Termografia, uma tecnologia muito além da visão humana

A termografia ajuda a enxergar situações clínicas ou doenças que nossos olhos não conseguem ver

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A termografia tem sido importante no processo de avaliação e documentação das patologias de tecidos moles, incluindo nervos periféricos, raízes nervosas, tendões, músculos e vasos sanguíneos, assim como disfunções articulares e ósseas (foto: Reprodução/Pixabay)
Hipocrates (440 anos antes de Cristo) usou a temperatura do corpo para fazer um diagnóstico ao aplicar lama em um paciente e definir que as áreas secas da pele estavam doentes.

A pele é um orgão muito importante no controle da temperatura corporal que é regulada pelo sistema nervosa central e sistema nervosa autônomo.

Em 1800, na Inglaterra, o cientista Herschel percebeu que a luz branca era formada por várias cores, como as do arco íris, mas os olhos humanos não são capazes de ver todas as faixas do espectro.

Uma delas é a radiação infravermelha que é uma radiação não ionizante na porção invisível do espectro eletromagnético que está adjacente aos
comprimentos de ondas longos, ou final vermelho do espectro da luz visível.

Mais de um século se passou para o homem conseguir enxergá-la através da termografia que vem do grego θερμ%u03CC (thermo), significando calor; e γραφ%u03AFα (grafia), que significa escrita.

Trata se de uma técnica de registro gráfico das temperaturas por câmera de alto desempenho de diversos pontos do corpo por detecção da radiação infravermelha por ele emitido.

Ela está presente na indústria alimentícia, nos satélites, no controle de armazenamento de gases e combustíveis, em portos e aeroportos evitando entrada de doenças, contrabandos e terrorismo e na área da saúde onde ela começa a despontar.

Recentemente na pandemia da Covid-19 convivemos com o seu uso em alguns lugares (shoppings, aeroportos,...) onde a temperatura corporal das pessoas era avaliada em tempo real possibilitando acesso ou não.

A termografia está presente na medicina desde 1957 quando foi utilizada por R Lawson na avaliação da diferença de temperatura na pele de uma mama com tecido normal e uma com câncer.

Com a evolução da tecnologia, em 1980, para medir melhor as mudanças de calor, softwares foram adicionados às cameras que hoje ficaram mais accessíveis.

Quando enfim começaram a ser usadas em pessoas, para fins diagnósticos, surgiu a necessidade de estabelecer diretrizes e protocolos para a interpretação das imagens.

Um dos principios básicos utilizado é a simetria existente no corpo humano.

O aparelho consegue detectar a radiação infravermelha emitida pelo corpo, entregando o resultado de uma fisiologia normal ou alterada.

A emissão de calor da superfície do corpo humano é um processo dinâmico que pode ser alterado em diversos estados patológicos, como na inflamação.

A inflamação é uma resposta natural do corpo que acontece quando o organismo se encontra frente a uma infecção por agentes como bactérias, vírus ou parasitas, veneno ou quando há alguma lesão por calor, radiação ou trauma.

O processo inflamatório leva o organismo a produzir cinco sinais clássicos: calor, rubor (vermelhidão), tumor (inchaço, edema), dor e perda da função.

Calor e rubor são causados pela dilatação dos vasos e pelo aumento de fluxo sanguíneo no local inflamado.

A análise termográfica abrange os sistemas vascular, nervoso e musculoesquelético, ajudando na avaliação de processos inflamatórios,
condições endócrinas, neurológicas e oncológicas.

O exame de termografia pode ser usado em todas as áreas da medicina como na neurologia, otorrinolaringologia, gastroenterologia, ortopedia, ginecologia, etc.

O principal objetivo desta tecnologia aplicada ao campo da medicina é prevenir, detectar, monitorar e auxiliar na terapêutica de doenças.

Doenças como sinusite, bursites e tendinites, pneumonia, bronquite, colite espasmolítica, hérnias de disco, algumas endometrioses, tumores malígnos de tireoide, de mama, de próstata, fibromialgia, isquemias em pés diabéticos e estudos avançados na detecção precoce da doença de Parkinson são alguns exemplos.

É um excelente método para visualizar a dor (aguda ou crônica) e ajudar a entender a causa funcional mostrando problemas fisiológicos como disfunções do Sistema Nervoso Autônomo além de mostra áreas de dor, que são invisíveis para outros exames médicos.

A dor constitui uma das principais razões que levam os indivíduos a procurar atendimento em saúde.

Além de ser um importante sintoma clínico, também diz respeito a uma sensação e a uma experiência multi-dimensional, sendo, portanto, complexa e, na maioria das vezes, subjetiva o que dificulta a sua abordagem.

É um exame totalmente seguro, sem contraste e sem radiação, tanto para gestantes, idosos ou crianças, e pode ser repetido quantas vezes forem necessárias sem risco ou dor para o paciente não possuindo assim nenhuma contraindicação.

Uma das funções também é guiar tratamentos, ou seja indicar o local preciso onde a intervenção deve ocorrer, diminuindo a margem de erro e aumentando o sucesso do tratamento.

A Plataforma Linda (que usa inteligencia artificial) melhora a acurácia da mamografia, por meio da aplicação clínica da termografia, que ajuda os médicos a melhorar as análises e diagnósticos dados aos pacientes, minimizando exames complementares subjetivos (US) e biópsias  desnecessárias.

Vale lembrar que o exame não substitui a mamografia, mas auxilia na detecção precoce de lesões na mama em pacientes de risco.

A termografia também pode ser usada no diagnóstico de algumas doenças neurológicas, como a esclerose múltipla, quando o corpo deixa de regular adequadamente a temperatura do corpo, algo que pode ser detectado facilmente com a câmera infravermelha.

Programas de treinamentos e atividades físicas podem utilizar a termografia para otimizar a perda de peso.

Apesar da sua limitação em avaliar vísceras pélvicas femininas devido as influências hormonais do ciclo menstrual , ela tem demonstrado ser útil no dia a dia do especialista na abordagem da endometriose da parede abdominal e na abordagem da dor pélvica crônica decorrente de dores articulares, vasculares e musculares do assoalho pélvico.

A termografia tem sido importante no processo de avaliação e documentação das patologias de tecidos moles, incluindo nervos periféricos, raízes nervosas, tendões, músculos e vasos sanguíneos, assim como disfunções articulares e ósseas.

Além disso, fornece informações adicionais sobre algumas condições que não podem ser identificadas em testes radiológicos, eletroneuromiográficos ou em exames laboratoriais, como por exemplo, os casos dos pontos de gatilho da dor miofascial.

A rotina de um atleta que tem treinos desgastantes, jogos ou provas toda semana, pode resultar em um corpo cansado e lesionado, por isso um acompanhamento com a termografia tem sido recomendado.

Antes mesmo de sentir dores, atletas passam por exames para detectar qual parte do corpo está mais propensa a sofrer lesões.

Esse processo economiza tempo de recuperação e dinheiro, pois o investimento que seria feito no tratamento, é economizado pois a lesão é evitada a tempo, como se ela fosse tratada antes de acontecer.

Pensando em pessoas que não praticam esportes de alto rendimento, percebe-se também um grande benefício, pois se você sente alguma dor e busca um diagnóstico, essa lesão pode ser tratada com rapidez evitando que se agrave para um quadro mais sério.

Importante entender que estes avanços vão ajudar desde que precedidos de uma boa anamnese e um bom exame físico realizado por médicos que vão saber individualizar cada caso.

*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e preservação da fertilidade, Ovular fertilidade e menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à saúde da mulher com enfoque na ginecologia integral e funcional, câncer, dor pélvica, infertilidade, preservação da fertilidade, endometriose, endoscopia ginecológica e cirurgias minimamente invasivas.

Se você tem dúvidas ou quer sugerir tema para a coluna, envie e-mail para gustavo_safe@yahoo.com