É cada vez mais importante que os idosos sejam assistidos por geriatras

Atenção com a saúde na terceira idade é fundamental diante da crescente expectativa de vida da população

por Karen Santos 14/01/2018 07:00
Pierre Amerlynck/Freeimages
(foto: Pierre Amerlynck/Freeimages )

A geriatria é uma especialidade médica voltada para a prevenção, diagnóstico, tratamento clínico e reabilitação dos problemas relacionados ao envelhecimento das pessoas. O geriatra se prepara para lidar com a complexidade dos problemas médicos peculiares a essa fase da vida e, entre os principais objetivos dessa área médica estão a preservação e a recuperação da independência e da autonomia funcional ao máximo da capacidade das pessoas idosas. Uma vez que a expectativa de vida da população mundial e brasileira tem aumentado, é cada vez mais importante que os idosos, mesmo aqueles em perfeito estado de saúde, sejam acompanhados de perto por estes especialistas, de modo a envelhecer com maior segurança, saúde e qualidade de vida.

Maria Aparecida Camargos Bicalho, geriatra e professora da Faculdade de Medicina da UFMG, conta que visa tratar do paciente idoso, em especial aquele que é frágil ou está sob risco de fragilização. “O especialista é o profissional indicado para diagnosticar agravos à saúde, doenças e situações clínicas específicas do paciente idoso e gerenciar o cuidado do paciente por meio da elaboração de um plano de cuidados”, diz a médica, que também é vice-coordenadora do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da UFMG. Ela destaca que, em geral, a população idosa apresenta comorbidades múltiplas e, muitas vezes, realiza tratamentos com vários especialistas e usa diversos medicamentos, com associações, segundo ela, muitas vezes impróprias para esse paciente. “O geriatra, nesse caso, é responsável pelo gerenciamento do cuidado ao paciente, devendo priorizar as intervenções propedêuticas e terapêuticas, definir metas e tratamentos de acordo com o nível de fragilidade dele, algumas vezes substituindo ou mesmo suspendendo determinados medicamentos.”

Apesar do enfoque maior nos pacientes fragilizados, Maria Aparecida ressalta que os chamados “idosos saudáveis”, muitas vezes portadores de doenças crônicas estáveis e sem complicações, também podem ser atendidos por geriatras, a depender da situação. “Aqueles capazes de manter sua independência funcional e autonomia podem ser conduzidos por um clínico geral. Esse médico, diante de situações específicas do idoso, pode encaminhá-lo ao geriatra.” De acordo com a especialista, é importante que as metas apropriadas para o idoso sejam respeitadas e que o clínico fique atento para o risco de efeitos adversos do uso e associação de determinados medicamentos.

Além disso, é importante destacar que o encaminhamento do idoso para o geriatra não depende de uma faixa etária específica, visto que a idade cronológica nem sempre coincide com a biológica, mas sim do nível de fragilidade do paciente e de algumas doenças, situações clínicas e problemas próprios do envelhecimento, como os quadros demenciais, instabilidade postural com quedas de repetição, insuficiência familiar e imobilidade, entre outras. “De qualquer modo, o idoso precisa de acompanhamento médico para definição do seu estado clínico funcional, estabelecimento de plano de cuidados com definição de condutas preventivas e terapêuticas medicamentosas ou não, e, ainda, orientação para os familiares e cuidadores”, afirma a geriatra.

BEM-ESTAR

A importância do geriatra não está apenas no acompanhamento à terceira idade. Em primeiro lugar, porque esse profissional, geralmente, tem formação clínica, bem como outras especialidades médicas e, portanto, está apto para atender outros pacientes, independentemente da faixa etária. Em segundo, porque também é papel do especialista orientar a família na melhor maneira de lidar com seus entes mais idosos, ajudando a combater estigmas e preconceitos ligados ao envelhecimento, e promover, junto ao paciente, bem-estar e qualidade de vida, valorizando também seu estado emocional. Conforme João Carlos Barbosa Machado, professor de geriatria da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, esta é, inclusive, parte da rotina diária dos médicos da área.

Ele aponta que, na sociedade moderna, o conceito de bem-estar está intrinsecamente associado às preservações da autonomia para a tomada de decisões e da independência para ir e vir, o que não seria possível sem mente e corpo ativos. “É de suma importância, entretanto, valorizar também as convicções, as possibilidades, a história de vida de cada um, para que, além de saudável e ativo, o envelhecimento seja prazeroso, bem-sucedido ou com bem-estar, evitando-se a tirania das receitas e fórmulas preconcebidas”, expõe.

Faltam profissionais

Ainda que a geriatria seja um campo médico que vem crescendo bastante nos últimos anos, principalmente pelo aumento da expectativa de vida da população, o professor de geriatria João Carlos Machado diz que, em geral, a formação do profissional ainda está longe do ideal, e é prejudicada pela falta de profissionais especializados em geriatria e gerontologia. Além disso, boa parte das instituições de ensino ainda não tem disciplinas específicas para formação do profissional para atendimento ao paciente idoso. “O currículo médico, segundo recomendações do Ministério da Educação (MEC), deve contemplar todas as fases do ciclo de vida, mas, infelizmente, as disciplinas voltadas à saúde do idoso ainda não são obrigatórias na maioria das instituições de ensino superior públicas ou privadas”, comenta.

FORMAÇÃO

João Carlos ainda chama a atenção para o fato de que prestar um bom atendimento aos idosos não é responsabilidade exclusiva do geriatra, mas de todos os médicos e profissionais de saúde. O médico clínico do futuro, especialista ou não, deverá prover melhores cuidados aos idosos, com o uso mais apropriado das ferramentas para diagnóstico e tratamento das doenças comuns a essa faixa etária.

Ao mesmo tempo, deverá reconhecer a grande variabilidade das condições de saúde, valores e desejos dos idosos e, por isso, precisa de uma formação completa. “Com o envelhecimento da população, haverá cada vez mais pacientes com idade avançada em consultórios de praticamente todas as especialidades, e o profissional deverá compreender as diferenças entre envelhecimento normal e anormal, a apresentação atípica das doenças e síndromes geriátricas mais comuns, entre outras”, conclui.

SAIBA MAIS:
O que é gerontologia?

É o estudo do envelhecimento nos aspectos biológicos, psicológicos, sociais e outros. Esse campo científico e profissional se dedica às questões multidimensionais do envelhecimento e da velhice, tendo por objetivo a descrição e a explicação do processo de envelhecimento nos seus mais variados aspectos. É, por essa natureza, multi e interdisciplinar. Na área profissional, visa à prevenção e à intervenção para garantir a melhor qualidade de vida possível dos idosos até o momento final da sua vida. Os profissionais da gerontologia têm formação diversificada, interagem entre si e com os geriatras.

Fonte: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Dicas para envelhecimento saudável

» Alimentação

Uma nutrição saudável deve conter proteínas, carboidratos, vitaminas e sais minerais nas quantidades adequadas. Deve conter pouco açúcar e sal, ter baixo teor de gorduras e alta porcentagem de fibras.

» Vícios

Deixar de fumar representa um dos maiores passos em direção a uma vida saudável. O fumo atua como o maior fator de risco para uma lista interminável de doenças: infarto, enfisema e câncer de pulmão, entre outras. Além disso, evidências mostram que o fumante passivo também tem mais problemas de saúde. Sendo assim, se você fuma, faça um grande favor a você mesmo e aos outros: pare agora!. O álcool é a droga mais usada na nossa sociedade; o abuso do álcool não afeta somente o consumidor, mas, sobretudo, a sua família e os seus amigos.

» Atividade física

Entre os benefícios incluem-se o controle de fatores de risco cardiovasculares, o aumento da capacidade cardíaca e pulmonar, o fortalecimento dos ossos, dos músculos e das juntas. Isso sem levar em conta o bem-estar e o prazer de viver que a atividade física proporciona a todos que executam práticas regulares. Para ser efetiva e benéfica, no entanto, a atividade física deve ser regular, de três a quatro vezes por semana, de média duração (30 minutos) e de intensidade adequada para a faixa etária e o nível de condicionamento físico da pessoa. Dica: antes de iniciar suas atividades, não deixe de realizar uma avaliação médica, com o objetivo de conhecer os seus limites e/ou riscos envolvidos com a prática dos exercícios.

» Sono

O sono é vital para a nossa saúde. Dormir serve para consolidar a memória, repor as energias físicas e mentais e produzir as substâncias químicas necessárias para sermos criativos e desenvolver novas ideias. Para assegurar uma vida saudável e equilibrada, é essencial dormir pelo menos de seis a oito horas por noite.

» Mente, lazer e prazer

Preserve a sua autonomia e independência; mantenha o estresse sob controle; permaneça sempre ativo do ponto de vista intelectual: leia muito e exercite a sua memória; tenha atividades de lazer regularmente; valorize as suas amizades; evite tomar sol das 10h às 15h; pratique sexo seguro: use camisinha; adote normas de segurança e as adaptações físicas necessárias em sua casa.

» Prevenção

Exames básicos devem ser repetidos anualmente ou conforme a indicação do seu médico: colesterol, triglicérides, glicemia, urina e fezes. Fazer regularmente exames ginecológico, urológico, oftalmológico e odontológico. Controle sua pressão arterial. Caso você tenha mais de 50 anos, vacine-se regularmente contra a pneumonia e o herpeszoster. Depois dos 60, vacine-se contra a gripe, e, em todas as idades, contra o tétano.

Fonte: João Carlos Barbosa Machado, professor de geriatria da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais