Produtora e diretora deu a volta ao mundo para rodar programas de TV e filmes

Entre as produções de Tatiana Issa está a série que mostra as últimas imagens de Gandhi clicadas na Índia por Cartier-Bresson

por Ana Clara Brant 08/10/2017 09:18

Producing Partners/Divulgação
Tatiana Issa durante filmagens no Oriente (foto: Producing Partners/Divulgação)

A produtora e diretora Tatiana Issa, de 43 anos, nasceu em São Paulo, mas vive há 16 em Nova York. O Brasil virou sinônimo de trabalho para ela, pois, na maioria das vezes em que volta ao país, é por conta de compromissos profissionais. “Os amigos ficam bravos, porque não consigo me encontrar com ninguém. Os dias são bem contadinhos: venho pra gravar algo, participar de reuniões. Não dá nem tempo de visitar a família. De vez em quando, aparece alguém pra me ver durante as gravações”, revela.

Desde quarta-feira, Tatiana está no Brasil. Veio participar do Festival do Rio, que exibirá a série Geografia da arte, dirigida por ela. Em cartaz no canal pago Arte 1, o projeto documental aborda a relação de nomes de destaque das artes plásticas, moda e dança com os locais que se tornaram referência para o trabalho deles.

Dois episódios inéditos de Geografia... integram a agenda do festival carioca de cinema. Em Ragnar Kjartansson + Islândia, um dos autores mais importantes da arte contemporânea prepara retrospectiva no Museu de Arte de Reykjavík, capital islandesa, explorando sua conexão com a cultura do país. Henri Cartier-Bresson Índia mostra como o fotógrafo conheceu Mahatma Gandhi, em 1948. O francês registrou a última aparição do líder indiano, na noite anterior a seu assassinato. Aquelas imagens fizeram de Cartier-Bresson um fotojornalista internacionalmente famoso.

Henri Cartier-Bresson/Producing Partners/divulgação
Cena de Henri Cartier-Bresson Índia, episódio do projeto documental Geografia da arte uma das atrações do Festival do Rio (foto: Henri Cartier-Bresson/Producing Partners/divulgação)

“É uma série muito bacana, e o episódio da Índia foi especial. Tenho conhecido lugares bem interessantes por causa do meu trabalho. Logo depois do Rio de Janeiro, embarco para a Tanzânia, onde vou gravar episódios do Pedro pelo mundo”, diz Tatiana. Ela se refere ao programa do canal a cabo GNT apresentado pelo jornalista Pedro Andrade. Trata-se de apenas uma das atrações do catálogo da Producing Partners. Especializada em criação, desenvolvimento e produção de conteúdo para TV e cinema, a empresa é comandada por Tatiana e pelo diretor e jornalista Guto Barra.

PAIXÃO


Boa parte das produções foca em viagens – aliás, uma das paixões de Tatiana. “Sempre quis fazer programas assim. Viajar é a coisa que mais amo, não há dinheiro mais bem gasto. Sou zero consumista, não gasto com bolsa nem sapato de marca. Nada contra quem gasta, mas meu dinheiro é pra viajar. Trabalhando, a gente acaba unindo o útil ao agradável”, diz.

Além de Pedro pelo mundo, a Producing assina Anota aí, com Titi Müller, programa do Multishow; Destino con sabor, com a chef Grace Ramirez, americana descendente de venezuelanos, exibido pelo canal Food Network, e Além da conta, com Ingrid Guimarães, no GNT. A nova temporada dessa última atração, que deve estrear em janeiro, confere o comportamento do consumidor brasileiro.

Tatiana nem sabe precisar quantos países já conheceu. “Por ano, são no mínimo 30. Acontece de eu ir a muitos lugares exóticos, como Sri Lanka, Tailândia, China, Malta e Botswana. Aí você calcula: vários programas já estão na quarta, quinta temporada. É muita viagem (risos). O avião acaba sendo minha segunda casa. Quando estou de férias, viajo também, mas pra descansar com a minha filha Chloe, de 11 anos”, revela.

Imovision/divulgação
Cena do premiado documentário Dzi Croquettes, lançado há oito anos (foto: Imovision/divulgação)

Dzi, o divisor de águas

A guinada na carreira de Tatiana Issa se deve a Dzi Croquettes (2009). Produzido em parceria com Raphael Alvarez, o longa resgata a trajetória do emblemático e irreverente grupo de teatro carioca, cujas performances marcadas pela liberdade sexual fizeram história na contracultura, encantaram Paris e desafiaram a censura imposta pelo governo militar nos anos 1970.

Exímios dançarinos e atores talentosos, os integrantes do carioca Dzi foram pioneiros do movimento LGBT, além de referência para Ney Matogrosso, Claudia Raia e Miguel Falabella, entre outros artistas.

Dzi Croquettes é considerado o documentário mais premiado do Brasil. “Nem sei precisar quantas premiações, mas são muitas. Ali foi um divisor de águas – narra não só a história deles, como um pouco da minha também”, diz. Tatiana é filha do cenógrafo Américo Issa, integrante da trupe, que morreu em 2001.

Desde criança, ela queria trabalhar com direção. “Ficava observando os diretores, as marcações. Pequenininha,  lembro-me de já querer seguir aquele caminho. Sempre tive muito mais energia de diretora do que de atriz”, conta.

Agora Tatiana se prepara, ao lado de Guto Barra e de Raphael Alvarez, para dirigir Viver do riso, série documental do GNT em que Ingrid Guimarães falará da comédia no Brasil.

SILVERO

Outro projeto dela é o documentário BR-Trans, sobre o espetáculo homônimo protagonizado pelo ator Silvero Pereira, que interpreta o motorista Nonato e o travesti Elis Miranda em A força do querer, novela da TV Globo.

Silvero narra histórias de vida, interpreta canções e dá voz a pessoas que a sociedade teima em manter invisíveis. Sem abrir mão do humor e da poesia, a peça trabalha pela inclusão, rompendo estereótipos e provocando reflexões sobre preconceito, gênero e sexualidade.

“Silvero costura o documentário, é o narrador. Vamos falar não só da peça, mas contar histórias de travestis do Brasil inteiro. Somos o país que mais mata travestis, é surreal. O nosso longa segue a linha do Dzi.... É o mesmo universo, porém mostra uma realidade mais dura. A expectativa é de que ele estreie em 2018”, conclui.

Garota-Prodígio

TV Globo/Reprodução
(foto: TV Globo/Reprodução)

Tatiana Issa começou a atuar aos 7 anos. Aos 9, fez a primeira novela, Guerra dos sexos (1983). Aos 13, veio o primeiro filme: Jubiabá (1987), dirigido por Nelson Pereira dos Santos. “Fui emendando um trabalho no outro. Por isso, no começo da carreira não consegui me dedicar à direção”, explica. Vieram peças de teatro, além de novelas como O fim do mundo (1996), em que contracenou com Norton Nascimento (foto) e será reprisada em dezembro pelo Canal Viva. Tatiana trabalhou também na minissérie Hilda Furacão (1998). “Fui atriz por acaso, não me vejo atuando novamente. Nem pensar”, revela, aos risos. Aos 24 anos, ela posou para a capa da revista Playboy.

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