Nova série da Netflix, 'The OA' é exemplo de liberdade de formato

Narrativas longas, ideias mirabolantes e revelações sobre a trama dadas em migalhas compõem a série de Brit Marling e Zal Batmanglij estrelada por Brit Marling

por Agência Estado 29/12/2016 09:36

Netflix/Divulgação
'The OA' prova que a narrativa é mais importante do que o formato. (foto: Netflix/Divulgação)

TV sob demanda, por streaming, mudou as regras do jogo. Definitivamente – ou até que seja criada outra forma de consumir o conteúdo que antes ficava preso naquele aparelho de tubo ou, mais recentemente, de tela plana. E, para se jogar, é preciso ter um punhado de boas ideias e encontrar seu público.

A Netflix sacou, antes de todo mundo, que além de oferecer um catálogo de filmes e séries respeitável e vasto, é preciso produzir conteúdo próprio de qualidade. Frank Underwood, o ardiloso político brilhantemente interpretado por Kevin Spacey, da série original House of cards, por exemplo, é hoje uma figura tão popular quanto personagens de séries de sucesso da TV aberta ou por assinatura. Até as premiações dedicadas à TV já se renderam ao streaming – e a Amazon Prime Video, com produções ótimas, tais quais Mozart in the jungle e Transparent, tem conseguido indicações e até algumas estatuetas.

E somente em um cenário como este, o atual, que uma produção como The OA tem a chance de existir – e impressionar. Narrativas longas, ideias mirabolantes e revelações sobre a trama dadas em migalhas, pouco a pouco, funcionam em um mundo interconectado. A produção da Netflix, disponibilizada neste mês no serviço de streaming, não precisou fazer alarde. Chegou de mansinho, quase escondida no catálogo. Até o pouco burburinho sobre o lançamento da produção original, algo que a Netflix não costuma fazer, chamou a atenção.

BURBURINHO

E, nesses tempos em que assistir a uma série de cabo a rabo é comum – basta clicar no ícone ''próximo episódio'', The OA foi engolida e expelida para as redes sociais. Uma vez dentro desse microcosmo na web, o burburinho começa.

A criação da dupla Brit Marling e Zal Batmanglij, que já assinou trabalhos elogiados no cinema independente, como Sound of my voice (no Brasil toscamente chamado de A seita misteriosa), é esperta para fisgar o novo espectador de TV. Em séries agora de tiro curto, com possibilidade de assistir ao fim se houver tempo para ficar oito horas diante da TV, é preciso fisgar a atenção no episódio de estreia. Brit e Batmanglij gostam de colocar as mãos na massa.

Além de ambos assinarem os roteiros, ela estrela a série como Prairie Johnson, garota que retorna depois de sete anos desaparecida. Batmanglij dirige todos os oito episódios de The OA, cuja duração não é fixa. Enquanto a estreia tem longos 71 minutos, o sexto episódio tem apenas 31 minutos.

The OA é fruto disso. A narrativa é mais importante do que formatos. Há liberdade para isso. Os créditos iniciais da série, por exemplo, só são vistos ao final do primeiro episódio, como se aqueles quase 70 minutos de trama vistos ali fossem um prólogo para o que se assistirá a seguir. The OA instiga – como ela foi planejada para fazer – e, por vezes, não entrega aquilo que prometeu em termos de profundidade de trama. Fruto de um novo formato, a série se beneficia dele, mas a história que trata do retorno de Prairie, experiências de quase morte e flashbacks na antiga União Soviética, deveria se sustentar por mais. 

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