Preservar a autoestima e a qualidade de vida de mulheres na menopausa são os principais objetivos dos especialistas

É possível passar por essa fase da vida de forma leve e natural

Ellen Cristie 30/05/2019 07:00
Leandro Couri/EM/D.A Press
A ginecologista Valéria Campos destaca que geralmente a mulher brasileira entra na menopausa aos 48 anos (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

“Talvez, antigamente, a menopausa fosse uma sentença condenatória para as mulheres. Hoje, me acho muito melhor que tempos atrás, me sinto mais bonita e mais animada. Sabe aquela frase que diz que ‘envelhecer é inevitável, mas como envelhecer só depende de você’.? Penso assim”, diz a administradora e fotógrafa Luciana Guimarães de Morais, de 47 anos.

Há pouco mais de um mês, Luciana entrou na menopausa e, a não ser por duas vezes ao dia, que ela diz sentir um minuto de suor frio, a administradora está vivenciando essa etapa da vida da mulher de forma leve e natural. Luciana, que ficou menstruada pela primeira vez aos 14 anos, começou a observar algumas alterações no ciclo menstrual há cerca de dois anos. Em fevereiro de 2017, retirou o DIU, que usava há cinco anos, e percebeu falhas na menstruação. “Meu ciclo ficou irregular, aí comecei a fazer alguns exames.”

A administradora acredita que já estava iniciando o climatério – fase em que a mulher apresenta uma série de sintomas caracterizados por flutuações hormonais que precedem a menopausa. A desconfiança veio este ano, quando ela voltou a fazer exames. O teste de hormônio folículo-estimulante (FSH) pulou de 4,1 mIU/ml para 129,4 mIU/ml, o que fez sua médica solicitar novos exames agora em maio, para confirmar o diagnóstico de menopausa.

Ao contrário de sintomas como fadiga, ressecamento da pele ou da vagina, Luciana garante que está no “pique total”. Além de lecionar para estudantes de ensino fundamental e médio da rede particular, ela ainda tem tempo para atuar como fotógrafa e oferecer aulas particulares de matemática. “Trabalho muito e adoro o que faço.”

DIAGNÓSTICO

Segundo a ginecologista Valéria Campos, membro efetivo do corpo clínico da equipe de ginecologia e obstetrícia do Hospital Felício Rocho, a menopausa pode ser definida como a interrupção permanente da menstruação (amenorreia) e reconhecida após 12 meses consecutivos sem menstruação. “É um diagnóstico retrospectivo, na verdade.”

A especialista explica, inclusive, a diferença entre a menopausa e o climatério. “Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), seria o período da vida da mulher compreendido entre o final da vida reprodutiva até a senilidade, em geral vai de 40 a 65 anos. No transcorrer do climatério, ocorre a menopausa, que acaba sendo uma data”, comenta.

Embora uma série de fatores interfiram no ciclo da mulher, geralmente ela entra na menopausa no Brasil por volta dos 48 anos. É uma fase de modificações. Valéria Campos ressalta que no período do climatério ocorrem alterações importantes que envolvem o eixo hormonal hipotálamo-hipófise-ovários. “Fatores socioeconômico-culturais também podem alterar a autoestima e a qualidade de vida da mulher”, comenta (veja o quadro abaixo).

Fatores como reserva folicular dos ovários, jornadas de trabalho estressante e/ou excessivas, paridade, tabagismo, nutrição e atividade física influenciam nos casos em que ocorre a menopausa precoce e a tardia, sendo que o primeiro caso pode ocorrer antes dos 40 anos e no segundo após os 55.

REPOSIÇÃO HORMONAL

Uma das maiores dúvidas entre mulheres menopáusicas é quanto a fazer ou não a reposição hormonal. De acordo com Valéria Campos, a reposição hormonal visa melhorar a qualidade de vida e da saúde das mulheres nessa fase de vida, incluindo uma rotina mais saudável, que inclua uma dieta equilibrada, atividade física e o não tabagismo.

“Uma vez indicada a reposição hormonal, os benefícios esperados seriam alívio dos fogachos, melhora da hidratação de pele e mucosas, melhora na performance sexual, prevenção da osteoporose, melhora da memória e cognição.”

No entanto, com relação aos riscos da reposição hormonal, Valéria destaca um aumento das neoplasias malignas hormônio-dependentes, tais como câncer de mama e de endométrio. “Vale ressaltar que o aumento da incidência do câncer de mama é muito pequeno - em torno de 1 para 1 mil casos. Há um incremento também dos eventos tromboembólicos”, esclarece.

A reposição hormonal é contraindicada para as mulheres que já tiveram câncer de mama e de endométrio e pode ser avaliado o uso naquelas que já tiveram câncer de ovário (que não seja do tipo endometrioide) ou câncer de colo.

Em situações em que a reposição hormonal não for indicada, os ginecologistas podem lançar mão de alguns recursos para proporcionar uma melhor qualidade de vida para a paciente, tais como orientação nutricional, atividade física regular, acupuntura, fito-hormônios, homeopatia, antidepressivos e ansiolíticos. “Devemos colocar numa balança riscos x benefícios da reposição hormonal, visando uma melhor qualidade de vida para as mulheres”, conclui.

Climatério

Fatores que podem alterar a autoestima e qualidade de vida da mulher:


» Irregularidades do ciclo menstrual, variáveis de mulher para mulher

» Manifestações neurogênicas, tais como as ondas de calor (fogachos), sudorese, calafrios, palpitações, cefaleia, tonturas, parestesia (sensação anormal e desagradável sobre a pele como queimação, dormência, coceira, insônia, alterações da memória e fadiga

» Manifestações psicogênicas em que observamos alterações do humor, alterações na esfera sexual (diminuição da libido) e de integração social

» Manifestações metabólicas, que culminam na perda de massa óssea, alterações nos níveis do colesterol e triglicérides, obesidade

» Manifestações urogenitais: ressecamento dos tecidos pélvicos, predispondo a sangramento e dor na relação sexual (dispareunia), disúria e incontinência urinária; ressecamento de mucosas, pele, cabelos e unhas

» Alterações mamárias com predomínio da lipossubstituição, diminuição da acuidade visual

Palavra de especialista

Aurora Oliveira - médica especialista e professora da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh)

Menopausa X Climatério


“É importante fazer uma diferenciação entre os termos menopausa e climatério. Eles são geralmente usados como sinônimos, e na realidade, são processos diferentes. A menopausa é quando a mulher ficou sem menstruar por 12 meses consecutivos. O climatério é o período que antecede e sucede a última menstruação, caracterizado pelas alterações hormonais decorrentes da redução fisiológica da função ovariana (o ovário é glândula que produz os hormônios femininos). A deficiência dos hormônios pode gerar grandes transtornos na vida da mulher com repercussão na sua saúde geral, autoestima e qualidade de vida. Ocorrem alterações endócrinas, somáticas e psíquicas, sendo as mais comuns fogachos (ondas de calor), suor excessivo, insônia, palpitações, tonteiras, dores musculares, alterações no apetite sexual e ressecamento vaginal e da pele. A reposição hormonal não é obrigatória para todas as mulheres. Deve ser realizada no momento certo, em casos específicos e que não tenham contraindicações. Dando um exemplo bem simples: paciente com sintomas intensos de calor, sudorese, dor à relação, insônia que diminuem a qualidade de vida e que estejam na idade apropriada; nessas pacientes, sim, está bem indicada a terapia hormonal. A terapia de reposição normal funciona de forma ‘bem simples’: estamos ofertando à paciente aquilo que o organismo já não produz, ou seja, os hormônios femininos.”