Setembro do Coração é dedicado aos cuidados com o órgão

Doenças cardiovasculares são as que mais matam no Brasil, com um óbito a cada 90 segundos

por Lilian Monteiro 17/09/2018 14:10

Lelis
(foto: Lelis)

Em 29 de setembro, comemora-se o Dia Mundial do Coração, iniciativa da Federação Mundial do Coração, em parceria com a Unesco, Organização Mundial da Saúde (OMS) e instituições ao redor dos quatro cantos do planeta. Para reforçar a data, neste mês foi lançada a campanha “Setembro do Coração”, que recebe esse nome, e não “Setembro Vermelho”, porque a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Associação Médica Brasileira (AMB) entendem que o coração é um símbolo mais importante que qualquer cor e também por já haver cores demais simbolizando os outros meses e cuidados com a saúde.

É também por questões práticas, já que a expressão Setembro Vermelho foi registrada em nome de uma empresa/ONG/agência de publicidade, Instituto Lado a Lado pela Vida, que acaba captando recursos e patrocínios paralelamente às entidades científicas. As duas campanhas acabam se confundindo, mas, felizmente, com efeitos complementares. Nesta edição, o Setembro do Coração promoverá ações presenciais nas capitais no dia 29, com aferição de pressão arterial, medida do colesterol e orientações nutricionais nas cidades participantes.

A notícia ruim é que as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortes no Brasil, responsáveis por mais de 30% do total de óbitos registrados. A notícia boa é que, com estilo e hábitos de vida saudáveis, somados ao controle médico, principalmente para quem herda o problema, são ações de alta eficiência. A prevenção deve começar na infância, e a lista de exames deve se adequar à idade, gênero, sintomas e história de cada pessoa. Viver por mais tempo e com mais saúde deve ser a busca de todos. Para isso, precisam ter o máximo de carinho e atenção com o coração.

A SBC fez uma projeção de mortes por doenças cardiovasculares para 2018 e, até 31 de dezembro, o Brasil deve registrar 396.478 mortes pela principal causa de óbitos no país. Como os dados governamentais sempre têm dois anos de defasagem, a entidade estima o número com base na progressão de anos anteriores e no crescimento da população. Os dados, publicados no Cardiômetro, indicador on-line do número de mortes por doenças cardiovasculares no Brasil, são atualizados com base em um programa de previsão estatística com a metodologia desenvolvida e amparada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. O alerta faz parte de uma série de atividades que a SBC promove em todo o país.

Em 2016, de acordo com a entidade, foram registradas no Brasil 362.091 mortes por doenças cardiovasculares e, em 2015, 349.584. A SBC também estimou o número de mortes para 2017 em 383.961. Os números talvez possam ser um pouco maiores, mas a entidade sempre faz o cálculo de forma conservadora. Em dois anos, as mortes por doenças cardiovasculares cresceram quase 10%. “É muita coisa. Precisamos investir ainda mais em prevenção e no combate aos fatores de risco para o coração. Para os pacientes com hipertensão, colesterol elevado e diabetes, por exemplo, jamais abandonar o tratamento e ir ao médico com regularidade”, defende o presidente da SBC, Oscar Dutra.

Conforme a SBC, as doenças cardiovasculares são tão perigosas e, muitas vezes, silenciosas, que em um único dia são responsáveis por 1.086 mortes, segundo os cálculos do Cardiômetro. Em 10 anos, no período de 2007 a 2016, foram responsáveis por 3.331.847 óbitos. “É uma verdadeira epidemia que precisa ser combatida em várias frentes. Em pouco tempo, o Brasil será líder mundial em mortes por doenças cardiovasculares. Precisamos correr contra o tempo para conscientizar a população e tratar quem já está com hipertensão, colesterol e diabetes”, defende Oscar Dutra.

ESTILO DE VIDA

Prevenção é a principal indicação para cuidar do coração. Marcelo Maia Campos, de 31 anos, farmacêutico, pesava tempos atrás 104 quilos. Dois comportamentos o fizeram perder o controle da balança: sedentarismo e comida congelada, processada, enfim, o fast food. “Somos eu e meu pai em casa, dois homens, enfim, comida industrializada e hipercalórica. Como tive labirintite, fiquei um ano parado, longe da atividade física. Sempre fui gordinho, com sobrepeso, mas também sempre fiz artes marciais, natação, caminhada. Larguei tudo, a idade chegou e, ao me ver no espelho, comecei a me preocupar.”

Espelho amigo, já que o alerta para Marcelo é sério porque “meu pai é cardiopata, teve infarto, tem diabéticos na família, outros com hipertensão e colesterol alto. Ou seja, juntou tudo isso para que eu mudasse de atitude. Não cheguei a passar mal, a saúde está boa, nada alterado, mas a preocupação com a imagem foi o sinal para pensar em todo o resto. E casou com a proximidade de um primo corredor, que emagreceu e me incentivou. Comecei com seis meses de caminhada e, desde julho de 2017, estou correndo. Já fiz a Volta da Pampulha, a Corrida do Galo... Os exames melhoraram e o colesterol bom, que estava baixo, já normalizou. Ah, e agora estou pesando 77kg”. A alimentação também mudou: “Salada, frutas, legumes e hortaliças. Claro, como de tudo, uma besteira de vez em quando, mas agora com equilíbrio. Não é chegar em casa cansado e apelar para a lasanha congelada, já consigo preparar um prato mais saudável”.

É a atitude de Marcelo que os cardiologistas sonham que todos tenham. Não precisa correr o risco que ele correu, principalmente pelo histórico familiar, mas a consciência de que hábitos saudáveis são fundamentais para que todos tenham qualidade de vida e saúde em dia, ambos em harmonia, equilibradas.

ENTREVISTA/MARCUS VINíCIUS BOLíVAR MALACHIAS - MÉDICO CARDIOLOGISTA DO BIOCOR INSTITUTO

» Símbolo maior da vida

Como conhecemos bem os fatores de risco, há como prevenir e cuidar das doenças cardiovasculares. Infelizmente, há um hiato entre os avanços e o acesso da população. Tecnologia revoluciona a área

Edésio Ferreira/EM/D.A Press
"Temos cada vez mais conhecimentos e recursos médicos para viver mais e melhor. Precisamos é que esses recursos estejam mais facilmente disponíveis e que sejam efetivamente assimilados pela população" - Marcus Bolívar, cardiologista (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Referência da área, o médico Marcus Vinícius Bolívar Malachias, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, diretor clínico do Instituto de Hipertensão Arterial de Minas Gerais, cardiologista do Biocor Instituto e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), explica que o “Setembro do Coração” recebeu esse nome porque a classe entende que “o coração é um símbolo mais importante que qualquer cor e por já haver cores demais simbolizando os demais meses e cuidados com a saúde, nada melhor do que remeter ao órgão”. Em entrevista ao Bem Viver, o PhD em cardiologia pela USP e membro do American College of Cardiology e European Society of Cardiology alerta a população sobre a importância de cuidar do coração, os números assustadores das doenças cardiovasculares e como cada um tem de fazer sua parte.

Qual a importância da campanha Setembro do Coração?

As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortes no Brasil, responsáveis por mais de 30% do total de óbitos registrados. Causam o dobro de mortes que as devidas a todos os tipos de cânceres juntos; duas, três vezes mais que todas as causas externas (acidentes e violência); três vezes mais que as doenças respiratórias e cinco, seis vezes mais que todas as infecções, incluindo a Aids. Isso quer dizer que a cada 40 segundos morre um brasileiro de causa cardiovascular. O alerta, a prevenção e o tratamento adequado dos fatores de risco e das doenças circulatórias podem salvar muitas vidas e postergar muitos óbitos. Por isso o Setembro do Coração, mês em que anualmente celebramos o Dia Mundial do Coração, fazemos o Congresso Brasileiro de Cardiologia e promovemos uma campanha de alerta à população.

Como é a mortalidade por infarto?

O infarto do miocárdio é a primeira causa isolada de mortes no Brasil e no mundo. São quase 100 mil mortes ao ano em nosso meio. Cerca de 15% dos infartos causam morte súbita. Em 85% dos casos, contudo, se levados precocemente a um hospital com recursos, há elevadas chances de recuperação.

Como reconhecer um infarto?

Em geral, o infarto surge como uma dor no peito ou na parte alta do abdômen, podendo ocasionalmente atingir o ombro, o dorso ou o queixo. É de forte intensidade, às vezes acompanhada de sudorese, náuseas, falta de ar e mal-estar geral. Curiosamente, em mulheres, os sintomas podem ser algo diferente ou menos intenso, por vezes, uma dificuldade de respirar ou um desconforto torácico mal definido. Tais sintomas devem servir de alerta para a busca imediata de assistência especializada.

Quais os fatores de risco?

Hipertensão arterial, tabagismo, colesterol elevado, diabetes, estresse, hereditariedade, sobrepeso e sedentarismo. Quem tem hipertensão e não faz o controle adequado, por exemplo, pode ter uma expectativa de vida reduzida em até 16 anos. O diabetes não controlado aumenta em quatro vezes o risco de infarto, insuficiência cardíaca e doença circulatória. Colesterol, tabagismo e estresse funcionam como gatilhos para a ocorrência de doenças cardíacas e AVC.

Se por um lado muitos não se cuidam, por outro, há quem faça exames demais. Na cardiologia ocorre assim?

Reconhecemos um grande hiato entre os atuais avanços da medicina e o que efetivamente é absorvido pela população. A cada dia surgem recursos diagnósticos e terapêuticos fantásticos que poderiam salvar muitas vidas. Sabemos que a dieta saudável e exercícios físicos são úteis, mas poucos fazem. Mas com ou sem um estilo de vida adequado, devemos usufruir da ciência, seja por meio de métodos diagnósticos cada vez mais precisos ou por meio de tratamentos cada vez mais eficazes. No Brasil, mais que em muitos países, todos querem fazer exames, muitas vezes até em excesso, mas poucos seguem as prescrições e orientações médicas. Há uma enorme resistência em seguir tratamentos contínuos, como os de hipertensão, diabetes e colesterol elevado. Cerca de 80% dos hipertensos e diabéticos brasileiros, por exemplo, não fazem o tratamento adequado e estão expostos aos riscos das doenças.

Há uma periodicidade para fazer exames? A partir de que idade?

A prevenção deve começar na infância, pois crianças com sobrepeso, alimentação irregular e que contraem muitas infecções têm mais chances de desenvolver problemas cardíacos precoces. Hoje, todo pediatra já avalia a pressão arterial e, em casos selecionados, colesterol e glicose, entre outros. Em adultos, a avaliação cardiológica inicial deve ser até os 35 anos. Quem tem história de doenças cardíacas na família, fumantes e obesos, deve fazer checape aos 30.

Problemas no coração são genéticos?

Há muitas doenças cardíacas congênitas, que promovem alterações na anatomia e na função do coração. Muitas dessas doenças congênitas exigem cirurgias cardíacas em tenra idade. Contudo, mais comuns são as heranças relativas aos fatores de risco. Por exemplo, quem tem um dos pais com hipertensão tem 30% de chances de se tornar hipertenso. Se a herança é bilateral, as chances sobem para 50% a 60%. Mas mesmo que haja uma rica história familiar, há maneiras de reduzir esse risco, com o controle do peso, prática regular de esportes e tratamentos precoces.

O Cardiômetro, indicador on-line do número de mortes por doenças cardiovasculares no Brasil, criado pela SBC, é assustador. A estatística é a mesma?

Após analisar os atestados de óbitos, o Ministério da Saúde (MS) divulga os dados nacionais de mortalidade por causa específica, mas com uma defasagem de dois anos. Assim, criamos um modelo em que, baseado nos dados oficiais de mortalidade cardiovascular dos anos anteriores e de crescimento da população, estimamos, por meio de projeções logísticas, o número de mortes por essas doenças no ano vigente. Assim, nasceu o Cardiômetro, que criei, junto aos demais diretores, ao assumir a presidência da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) no fim de 2015. Nossos cálculos para 2016 ficaram muito próximos dos 362.091 óbitos oficiais divulgados recentemente pelo MS, comprovando a validade do instrumento. Com essa metodologia, estimamos que, ao fim de 2018, quase 400 mil brasileiros morrerão por doenças do coração e da circulação. No site www.cardiometro.com.br há testes gratuitos e validados para se estimar o risco cardiovascular de cada pessoa, além de informações úteis sobre fatores de risco e até como proceder em situações de emergência.

O Brasil virou um país com sobrepeso. Esse fator preocupa os cardiologistas?

Dados recentemente divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que o a maioria da população brasileira, 54%, tem sobrepeso. A obesidade, um estágio acima, acomete 18,9% da população, e o surpreendente é que o maior aumento desses percentuais ocorreu entre os jovens, crescimento de 110% nos últimos 10 anos. O aumento do peso, mas também a maior expectativa de vida da população, tem feito multiplicar o número de pessoas com fatores de risco e mesmo com doenças cardiovasculares estabelecidas. Temos alcançado aumento gradual da expectativa de vida no Brasil, hoje estimada em 75,8 anos de idade. Mas, mais importante que o aumento da longevidade, acredito, é preservar a qualidade de vida, com saúde e independência ao longo dos anos. Temos cada vez mais conhecimentos e recursos médicos para viver mais e melhor. O que precisamos é que esses recursos estejam mais facilmente disponíveis e que sejam efetivamente assimilados pela população.

Quais são os mais recentes avanços tecnológicos da cardiologia?

Na área básica, novos medicamentos elaborados com nanotecnologia prometem substituir muitos fármacos injetáveis e curar doenças até então sem possibilidade de tratamento. Além disso, com o avanço da genética e o surgimento de medicamentos à base de anticorpos monoclonais, já são muitas as possibilidades de diagnósticos e tratamentos mais individualizados, a chamada medicina de precisão. Já é também possível recorrer à inteligência artificial para acessar bancos com bilhões de dados científicos para auxílio diagnóstico e decisão terapêutica. O alto grau desenvolvimento das áreas de imagem e robótica nos possibilita fazer diagnósticos, tratamentos e cirurgias complexas, com técnicas cada vez menos invasivas, menos complicações e melhor recuperação. Contudo, é necessário destacar que têm surgido cada vez mais falsas promessas de tratamentos revolucionários, sem qualquer comprovação científica, com objetivos comerciais e muitas vezes com riscos à saúde. Por tudo isso, apesar de todo desenvolvimento tecnológico e científico, nunca foi tão necessário o conhecimento, a experiência e o humanismo do médico para uma melhor orientação quanto à preservação da vida.

"Quem vê cara, não vê coração"

Cardiologistas ressaltam a importância das campanhas para que a sociedade se preocupe com os cuidados com a saúde e procure serviços médicos para diagnóstico, tratamento e prevenção

Os cardiologistas constatam que, o mais assustador, é que as pessoas não têm a real noção do tamanho do problema que pode ocorrer para quem não cuida do coração com a devida atenção. Como bem lembra o médico Estêvão Lanna Figueiredo, coordenador do Serviço de Cardiologia do Hospital Lifecenter de Belo Horizonte e assessor de pesquisas da atual gestão (2018-2019) da Sociedade Mineira de Cardiologia (SBC/MG), é como diz o ditado “quem vê cara, não vê coração”. Para complicar, ele enfatiza: “Muitos dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado) passam vários anos sem apresentar sintomas. Por não sentir nada, as pessoas acham que estão bem e não se preocupam. Além disso, quando eventualmente vão a médicos e detectam níveis elevados de glicose, colesterol ou da própria pressão arterial, nem sempre aceitam o diagnóstico ou o tratamento”.

Bem diferente da reação e ação diante do diagnóstico de um câncer in situ (bem inicial, que é o que se procura com os exames de papanicolau, mamografia ou dosagens de PSA e exame do toque da próstata). Nessa situação, “todo mundo, incluindo a própria pessoa, a família, parentes e amigos, se alarmam e logo se mobiliza para iniciar o tratamento o mais rápido possível. Mas, se essas mesmas pessoas apresentam elevações do colesterol, da glicose ou da pressão arterial, frequentemente vêm com as desculpas de “que comi muito na semana passada, fiquei nervoso no dia da medida, estes não são meus valores normalmente” e não se tratam. O que as pessoas precisam saber é que, em geral, as doenças cardiovasculares matam mais que todos os tipos de cânceres somados e, ao contrário de alguns desses cânceres, as doenças cardiovasculares podem ter seu prognóstico totalmente mudado se diagnosticadas e tratadas adequadamente em tempo hábil”, alerta.

Para o cardiologista, a campanha Setembro do Coração, assim como as demais, são importantes e aliadas nesse processo de conscientização, já que “servem para alertar a população. A imprensa fica mais atenta e divulga as campanhas, as pessoas têm oportunidade de ouvir e ler sobre as doenças e as respectivas maneiras de prevenir e tratar. Especificamente em relação ao Setembro do Coração, como as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte e afastamento definitivo do trabalho em nosso meio, acho fundamental tratar esse grupo de doenças da mesma forma (com a mesma importância e visibilidade) que os cânceres de mama e próstata, abordados no Outubro Rosa e Novembro Azul, respectivamente”.

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Estêvão Lanna Figueiredo, cardiologista do Lifecenter, diz que muitos fatores de risco passam vários anos sem apresentar sintomas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Para Estêvão Lanna, as campanhas dão resultado, sim: “A cada campanha, mais pessoas, que antes não se preocupavam com a saúde, passam a se preocupar e procurar os serviços médicos, tanto para diagnóstico quanto para tratamento. E as campanhas de medição de pressão arterial, glicemia e colesterol total, frequentemente, são a primeira oportunidade que um paciente tem de fazer/confirmar um diagnóstico de doença cardiovascular e, a partir daí, iniciar um acompanhamento/tratamento”, frisa.

ESTATÍSTICA

Estêvão Lanna afirma que as doenças do coração matam muito porque as pessoas estão vivendo mais e, consequentemente, há mais quadros de hipertensão e diabetes também. “Além disso, ele diz que vários tratamentos para o câncer levam à disfunção cardíaca e insuficiência cardíaca.” Ele destaca que, a cada minuto, uma pessoa morre vítima de doença cardiovascular no mundo. “A estatística varia conforme a fonte. Uma boa referência é a Federação Mundial do Coração (World Heart Federation). Um quarto das mortes mundiais é causado pelas doenças do coração. E os números dependem das regiões avaliadas. Nos países em desenvolvimento e pobres, a incidência de doenças infecciosas é maior e as mortes cardiovasculares menos importantes. Se considerar Europa e EUA, como não morrem tantos de doenças infecciosas, as doenças do coração e os cânceres são a principal causa de mortes. Se considerarmos os com mais de 60 anos, são a principal causa de morte. A insuficiência cardíaca é a sexta causa de internações hospitalares (dados de 2012 da SBC) entre todas as idades e a terceira em pacientes acima de 60 anos (perde para pneumonia e câncer).”
Arte/EM
(foto: Arte/EM)


Ação para todos


Em 2012, começou a campanha Coração Alerta, com o objetivo de reduzir mortes por infarto. Com o slogan “Reduzir mortes por infarto é uma ação para todos”, a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) convidam a sociedade brasileira para participar da campanha, que tem como principal objetivo alertar a população dos riscos do infarto. A iniciativa tem como foco minimizar em 50% a taxa de mortalidade. Esse trabalho de conscientização visa educar as pessoas sobre os principais fatores de risco e sintomas, incentivando-as a procurar um especialista e fazer exames para prevenção e diagnóstico precoce. Reduzir mortes por infarto é uma atitude para todos, por isso, fique alerta.

Acesse o site www.coracaoalerta.com.br. Lá você confere vídeos, mensagens para redes sociais, eventos e dicas, entre outros. Participe dessa mobilização em prol da vida. O infarto não escolhe raça, sexo ou idade. “Quando o corpo ‘falar’, é sinal de que o coração está em alerta, por isso, procure socorro imediatamente”, alerta Hélio Castello, cardiologista e diretor da campanha.

Sinais e sintomas

- A primeira pista é um grande desconforto, causado por uma dor intensa sentida no centro do peito e irradiada para a mandíbula, pescoço, ombros e braços, principalmente o esquerdo

- A pessoa também pode ter uma sensação de desmaio, suor excessivo, náusea e falta de ar

- Tempo é vida, quanto maior o tempo perdido, maior o risco. É ideal que o paciente seja encaminhado para um hospital na primeira hora do início dos sintomas

 

- No Brasil, as vítimas de infarto demoram de duas a três horas para procurar auxílio, na maioria das vezes por confundir os sintomas de infarto com os de outros problemas

Amigos pela vida

A Casa de Saúde São José, hospital referência em cardiologia no Rio de Janeiro, desenvolveu a campanha Amigos pelo Coração (www.amigospelocoracao.com.br), lançada nas redes sociais. O projeto tem como objetivo conscientizar a população leiga sobre a importância da massagem cardíaca e de, consequentemente, salvar vidas. A campanha ganhou um parceiro de peso, a banda Barão Vermelho, que regravou o hit Meus bons amigos especialmente para o projeto. A canção tem o ritmo adequado (100bpm) para garantir a taxa correta de compressões durante o procedimento, que deve ser entre 100 e 120 compressões torácicas por minuto. Com a música na cabeça, o socorrista tem mais chances de fazê-lo de forma correta e eficaz.

Samantha Paixão/Divulgação
A atriz Giovanna Antonelli veste a camisa da campanha (foto: Samantha Paixão/Divulgação )
O médico Gustavo Gouvêa, cardiologista da Casa de Saúde São José e responsável pela campanha, explica que “ela tem o objetivo de levar informação sobre parada cardíaca para o público leigo. No Brasil, ocorrem mais de 100 mil paradas cardíacas fora do ambiente hospitalar por ano. A rápida e correta abordagem de pessoas nessa situação de gravidade máxima é determinante para o sucesso em reanimar a vítima e salvar a sua vida, por meio da realização da massagem cardíaca”.

Ele destaca que estudos mostram que menos de 5% da população se sente preparada para fazer de forma correta as manobras de reanimação. Gustavo explica que é importante que a manobra seja feita no ritmo e com a força certa, por isso a ideia de usar a música Meus bons amigos, do Barão, que tem o ritmo adequado (100bpm) para garantir a taxa correta de compressões durante o procedimento. “Com a música na cabeça, você não perde o ritmo.”

BEE GEES

Para saber mais, acesse o site www.amigospelocoracao.com.br e compartilhe com os amigos. Todos podemos salvar uma vida. “Precisamos tornar essa prática conhecida por todos e fazer treinamentos. A literatura internacional mostra que a ressuscitação cardiopulmonar feita por leigos treinados pode ser bem-sucedida entre 50% e 75% dos casos. O suporte básico de vida consiste em uma sequência de manobras para promover a sustentação circulatória, enquanto o socorro médico não chega. Em países da Europa e nos EUA, a massagem cardíaca é ensinada nas escolas. Aqui no Brasil há cursos, mas a maioria é pago.”

A inspiração para a campanha veio de fora. A American Heart Association e a British Heart Foundation, por exemplo, usaram a música Stayin’ alive, dos Bee Gees, em campanha do gênero, que teve enorme repercussão. Veja os vídeos: