Conheça os bastidores da série 'Onde nascem os fortes', que estreia nesta segunda-feira

Gravada na Paraíba, história se inspira na tenacidade do sertanejo para contar uma história de paixão, violência e fé. O mineiro José Luiz Villamarim dirige a supersérie

Ana Clara Brant 22/04/2018 09:00

 

 Estevam Avellar/divulgação
No Cariri, o líder religioso Samir (Irandhir Santos) acolhe pessoas em busca de paz (foto: Estevam Avellar/divulgação)

Cabaceiras e Boa Vista (PB) – Cariri significa calado e silencioso, em tupi-guarani. Pode ter sido coincidência, mas o sertão do Cariri paraibano é o cenário da nova supersérie da TV Globo, Onde nascem os fortes, que estreia amanhã, depois de O outro lado do paraíso. “Se você ficar quieto e fizer um minuto de silêncio, vai entender o que é sertão. Aqui você escuta a si mesmo. Como sou muito fã do silêncio e acho que o mundo de hoje está cada vez mais barulhento, a gente vem para o sertão”, afirma José Luiz Villamarim, diretor artístico da atração.



Desde outubro do ano passado, ele, o elenco e a equipe técnica passaram a “morar” na região, que não deixa de ser personagem da trama. “O sertão é imagético, mítico, está presente o tempo inteiro. É uma paisagem muito brasileira, única, e ajuda a contar a história. O que a gente tenta fazer aqui é mostrar o sertão de agora, contemporâneo. O sertão onde a globalização chega, mas também mostrando o arcaico, que está muito presente”, explica o diretor mineiro, radicado no Rio de Janeiro desde 1992.

Escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, a trama de Onde nascem os fortes se desenvolve a partir do sumiço do aventureiro Nonato (Marco Pigossi) depois de uma briga com o todo-poderoso Pedro Gouveia (Alexandre Nero). Gêmea do rapaz, Maria (Alice Wegmann), filha da engenheira química Cássia (Patricia Pillar), acredita que Pedro, pai de Hermano (Gabriel Leone) – por quem ela se apaixonou –, é responsável pelo suposto crime. Muitos conflitos movimentam os 53 episódios. Na fictícia cidade de Sertão, a força vale muito mais do que a lei.


Quando George Moura começou a escrever o roteiro, tinha em mente Os sertões, romance de Euclides da Cunha, e a icônica frase “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. “A ideia central é que o sertanejo tem que viver e sobreviver nessa situação de adversidade, seja do ponto de vista físico, da ausência da chuva ou porque o Estado não chega. Prevalece a lei do mais forte, ou seja, é necessário ser forte para sobreviver às adversidades”, explica Moura.

Muitas vezes, a força se manifesta de forma explícita – por meio do poderoso Pedro, dono da maior fábrica de bentonita (tipo de argila) da cidade –, mas também pode se revelar silenciosamente. “Ramirinho (Jesuíta Barbosa) é o melhor exemplo nesse sentido. Ele tem pai juiz, papel do Fábio Assunção, que deseja que o filho seja advogado ou empresário. No entanto, o rapaz se mantém íntegro em seu silêncio, numa vida dupla (ele se traveste de Shakira do Sertão na boate), sem que o pai saiba. É esse tipo de força que os personagens carregam”, observa.


TERRA, CÉU E CORAÇÃO

A trama é regida por três forças motrizes: terra, céu e coração – personificados, respectivamente, por Pedro Gouveia, Samir (Irandhir Santos) e Maria. O personagem de Nero é um empresário apaixonado pela terra, que lhe deu fortuna. Casado com Rosinete (Debora Bloch) e pai de dois filhos, Aurora (Lara Tremouroux) e Hermano (Gabriel Leone), o coronel contemporâneo é antenado com o mundo. “Esse cara vai jantar em Paris, é estudado, sabe escolher um bom vinho. Representa o poder, mas, ao mesmo tempo, é muito querido na cidade e ligado à família, sobretudo à filha, que tem lúpus”, adianta Moura.

Estevam Avellar/divulgação
Alexandre Nero intepreta Pedro Gouveia, o coronel contemporâneo (foto: Estevam Avellar/divulgação)


Alexandre Nero se impressionou com a maneira como o sertanejo paraibano encara a vida. “Aí você começa a entender de onde vêm os fortes. Não que os demais brasileiros sejam fracos, mas aqui tem algo diferente. Praticamente todos passaram fome e sede. Isso acontece nas grandes cidades, mas em locais específicos. No sertão, é geral. Mesmo assim, as pessoas não desistem. Elas têm gana pela vida”, ressalta.

Maria (Alice Wegmann) é o coração em movimento. Impulsiva e determinada, a menina do Recife tem a vida transformada quando o irmão desaparece. “A ligação deles é muito forte. Nasceram juntos, cresceram juntos e de repente há essa quebra. Ela quer preencher o vazio, não sabe o que ocorreu com ele. Vira uma espécie de Maria Bonita moderna, cangaceira contemporânea que busca justiça com seu próprio bando”, revela.

A atriz, de 22 anos, é uma das apostas de Onde nascem os fortes, o oitavo trabalho dela na emissora. “Quando cheguei aqui na Paraíba e vi a grandeza deste lugar, senti o vento e o silêncio. Tudo mexeu comigo. É muito diferente, intenso. Maria é a personagem com quem mais me conectei até hoje”, revela Alice.



Samir (Irandhir Santos) personifica o céu. Líder religioso, comanda Lajedo dos Anjos, comunidade que recebe pessoas em busca de abrigo e paz espiritual. “Ele acolhe as pessoas, as energias, e tem um mistério. Vai para o Lajedo dos Anjos e nunca mais volta para a cidade. Samir acaba se envolvendo com o sumiço do Nonato, é um personagem muito rico”, diz Irandhir.

Um dos atores mais aclamados do país, José Dumont, que interpreta o artesão Tião das Cacimbas, ficou emocionado em voltar às origens. “Sou do brejo paraibano. Devo muito a esta terra. É como se consagrasse o meu personagem a este lugar. A série tem um coração pulsando”, celebra.


MILAGRE DA CHUVA

Uma das locações de Onde nascem os fortes é o Lajedo de Pai Mateus, elevação rochosa em Cabaceiras, onde foi construída a impressionante tenda de Samir, com 50m de profundidade, 10m de largura e 8m de altura. “A energia daqui é incrível, com geografia única, meio de outro planeta. Era importante vir para este Brasil profundo. Tudo isso se refletiu em nosso trabalho”, comenta Villamarim.

Curiosamente, durante as filmagens, choveu torrencialmente na região, onde se registra o menor índice pluviométrico do Brasil. “Não chovia há sete anos. Mudou até a paisagem. Teve gente daqui achando que era chuva cenográfica”, brinca Antônio Carlos, funcionário da fábrica que serviu de cenário para a supersérie.

* A repórter viajou a convite da TV Globo


Duas perguntas para George Moura - autor da série


João Miguel Jr./divulgação
(foto: João Miguel Jr./divulgação)
Onde nascem os fortes entra no lugar do BBB e enfrenta a concorrência da Netflix e outras plataformas. Isso é um desafio?
A gente que faz TV aberta sempre tem o desejo de alcançar o maior número de pessoas. Quando você pensa que a TV Globo, durante 24 horas, tem 100 milhões de pessoas sintonizadas, é uma responsabilidade enorme. O nosso desejo maior, além de comunicar com o maior número de pessoas, é contar uma história que leve emoção, entretenimento, fazendo com que o telespectador se sinta reconfortado de ver algo que mexe com os sentimentos dele. A rigor, a questão da audiência não nos pertence, pertence ao público, mas esperamos que a série tenha uma ótima repercussão, assim como as demais.

O canto da sereia, Amores roubados e O rebu, outras séries que você escreveu, são adaptações. Onde nascem os fortes é original. O processo de criação é muito diferente?

Adaptação é um pulo no trapézio com rede. Original é um pulo no trapézio sem rede. Quando você tem uma história que já existe, tem um norte. Quando você larga como a gente largou, de uma história original, tem que estabelecer esse norte. E aí precisa de mais lenha para queimar. Sobretudo, porque esse é o nosso trabalho mais longo: 53 capítulos equivalem a quatro temporadas e meia de um seriado norte-americano. Normalmente, você leva cinco anos para fazer. Mas foi feito aqui de forma mais condensada, e com a característica de poucos personagens conduzindo a história.

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