O sistema imunológico e a infecção pela COVID-19

Novo estudo examinou 113 pacientes e analisou as várias respostas imunológicas que exibiram durante a internação, desde a admissão até a alta ou óbito

SILVIO AVILA / AFP
(foto: SILVIO AVILA / AFP)

As diferentes respostas do sistema imunológico de pacientes com COVID-19 podem ajudar a prever quem terá consequências leves, moderadas ou graves da doença, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores de Yale publicado em 27 de julho na revista Nature.

Os resultados podem ajudar a identificar indivíduos com alto risco de doença grave no início de sua hospitalização e sugerir medicamentos para tratar COVID-19.

Os pesquisadores examinaram 113 pacientes internados no Hospital Yale New Haven e analisaram as várias respostas do sistema imunológico que exibiram durante a internação, desde a admissão até a alta ou óbito.

Eles descobriram que todos os pacientes compartilhavam uma "assinatura" comum de COVID-19 na atividade do sistema imunológico no início do curso da doença. Mas aqueles que experimentaram apenas sintomas moderados exibiram respostas do sistema imunológico e carga viral diminuídas ao longo do tempo. Os pacientes que desenvolveram casos graves da doença não mostraram diminuição na carga viral ou na reação do sistema imunológico, e muitos dos sinais imunológicos nesses pacientes se aceleraram.

Mesmo no início do tratamento os pesquisadores encontraram indicadores que previam quais pacientes estavam em maior risco de desenvolver formas graves da doença.

Já sabemos que o sistema imunológico desencadeia uma "tempestade de citocinas" maciça e prejudicial em casos graves de COVID-19. Mas os elementos específicos da resposta do sistema imunológico mais responsáveis pelos danos eram desconhecidos.
 
A análise de Yale encontrou algumas ligações intrigantes para evoluções piores.
 
Curiosamente, disseram os pesquisadores, um fator de risco era a presença de interferon alfa, uma citocina normalmente recrutada para combater patógenos virais, como o vírus da gripe. No entanto, os pacientes COVID-19 com altos níveis de interferon alfa tiveram pior evolução clínica do que aqueles com níveis baixos.

Este vírus simplesmente não parece se importar com o interferon alfa!
Outro marcador precoce de resultados ruins é a ativação do “inflamassoma”, um complexo de proteínas que detecta patógenos e desencadeia uma resposta inflamatória à infecção. A ativação do inflamassoma foi associada a resultados ruins e morte em vários pacientes.

Os pesquisadores descobriram que as pessoas que respondem melhor à infecção tendem a expressar altos níveis de fatores de crescimento, um tipo de citocina que repara os danos nos tecidos do revestimento dos vasos sanguíneos e pulmões.

Em conjunto, os dados podem ajudar a prever pacientes com alto risco de resultados ruins, disseram os autores.
 
Esses resultados corroboram a conduta médica em utilizar um painel laboratorial para identificar precocemente o estado inflamatório dos pacientes ainda suspeitos ou diagnosticados com o COVID-19. Esse painel laboratorial é também utilizado para o acompanhamento e monitorização da evolução clínica.

Pacientes que demonstram intensa resposta inflamatória se beneficiam do uso precoce de medicamentos antiinflamatórios que podem até mesmo evitar a progressão da doença para um comprometimento sistêmico grave e de difícil reversão.
 
Além do quadro inflamatório, fenômenos de trombose são frequentes devido a um estado de hipercoagulabilidade provocado pelo vírus e isso também deve ser monitorado para uma abordagem medicamentosa precoce.
 
Tromboembolismo pulmonar, septicemia e insuficiência renal aguda são complicadores que se somam ao dano pulmonar agudo como causas de prognóstico sombrio nos pacientes criticamente enfermos.
 
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Dr.Silvio Musman
Médico especialista em pneumologia, medicina do exercício e do sono.