House of cards abandona trama política em favor do mistério da morte de Frank Underwood

Mesmo sem Kevin Spacey, afastado após acusação de assédio sexual nos anos 1980, série faz sua sexta temporada girar em torno do personagem

por AFP 05/11/2018 08:20

 

 

David Giesbrecht/Netflix
(foto: David Giesbrecht/Netflix)

A sexta e última temporada de House of cards, disponibilizada pela Netflix na sexta-feira passada (2) decepcionou a maioria dos críticos. Havia grande expectativa em torno da solução que seria adotada pelos criadores desse que foi o primeiro grande sucesso mundial da Netflix para se livrar de seu protagonista – o antes indispensável Frank Underwood (Kevin Spacey).


No fim de 2017, Spacey, de 58 anos, foi acusado de assediar e agredir dois jovens atores menores de idade nos anos 1980. Spacey nega as acusações, mas aproveitou a ocasião para divulgar publicamente sua homossexualidade. O fato de o ator ter tratado do assunto apenas nessas condições provocou desagrado em grande parte da comunidade de Hollywood, e ele recebeu também acusações de má conduta no set da série.


A Netflix interrompeu as gravações de House of cards em outubro de 2017, logo após as revelações, e dispensou Spacey. Sem saber que o personagem principal, Frank Underwood, teria que abandonar a trama, os autores da série facilitaram a tarefa no fim da quinta temporada, quando colocaram Claire (Robin Wright), esposa do inescrupuloso presidente, para sucedê-lo.
No início da sexta temporada, é possível ver que Frank Underwood morreu enquanto dormia, dias depois da posse de Claire. E, de agora em diante, ela tentará dar uma identidade à sua presidência, em um contexto de grande hostilidade. Na verdade, Claire não conta com aliados nem dentro nem fora da Casa Branca.

MISTÉRIO Mas o aspecto que frustrou a maioria dos críticos é o fato de House of cards ter abandonado seu DNA de trama política e levado esta sexta temporada para a direção do mistério em torno da morte de Frank. Além da mudança de tom, ficou claro também que, mesmo ausente, Kevin Spacey continuou dominando a narrativa, o que foi considerada uma solução débil pelos que aguardavam o grande momento de Robin Wright com sua Claire Underwood assumindo de vez o primeiro plano.


É fato, porém, que para uma série concebida como um dueto reinventar-se na forma de um protagonista solo não seria tarefa fácil. Um recurso utilizado pelos autores e certamente influenciado pela emergência dos movimentos #Time’sUp e #MeToo é a abertura de mais espaço para personagens femininas, notadamente nas personagens de Annette Shepherd (Diane Lane) e Jane Davis (Patricia Clarkson). “Existem papéis realmente importantes para as mulheres este ano” em House of cards, disse Clarkson à revista People. Ainda como uma sinalização de sintonia com as demandas atuais, Robin Wright dirigiu o último episódio da série.


Para a atriz, essa escolha envia uma mensagem às elites políticas, as reais. Nos Estados Unidos, as mulheres representam 51% da população, mas “apenas 20% do Congresso”, observa. “Nosso governo e nosso Congresso devem refletir sobre isso mais profundamente.”


Embora a Netflix não divulgue números de audiência, é consenso que House of cards foi seu primeiro sucesso massivo. Na Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama chegou a participar de uma paródia da série num encontro anual com correspondentes da Casa Branca. A produção também deu à plataforma de streaming seus primeiros prêmios no universo da TV – foram sete Emmys e dois Globos de Ouro. No entanto,  House of cards começou a dar sinais de esgotamento há três anos, quando não venceu nenhum prêmio importante. (AFP)

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