que comprou os direitos da produção e que já lançou outros 16 episódios e um filme interativo. Mas uma série de animação lançada na última semana na plataforma de streaming atraiu a atenção e já é considerada por muitos como sucessora de Black mirror.

É Amor, morte e robôs, criada por Tim Miller, diretor de Deadpool, e produzida por David Fincher, de Garota exemplar. Com 18 episódios, de 13 minutos de duração, em média, a produção possui fórmula parecida com a de Brooker em Black mirror. São tramas independentes, focadas em reviravoltas, e que causam forte reflexão. A diferença é que o foco não está na tecnologia e em suas brutais consequências. O que Miller quis fazer, aparentemente, é uma costura criativa sobre os rumos da humanidade e no que ela pode, afinal, se tornar. Sempre usando, a partir disso, a fantasia, a ficção científica e um humor muito peculiar.

Há de tudo um pouco entre as 18 histórias. Um episódio usa uma máquina do tempo para matar Adolf Hitler de seis formas criativas. Em outro, há uma clara referência às redes sociais ao contar a história de uma sociedade regida por iogurtes. São várias as tramas de exploração espacial também. Na história Ajudinha, por exemplo, vê-se o desespero de uma astronauta que fica perdida sozinha no espaço – e que tem consequências bem mais graves do que Sandra Bullock em Gravidade.

No melhor episódio da temporada, Para além da fenda de Áquila, há um paradoxo sobre a nave que erra a rota e vai parar numa galáxia desconhecida.

Muitos dos episódios chocam, outros surpreendem, alguns fazem rir. E ainda que seja uma antologia, com tramas sem ligação, a não ser pelo tema, tudo converge para um mesmo sentido. A animação utilizada também ajuda na imersão das histórias. Elas variam para cada tipo de produção. Algumas possuem aspecto realista, outras, de cartoon, algumas poucas apresentam traço contemporâneo, como no ótimo episódio Zima Blue. Há coerência até na única história com atores reais, Era do Gelo. Com Topher Grace e Mary Elizabeth Winstead, a trama faz um resumo genial sobre a sociedade terrestre, encontrada no congelador dos protagonistas.

CENAS REALISTAS E, apesar de ser animação, e de ter alguns episódios com traço bem infantil, nenhuma das histórias é destinada para crianças. Grande parte dos episódios aposta em cenas realistas de sexo, violência ou até numa mistura dos dois. Episódios aparentemente delicados, como o hilário Três robôs, acaba recaindo em temas adultos e complexos demais para os pequenos.

Amor, morte e robôs ainda não tem continuação assegurada pela Netflix ou mais detalhes sobre como vai seguir com a franquia. Mas a ver pelo sucesso que está fazendo nas redes sociais, e pelo potencial de produzir longas ou produções maiores a partir de cada um dos curtas, há chances de seguir carreira, como fez Black mirror. O bom roteiro está ali, assim como o capricho na forma que as histórias são entregues ao público. Agora, só falta o termo “isso é muito amor, morte e robôs” entrar nas rodas de conversa mundo afora. Material para isso tem de sobra.

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