Evitar o consumo de alimentos industrializados ajuda a ter uma vida longa e com saúde

Priorizar produtos vindos do hortifrúti, a chamada comida de verdade, é uma das melhores alternativas para o bem estar de todos

por Lilian Monteiro 18/09/2017 10:00
Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Falta de tempo, salada é sem graça, arroz integral é seco, produto orgânico é caro (e tem razão!), o cansaço torna mais rápido e prático comer qualquer coisa do fast food do que preparar a própria refeição ou lanche, só hoje... E você, qual a sua desculpa? Ahh, alimentos sugeridos por médicos e nutricionistas são caros, não têm sabor, difíceis de ter no dia a dia... Será? A lista é mesmo enorme e cada um tem a sua, defende como pode.

Mas Aline Penedo, nutricionista consultora do supermercado Verdemar, pós-graduada em nutrição clínica funcional e em nutrição esportiva funcional, faz uma provocação: “A primeira pergunta que me vem à cabeça é: 'Você quer ter uma vida longa e saudável?'. Se a pessoa falar que sim, eu diria que a primeira atitude a tomar é estar aberta para novas experiências. Ou seja, ter o desejo de se alimentar bem, ter curiosidade de provar novos sabores, testar diferentes formas de preparo daquele alimento que ela não gostava, utilizar ferramentas que temos na cozinha, como os temperos, que são capazes de trazer um sabor especial à comida”.

Outra questão a se pensar é se programar para se alimentar bem – preparar 'marmitas' para levar para a escola ou trabalho, evitando o consumo de alimentos indesejados para aquele momento. “Com relação aos produtos orgânicos, procure comprar alimentos da safra, já que assim eles costumam ter o preço mais acessível. No caso das frutas, é possível comprá-las quando estiverem com o preço melhor e congelar, para posteriormente preparar um suco. Em suma, quem quer mudar precisa de foco e disciplina, assim tudo fica mais fácil e logo os novos hábitos alimentares se tornam parte da rotina.”

Aline Penedo propõe caminhos para que o brasileiro volte a comer comida de verdade, que vença a luta contra a obesidade e todas as consequências ruins de uma alimentação de baixa qualidade. “O governo deve atuar em mídias de grande alcance, como a TV, rádio e internet, e incentivar a população a consumir alimentos saudáveis e com grande valor nutricional. Ações em creches, escolas e universidades contribuem para disseminar informações sobre a alimentação. Contratar nutricionistas e introduzir nas escolas uma matéria obrigatória sobre alimentação saudável e nutrição é uma maneira de resgatar os bons hábitos alimentares”, diz.

RÓTULOS NUTRICIONAIS

Para a nutricionista, evitar o consumo de alimentos industrializados e priorizar os alimentos vindos do hortifrúti ou colhidos na fazenda é uma das melhores alternativas para a população reduzir os industrializados. “Alimentos embutidos, enlatados, sucos em pó, refrigerantes, biscoitos, pães e bolos de maneira geral devem ser substituídos por alimentos saudáveis, como os integrais, frutas, oleaginosas, carnes magras, leguminosas e hortaliças. E se, mesmo assim, a pessoa procurar por um alimento industrializado, é importante se habituar a ler os rótulos nutricionais, que vão mostrar se aquele alimento é considerado saudável ou não - já que atualmente é possível encontrar alimentos saudáveis nas gôndolas dos supermercados. Inclusive, esse é um setor que vem crescendo e tomando cada vez mais seu espaço no mercado - o setor 'Bem-Estar' - onde você encontra alimentos nutricionalmente adequados para consumo.”

Arquivo Pessoal
"O acesso aos alimentos industrializados é muito simples. Além disso, as pessoas buscam por praticidade e acreditam que abrir uma embalagem é muito mais fácil do que descascar uma fruta" - Aline Penedo, nutricionista (foto: Arquivo Pessoal )

Difícil de acreditar (ou melhor, aceitar) que o brasileiro, vivendo num país tropical, com variedade de frutas, simplesmente não consome o mínimo suficiente para sua saúde. “O acesso aos alimentos industrializados é muito simples. Além disso, as pessoas buscam por praticidade e acreditam que abrir uma embalagem é muito mais fácil do que descascar uma fruta. A população deve ser conscientizada de que cuidar da saúde agora é muito melhor que tratar das doenças crônicas no futuro e depender de medicamentos de uso contínuo. O 'agora' é um investimento para o futuro e agir na prevenção é a melhor forma de se ter uma longevidade saudável”, alerta a nutricionista.

Quanto ao compromisso assinado em maio pelo Brasil, o Década de Ação em Nutrição da Organização das Nações Unidas (ONU), durante a Assembleia Mundial da Saúde, realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra (Suíça), traz esperança a Aline Toledo. Entre as metas buscadas (deter o crescimento da obesidade, aumentar o consumo de adultos de hortaliças e frutas, e diminuir a ingestão de refrigerante e sucos artificiais), a nutricionista afirma que é preciso o governo ter foco e total atenção na área da saúde, fornecendo recursos para que essas metas sejam alcançadas.

“Uma das ações que considero mais importantes é o incentivo ao pequeno produtor agrícola por meio da redução de impostos e subsídios para a aquisição de ferramentas para o plantio e colheita dos alimentos. Dessa maneira, deve-se estimular as famílias a comprar esses produtos para que eles façam parte da rotina da casa - tais como frutas, legumes e hortaliças em geral. Essa é uma maneira fácil de fazer com que todos tenham acesso a alimentos frescos e saudáveis, independentemente do local onde moram. Além disso, tem toda a questão da geração de empregos e renda para as famílias com menor condição financeira.”

MUDANÇA

Para Aline Penedo, um dos aspectos que devem ser trabalhados é o acesso à informação, já que muitas vezes as pessoas consomem os alimentos industrializados de maneira exagerada, sem medir as consequências, e por achar que eles são mais baratos que os naturais. Palestras de nutrição e alimentação saudável são importantes para que seja criada uma consciência a respeito. “E quando falamos em atitudes para 'atacar' essas três áreas, é necessário pensar na fonte da mudança que esperamos - as crianças. Durante os primeiros anos de vida, a criança forma o seu paladar e é nesse momento que ela solidifica os hábitos alimentares que levará para o resto da vida. Os pais têm papel fundamental, então toda a família deve estar envolvida nesse processo. Aliado à família, o governo deve fornecer alimentos saudáveis e indicados para consumo nas creches, onde, muitas vezes, a criança fica em tempo integral e faz ali todas as suas refeições. Os cozinheiros também devem ser treinados para o preparo desses alimentos, e os professores devem incentivar e acompanhar o momento da refeição.”

Yoorin/Divulgação
(foto: Yoorin/Divulgação)
Palavra de especialista
Yuji Ieiri, agrônomo

Responsabilidade social e ambiental

“Com relação à nutrição das plantas, para que cresçam, se desenvolvam e produzam frutos saudáveis, garantindo boa produtividade e alta qualidade, são essenciais os nutrientes e minerais. Os elementos minerais são classificados em dois grupos: macronutrientes e micronutrientes. O primeiro é exigido em grandes quantidades e englobam o nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre. Já os micronutrientes são exigidos em menores quantidades, mas são tão importantes quanto os principais, e contemplam o boro, cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, níquel e zinco. Outros elementos, como cobalto, selênio e silício são considerados nutrientes benéficos. O bom funcionamento e desenvolvimento do organismo é resultado de uma alimentação balanceada, com quantidade adequada de vitaminas e minerais. As boas escolhas também envolvem estar atento à forma como esses alimentos são produzidos e à sustentabilidade do processo produtivo. Dessa forma, o desenvolvimento de fertilizantes não químicos e com produção ecologicamente correta, que asseguram longevidade ao solo e contribuem para uma agricultura sustentável e de grande capacidade produtiva, são mais assertivos para lavouras focadas na qualidade e, acima de tudo, na responsabilidade social e ambiental.”

Canal com o cidadão

Está à disposição da população, no endereço www.saude.gov.br/saudebrasil, um canal exclusivo de informação sobre promoção à saúde voltada ao cidadão. Com foco em quatro pilares - “Eu quero parar de fumar”, “Eu quero ter um peso saudável”, “Eu quero me exercitar” e “Eu quero me alimentar melhor” -, a ferramenta reúne conteúdos, serviços e a voz de especialistas para apoiar a população a mudar seus hábitos em prol de uma vida mais saudável e com qualidade. A plataforma é dinâmica e conta até com as sugestões da população, que poderá usar um canal feito especialmente para se manifestar, narrar suas histórias de superação e mostrar que é possível se tornar mais saudável.