Saúde intestinal da mulher e a dieta anti-inflamatória

Distúrbios intestinais decorrentes de alergia, intolerância e inflamação predispõem o desenvolvimento de doenças

Andrea Cannata/Pixabay
(foto: Andrea Cannata/Pixabay )

O intestino possui 500 milhões de neurônios e 30 neurotransmissores, sendo independente do sistema nervoso central, podendo ser considerado hoje como o nosso segundo cérebro, com funções muito mais amplas do que só processar alimentos.

O aparelho gastrointestinal ou trato digestório é um tubo oco que se estende da cavidade bucal ao ânus. Formado pela boca, faringe, esôfago, intestino delgado, intestino grosso e ânus, alem de órgãos acessórios.

O intestino permite a passagem de alimentos digeridos, facilitando a absorção dos nutrientes e eliminando os resíduos. É uma das partes mais importantes do sistema digestivo e pode ser dividido em duas partes principais: o intestino delgado, que é a parte mais comprida (7 metros), onde ocorre a absorção da maior parte dos nutrientes, como açúcares e aminoácidos, e um pouco de água, e o intestino grosso (2 metros), onde mais de 60% da água é absorvida.

É sabido que 60% da nossa imunidade está diretamente ligada à saúde intestinal e que 95% da serotonina produzida é liberada pelo cólon (região do intestino grosso). A serotonina é um neurotransmissor que afeta muitas funções corporais, como o peristaltismo intestinal, que é o movimento involuntário que o intestino faz para empurrar o bolo alimentar e permitir que a digestão aconteça no lugar certo.

Ela também está associada a muitos transtornos psiquiátricos. Sua concentração pode ser reduzida pelo estresse e influenciar o humor, a ansiedade e a felicidade.

Nossa dieta (cardápio diário) depende dos hábitos alimentares que têm se tornado cada vez piores no Brasil e no mundo, gerando uma necessidade de reeducação alimentar. Estes hábitos são influenciados por vários fatores individuais, como necessidade de ganhar massa magra (proteínas), reduzir gordura corporal, repor nutrientes, controlar diabetes, hipertensão arterial e até mesmo tratar algumas doenças.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (UEDA) esquematizou, em 1992, a primeira pirâmide alimentar, embora os primeiros guias alimentares tenham sido criados nos anos 1970.

A pirâmide alimentar é um tipo de gráfico que sistematiza os alimentos de acordo com suas funções e seus nutrientes, divididos em quatro níveis:

Alimentos energéticos - (carboidratos) são do grupo 1; os reguladores, dos grupos 2 (verduras e legumes) e grupos 3 (frutas); os construtores, dos grupos 4 (leite e derivados), grupo 5 (carnes e ovos), grupo 6 (leguminosas e oleoginosas) e os energéticos extras, dos grupos 7 (óleos e gorduras) e 8 (açúcares e doces).

A água aparece na base da pirâmide, configurando o alimento mais essencial para o ser humano. Os nutricionistas recomendam a ingestão diária de no mínimo 2 litros.

Muitas pessoas já escutaram muitas histórias, entre as quais a de que não se de deve tomar leite e chupar manga, porque faz mal. Lembro-me bem, quando estava na escola, o professor de história dizer que isto comecou na época da escravidão, quando os coroneis disseminavam isto para que os escravos não tomassem o leite da fazenda.

MITO OU VERDADE?

(VERDADE) Leite e manga são bons exemplos de alimentos com alto teor de FODMAP, o que representa alto potencial em gerar distúrbio intestinal decorrente de ação inflamatória.

FODMAP é o conjunto de alimentos fermentáveis que são mal absorvidos pelo nosso organismo e que podem causar desconforto intestinal.

FODMAPs é a sigla de um acrônimo em inglês para Fermentáveis, Oligossacarídeos, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polióis fermentáveis, o que virou mania depois de pesquisadores da Universidade de Monash, na Austrália, descobrirem que uma dieta com baixo teor desses elementos ajuda e alivia sintomas intestinais, como diarréia, constipação e distensão gasosa.

São carboidratos de cadeia curta e álcoois de açúcar que não são digeridos no intestino delgado e, ao chegar ao intestino grosso, geram a formação de gases pela microbiota intestinal (dióxido de carbono, hidrogênio, gás metano).

Basicamente, esses açúcares estão presentes em diversos alimentos, desde os derivados do leite, cereais, frutas, gorduras e proteínas, sendo os favoritos das dietas detox, como, por exemplo, abacate, água de coco e castanha de caju (tabelas de alimentos disponíveis na internet).

Uma vez no corpo, são mal absorvidos no intestino delgado e acabam atraindo água para dentro do órgão. Quando essas substâncias pouco digeridas chegam ao cólon, as bactérias rapidamente as fermentam, gerando gases.

A má absorção da maioria dos carboidratos FODMAPs é comum a todos. Mas, os pacientes com Síndrome do Intetsino Irritável (SII) apresentam mais sintomas de desconforto.

Dados da Federação Brasileira de Gastroenterologia mostram que a Síndrome do Intestino Irritável (SII) atinge de 10% a 20% da população adulta brasileira, principalmente mulheres em idade reprodutiva, podendo ser agravada pelo estresse, alergias e intolerâncias alimentares.

É verdade que alguns intestinos são mais sensíveis do que outros. Pesquisas recentes sugerem que, se você tem medo de um determinado alimento e o come, pode desenvolver distúrbios intestinais sem que realmente tenha alergia ou intolerância.

Se não tratada, essa síndrome pode gerar doenças mais sérias e, especialmente quando não identificamos os alimentos nocivos para os pacientes, estaremos agravando um processo de inflamação crônica, o que irá alterar a capacidade digestiva.

Além de ajudar a reduzir os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável, o plano alimentar com baixo teor de FODMAPs pode ter efeito positivo em pessoas que sofrem de Supercrescimento Bacteriano do Intestino Delgado (SCBID) e outros distúrbios gastrointestinais decorrentes de quadros inflamatórios como a endometriose (presença de endométrio, tecido que reveste a cavidade uterina, quando fora do útero).

Você pode melhorar sua saúde digestiva e o seu microbioma intestinal com ajuda de profissionais adequados, mas não deixe de fazer a sua parte, seguindo uma dieta diversificada (várias cores de alimentos), reduzindo seu nível de estresse, relaxando, meditando ou fazendo Yoga, além de evitar álcool, café e comidas apimentadas em excesso, e procurando sempre dormir bem.