Atendimento por médico é mais seguro

Dermatologistas estão pedindo a proibição de procedimentos estéticos invasivos feitos por não médicos

Alexandre Guzanshe/em/d.a press
(foto: Alexandre Guzanshe/em/d.a press)
Quem se lembra de quando as propagandas de tabaco eram permitidas em jornais, televisão e rádio, como se fumar não gerasse riscos à saúde? Talvez alguns de vocês nunca tenham visto esses anúncios, mas essa era a realidade que vivíamos menos de 20 atrás. Onze anos após a proibição dos comerciais de tabaco, uma lei federal passou a proibir fumar em ambientes fechados, causando revolta e indignação em muitos proprietários de estabelecimentos e fumantes.

Na época, muitos questionaram se o governo tinha o direito de fazer tal proibição. Sim! Não só o direito, mas também o dever, porque nesses casos a ação do fumante colocava em risco a sua própria vida e a de outras pessoas que frequentavam o mesmo local. Relembrei essa situação para fazer um paralelo com um cenário que estamos vivendo e que também tem colocado em risco a saúde e a integridade física de muita gente – a banalização dos procedimentos estéticos. Nos últimos anos, quase todas as áreas da saúde passaram a se considerar capacitadas para atuar nesse “mercado” tão lucrativo.

Diante do aumento de problemas causados pela realização de procedimentos estéticos por não médicos, vem o questionamento: “Onde fica o direito à integridade física, a segurança e até mesmo a vida do paciente?”. Sem entrar no mérito comparativo do nível técnico e acadêmico de cada área, é importante deixar muito claro que o atendimento feito por um médico é mais seguro. Isso quer dizer que com os médicos não tem complicação? De forma alguma. Isso quer dizer que o médico é absoluto e soberano? Absolutamente não. O diferencial de um médico é o seu treinamento para lidar com situações extremas.

Os seis anos de medicina, internatos e residências médicas em hospitais possibilitam uma avaliação de risco e preparo estrutural e emocional necessários para conduzir cada caso. Um médico bem formado já experimentou na prática o que é urgência. Conhece os limites que o corpo humano impõe e sabe lidar com expectativas e consequências.

Cada vez mais estão sendo noticiados casos que evidenciam sérias consequências decorrentes de intervenções estéticas realizadas por não médicos – pessoas morrem ou ficam com sequelas permanentes. Quando não direcionados por uma legislação clara, os pacientes podem tomar decisões baseadas em preço ou imagens projetadas nas mídias sociais. É aqui que entra a necessidade e a importância de termos leis que estabeleçam regras para preservar a saúde dos pacientes, fazendo com que não se tornem vítimas de profissionais que atuam sem a formação necessária.

Recentemente, após o óbito de uma mulher de 45 anos que sofreu complicações ao realizar uma cirurgia de redução de "papada" (lipoplastia cervical) com um profissional não formado em medicina, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) divulgou uma carta aberta à população. O objetivo é conclamar as autoridades, em especial o Ministério Público e o Poder Judiciário, a tomarem providências imediatas contra a realização de procedimentos estéticos invasivos por pessoas sem formação médica.

Enquanto não temos uma legislação específica para essa situação, cabe a nós médicos orientarmos a população sobre importância de cuidarem da estética com a mesma atenção e zelo que tem com outras áreas.

É bonito cuidar da saúde.

Dermatologista titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professora de dermatologia na Unifenas – BH nadiabavoso@hotmail.com