Já se sentiu anestesiado com dificuldades em ter prazer?

Anedonia é a perda da satisfação e interesse em realizar as atividades do dia a dia

14/12/2022 10:27
Gustavo Safe

Geralt/Pixabay
(foto: Geralt/Pixabay)

Estamos chegando ao final de mais um ano e uma análise retrospectiva se faz necessária para que possamos seguir em frente na busca do equilíbrio e do prazer.

Percebo que esse ano de 2022 teve de tudo um pouco. Ômicron, novo normal pós COVID, crise nos EUA e Europa agravada pela guerra na Ucrânia, incertezas no Brasil que viveu e vive um período muito conturbado (inflação, eleição...), sem esquecer dos problemas corriqueiros da vida.

No dicionário o prazer é conceituado como uma sensação ou emoção agradável, ligada à satisfação de uma vontade, uma necessidade, do exercício harmonioso das atividades vitais.

Ao longo desse ano, algumas queixas ficaram mais frequentes na minha clínica, como o cansaço excessivo, alterações no sono, perda de concentração, alterações na libido e perda de interesse pela vida.

Inicialmente pensamos em quadros de depressão e ansiedade decorrentes do estresse ocorrido, apesar da estranheza de ver que a grande maioria dessas pacientes encontrava-se bem controladas e acompanhadas por bons profissionais da área.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a anedonia atinge cerca de 70% dos pacientes com depressão.

Anedonia é a perda da satisfação e interesse em realizar as atividades do dia a dia, como tomar um café com os amigos, passear com o cachorro, levar os filhos num passeio diferente, fazer um exercício físico, que antes eram consideradas agradáveis.

Importante não confundir com a apatia, que é a diminuição da excitabilidade emocional.

Por se tratar de um sintoma e não um transtorno, pode ser tratada e curada.

Na maioria dos casos, o tratamento tem como foco a doença de base, como a depressão ou desordem psiquiátrica.

Apesar da doença ser muito comum em pacientes com depressão, nem sempre uma pessoa deprimida apresentará os sintomas.

Ela pode acometer usuários de drogas e álcool, sobretudo durante as crises de abstinência, e também quem sofre de esquizofrenia, neurastenia, mal de Parkinson, câncer, estresse pós-traumático, distúrbios alimentares e transtornos de ansiedade.

O uso de medicamentos, como antidepressivos e antipsicóticos, usados para o tratamento da depressão, também podem ser uma causa.

No Brasil, a anedonia afeta mais de 11,5 milhões de pessoas (ou 5,8% da população). Só na capital paulista, estima-se que 18% dos moradores já tiveram um episódio, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O diagnóstico deve ser realizado por médicos e especialistas, que utilizam escalas de avaliação da anedonia, como a de Fawcet (escala de prazer/desprazer) e a Escala de Avaliação dos Sintomas Negativos (Andreasen, 1981). É comum em escalas de depressão (Beck) conterem itens sobre o tema.

Os principais sintomas da anedonia são a perda de interesse por atividades que se realizava anteriormente, dificuldades de concentração, alterações do sono, podendo haver insônia ou sono excessivo e a diminuição ou perda da libido.

A anedonia pode ser classificada em dois tipos: social ou física.

No primeiro, o paciente tem desinteresse no contato com a sociedade ou em realizar atividades com outras pessoas.

Já no segundo, a pessoa apresenta uma indiferença em relação a si mesmo com uma incapacidade de sentir prazer no toque, contato íntimo ou em comer.

O indivíduo parece estar emocionalmente vazio, anestesiado, congelado, sem sofrer alterações de humor, independentemente do que aconteça ao seu redor.

A anedonia está associada com baixos níveis de monoaminas no sistema nervoso, como a serotonina, dopamina, adrenalina e noradrenalina, mas principalmente ocorre uma disfunção Dopaminérgica e Noradrenérgica.

O tratamento dependerá da intensidade do sintoma e a associação com outros possíveis sintomas de depressão.

Se a anedonia for predominante, uma opção de tratamento farmacoterápico são os inibidores seletivos da recaptação de dopamina e noradrenalina (IRND), como bupropiona e mirtazapina.

Tanto a terapia cognitivo-comportamental ou terapia analítico-comportamental podem ser auxiliares do tratamento medicamentoso.

Sem a discriminação de reforço positivo é esperado que vários comportamentos saudáveis entrem em extinção e o indivíduo passe a ser controlado principalmente por reforço negativo (evitar sofrimento) e por punição.

Uma pessoa com anedonia em geral dificilmente adere ao processo terapêutico, por isso é importante a participação da rede social (família e amigos).

Ainda, é importante se preocupar com a rotina do paciente, estimulando uma rotina saudável, incluindo boa alimentação, atividade física constante, sono regular e momentos de lazer.

Técnicas de relaxamento e respiração (yoga, mindfulness), acupuntura e massagens também são alternativas recomendadas, pois ajudam a acalmar a mente, diminuindo os pensamentos negativos. Além disso, dão mais disposição e proporcionam a melhora da saúde como um todo.

O acompanhamento médico deve ser feito regularmente, de forma a identificar possíveis efeitos colaterais causados pelos medicamentos e de forma a ajustar a dose, para que se obtenham melhores resultados em relação à anedonia.

*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, câncer, dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.


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