'Onde nascem os fortes' ambienta no Nordeste uma história movida a paixão, ódio e perdão

A produção é do trio George Moura (roteirista), José Luiz Villamarim (diretor) e Walter Carvalho (fotógrafo)

24/12/2017 07:00

Estevam Avellar/Divulgação
Maria (Alice Wegmann) e Hermano (Gabriel Leone) interpretam gêmeos que viajam para a cidade onde a mãe nasceu, à procura de trilhas de bicicleta. Super-série tem estreia prevista para abril (foto: Estevam Avellar/Divulgação )

Cariri Paraibano
– Pelas estradas de terra que ligam as cidades da região chamada de Cariri Paraibano, no interior do Estado, circulam democraticamente carros, cavalos, motos. A trilha sonora regional é cortejada, o que não impede que os sucessos radiofônicos sejam ouvidos por todo canto. É esse o Nordeste contemporâneo que o autor George Moura desejava não só como cenário, mas que também se tornasse elemento fundamental de sua super-série Onde nascem os fortes, que tem previsão de estreia para abril, na Globo.

O sertão é um personagem mesmo, assinala o diretor artístico José Luiz Villamarim. “Tudo está nesse lugar: os silêncios, o tempo, o calor, a poeira, a solidão. Para contar essa história, a gente tinha de vir para cá, tinha que ficar aqui. Esse projeto parte desse pressuposto”, diz ele, que está há três meses imerso com sua equipe no local.

E, para Villamarim, conhecer o Lajedo de Pai Mateus, uma impressionante elevação rochosa situada em Cabaceiras – que destoa de todo aquele cenário de terra e plantas secas do entorno –  foi decisivo para ele entender o personagem Samir (Irandhir Santos), uma espécie de líder religioso da cidade fictícia Sertão que carrega a essência do sincretismo.

Em Onde nascem os fortes, Moura, Villamarim e o diretor de fotografia Walter Carvalho voltam a trabalhar juntos. Essa parceria já rendeu importantes trabalhos, em O canto da sereia, Amores roubados e O rebu, e, pelas cenas gravadas às quais a reportagem assistiu, a super-série promete ser outra produção de primeira linha com a assinatura do trio. “Queria contar uma história de paixões. A paixão cria o amor, mas cria também, às vezes, o ódio, e, diante do ódio, só tem uma saída, que é o perdão. Então, temos histórias de paixões, que criam o amor, que criam ódio e nos empurram para o perdão”, afirma Moura, que escreve a super-série com Sergio Goldenberg.
Estevam Avellar/Divulgação
Patricia Pillar interpreta a mãe dos protagonistas, que se vê obrigada a voltar à sua cidade natal (foto: Estevam Avellar/Divulgação)

Na trama, os irmãos gêmeos Maria (Alice Wegmann) e Nonato (Marco Pigossi) viajam para Sertão, onde sua mãe, a engenheira química Cássia (Patricia Pillar), nasceu, tendo saído de lá para estudar no Recife. Contra a vontade dela, os dois partem para a cidade à procura de novas trilhas de bicicleta. Ao chegarem lá, suas vidas vão ser abaladas. Maria se apaixona por Hermano (Gabriel Leone), filho de Rosinete (Debora Bloch) e Pedro Gouveia (Alexandre Nero), dono da maior fábrica de bentonita da região – e uma atualização da velha figura do coronel. Já Nonato, após flertar com a amante de Pedro, Joana (Maeve Jinkings), some misteriosamente.

É a partir desse ponto que se inicia a trajetória de todos os personagens, que, de uma maneira ou de outra, vão ser afetados por esse mistério. Cássia se vê obrigada a voltar a Sertão para ajudar a filha na busca por Nonato. Por causa das circunstâncias que antecederam o sumiço do rapaz, Pedro acaba se tornando o suspeito número 1 aos olhos de Maria. Mas ela mexe com a pessoa errada.

Pedro também é o homem que ajuda Cássia quando ela chega à cidade e, mais adiante, insinua-se um triângulo amoroso entre eles e o juiz Ramiro (Fabio Assunção), o homem que se mostra prestativo na busca de Cássia pelo filho desaparecido, mas tem interesses escusos nessa história. “Ele é o poder da cidade, é o cara da lei: não as leis maiores, mas o poder de arquivar um processo, manipular uma prova”, descreve Fabio Assunção. A super-série marca a volta do ator ao drama, após várias comédias românticas. (Estadão Conteúdo)

Quatro perguntas para...

Patrícia Pillar
atriz


Sua personagem, Cássia, retorna à cidade natal e tem de enfrentar os fantasmas do passado. Qual impacto dessa volta?
Como ela é forçada a essa situação, é uma coisa para a qual não está preparada. Na verdade, ela não queria. Teve motivos para ir embora. Ao voltar, ela se depara com tudo isso, vai encontrando o que não está resolvido e evita.

É mais interessante fazer essas produções mais curtas?
Acho que a linguagem da novela tem seu charme. Fiz novelas que amei, a última que fiz foi Lado a lado, que era linda. Fiz A favorita, foi uma delícia de personagem, era um texto radical. A linguagem da novela é também interessante, mas tem, porque é inerente a ela, uma repetição. Essas séries são mais suculentas nesse sentido.


Há essa onda de denúncias de assédio, agressão. As redes sociais estão ajudando nisso, é uma tomada de consciência das mulheres ou as duas coisas?
Acho que as duas coisas juntas. As redes sociais têm uma coisa do coletivo que é muito interessante, que é você se sentir pertencente, você não está sozinha. Se você foi estuprada, sofreu uma violência doméstica, tem algum lugar onde pode se sentir acolhida.

Você já foi atacada nas redes?
Já, estou processando seis pessoas, o último teve um pedido de desculpas. Essa foi por causa do impeachment da Dilma. Eu era contra o impeachment. Estou processando seis pessoas, porque elas passam dos limites, é um negócio inaceitável. Vou continuar falando o que penso, e quero ser respeitada por isso. Então, para isso, tem que ter esse trabalhinho pedagógico de processar.

Três perguntas para...

Fábio Assunção
ator


Como vocês chegaram a essa caracterização do personagem?
Logo no começo, o Zé (Villamarim) falou: deixa crescer a barba para depois a gente ver o que faz. Fui deixando, fui achando uma boa ideia, achei inusitado também o fato de estar muito grisalho Achei que isso ia dar um impacto, ia tirar do lugar da vaidade, ia colocar ele num lugar solitário, de sertão. Ao mesmo tempo, ele sendo juiz e tendo barba, dá um poder, uma secura, uma sobriedade. Não é um personagem que estou fazendo para que tenha o afeto do público. O público tem que sentir uma estranheza com esse cara, um certo medo.

Como foi sua reação ao ver os vídeos do episódio em Arcoverde, Pernambuco (em que o ator aparece alterado e detido pela polícia), vazados na internet?
Não vi os vídeos, não quis assistir, mas as pessoas próximas me contaram. Fiquei muito chocado, muito abalado, porque acho que foi uma situação que poderia ter acontecido com qualquer pessoa. Foi uma situação de comemoração, a gente estava lançando um documentário que eu produzi, sobre samba de coco. Foi todo mundo da equipe confraternizar e, de repente, lá pelas 4h, 5h da manhã, acontece uma briga. Fiz minha parte que foi fazer um comunicado pedindo desculpas, porque não é isso que quero passar. Quando vejo noticiário de crime, violência, falo ‘porra, temos de mostrar um outro lado da vida’, e justamente o que parece que tem no vídeo é uma violência, é uma coisa descontrolada.

Sua família ficou exposta...

Conversei muito com meu filho, tenho um diálogo totalmente aberto com ele. A gente está aqui para aprender. O João sabe tudo da minha vida. Vai fazer 15 anos agora. Falar sobre a história, acho um pouco demais, porque não quero parecer que estou me vitimizando. Mas as pessoas próximas sabem da história.

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