Estudo identifica maior mortalidade e recorrência do câncer entre consumidores da suplementação

Excesso de suplementação de vitaminas e antioxidantes não faz bem e não previne câncer; pelo contrário, pode contribuir para o seu aumento e também surgimento de outras doenças

Bru-No/pixabay
(foto: Bru-No/pixabay)

Como seria fácil se, em vez de nos preocuparmos em ter uma alimentação saudável e equilibrada ao longo do dia, pudéssemos simplesmente ingerir pílulas com todos os nutrientes necessários ao nosso organismo.

Parece ser nisso que algumas pessoas se baseiam ao utilizar suplementação vitamínica sem necessidade e sem recomendação médica. Contudo, tal prática não está colaborando com uma saúde melhor e, provavelmente, pode estar prejudicando.

Um estudo observacional realizado pelo Departamento de Prevenção e Controle do Câncer do Comprehensive Cancer Center de Roswell Park, Buffalo, descobriu que pacientes de câncer que relataram o uso de qualquer antioxidante antes e durante o tratamento quimioterápico, incluindo vitaminas A, C e E, bem como carotenoides e coenzima Q10, tiveram 41% mais chances de apresentar recorrência da doença.

Já os pacientes que tomaram suplementos de vitamina B12, ferro e ácidos graxos ômega-3 tiveram um risco significativamente maior de recorrência e morte por câncer de mama.

Apesar de este ser um estudo pequeno, os resultados reiteraram muitas outras pesquisas. Existem meta-análises, que é análise de uma população de vários estudos, alguns feitos já na década de 90, mostrando a mesma situação: mega-doses de vitaminas e de antioxidantes administrados de forma artificial por suplementação não têm um efeito preventivo de doenças, não apresentam nenhuma influência no tratamento, ou, o que é pior, têm um efeito deletério, interferindo negativamente na sobrevida dos pacientes de câncer. Ou seja, os pacientes acabam tendo uma sobrevida menor do que quem não faz a suplementação.

Uma das hipóteses para o aumento da mortalidade entre os consumidores de antioxidantes é o bloqueio do efeito da quimioterapia. De fato, uma certa quantidade de antioxidantes, vindos da alimentação, ajuda a controlar a quantidade de radicais livres no organismo, pois estes, em excesso, podem oxidar células saudáveis, como proteínas, lipídios e DNA. Mas o processo de oxidação natural e em equilíbrio é importante para que as células cancerígenas sejam eliminadas tanto pela quimioterapia, quanto pelo próprio sistema imunológico, no caso, por exemplo, de pacientes fumantes.

Então, quando você ingere pela suplementação uma quantidade muito maior do que a natural, você acaba criando um bloqueio na oxidação natural e dificultando o efeito lesivo da quimioterapia na células tumorais, e mesmo o efeito do sistema imunológico natural que nós temos.

Isso significa que ninguém deveria fazer ingestão de suplementação? Também não é assim. A suplementação artificial feita com cápsulas compradas é uma ótima alternativa para pessoas que não conseguem suprir, pela alimentação, a necessidade diária de micronutrientes. Mas, para quem não tem nenhuma deficiência alimentar, não se recomenda essa suplementação.

Não há estudos que comprovem os benefícios. Pelo contrário. Portanto, não se deve utilizar sem ter uma recomendação médica. E, hoje, nós temos formas de identificar essas dosagens no sangue para saber se é necessário ou não.

Para finalizar, a colega endocrinologista Daniele Zaninelli compilou, em uma tabela, as principais recomendações de um artigo publicado na revista JAMA* para uso de suplementação, a qual compartilho com o leitor a título de curiosidade. Mas, lembre-se: o uso de qualquer um deles deve ser recomendado por um médico conforme a necessidade de cada pessoa!
 
None