Antibiótico de formiga poderá ser usado em humanos

Estudo sugere que algumas espécies de formigas são capazes de produzir potentes e promissores compostos para o desenvolvimento de um novo medicamento

por Sara Sane 09/03/2018 13:17
Magdalena Sorger/Divulgação
Comum nos EUA , a Solenopsis molesta produz antimicrobiano potente (foto: Magdalena Sorger/Divulgação)

Formigas, assim como outros animais, ficam doentes. Em alguns casos, combatem o problema com substâncias de efeito antibiótico produzidas por elas mesmas. Estudo feito por pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, mostra que esses “remédios” naturais são tão poderosos que têm potencial para uso em humanos. Detalhes do trabalho foram divulgados recentemente no jornal Royal Society Open Science.

Foram estudadas 20 espécies de formigas, que foram expostas à bactéria Staphylococcus epidermidis para que os pesquisadores avaliassem o efeito antibiótico da reação dos insetos. A espécie que produziu a substância mais poderosa foi a Solenopsis molesta, uma formiga muito pequena e comum nos Estados Unidos e no Canadá.

“Nós testamos o composto contra a Staphylococcus epidermidis, que é um micróbio comum na pele humana. Então, é possível que ações antimicrobianas produzidas por formigas possam matar agentes patogênicos que infectam humanos”, explica Clint Penick, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade do Arizona. O cientista ressalta que são necessários muitos outros testes para chegar ao uso clínico da substância.

Segundo a professora Márcia Renata Mortari, pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) que estuda a descoberta de novos medicamentos a partir do veneno de insetos, o estudo americano contribui para a ampliação de conhecimento de estratégias de proteção das espécies contra infecções e para a descoberta de novos antibióticos. “Os dados sugerem que algumas espécies de formigas são capazes de produzir potentes e promissores compostos para o desenvolvimento de um novo medicamento. Eles nos fornecem direcionamentos para busca de compostos promissores em formigas”, explica.

Mais estudos

Outra descoberta que chamou a atenção da equipe foi o fato de algumas das espécies analisadas não produzirem o antibiótico natural. “Isso vai contra a teoria popular que sugere que todas as espécies estão aptas a desenvolver agentes antimicrobianos”, diz Clint Penick.

Ele e a equipe também estão interessados nesses insetos porque, segundo Clint Penick, se todas as formigas lidam com doenças, essas devem ter achado um jeito diferente de prevenir e combater infecções. “Futuros estudos devem descobrir se elas podem usar antimicrobianos que são específicos para doenças que não estudamos”, cogita.

Resistente

É um micro-organismo que vive na pele humana. Quando está em equilíbrio, é inofensivo. Se não, pode causar doenças na pele e complicações mais severas, ao entrar na corrente sanguínea. Ocasionalmente, é um agente nosocomial, causando infecções severas em hospitalizados, recém-nascidos e pessoas com sistema imunológico deficiente. O tratamento para infecções estafilocócicas é difícil, pois essa bactéria é resistente a antibióticos como a meticilina, a oxacilina e a vancomicina.