Neurônio percebe os diferentes tons de voz

Células nervosas processam as palavras e também como elas são ditas

por Selecione 02/09/2017 13:49
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(foto: Divulgação)

As mudanças no tom vocal durante o discurso — o que os linguistas definem como prosódia da fala — são uma parte fundamental da comunicação humana. Em línguas tonais como o mandarim, as alterações na altura da voz podem mudar completamente o significado de uma palavra. Curiosos com o tema, um grupo de pesquisadores americanos resolveu analisar como o cérebro identifica essas variações e descobriu os neurônios responsáveis por essa tarefa. Os achados foram publicados na edição de 24 de agosto da revista Science.

No trabalho, foram analisadas 10 pessoas que aguardavam uma cirurgia para a retirada de tecido cerebral, que causa convulsões em pacientes com epilepsia. Durante a preparação do procedimento médico, foram colocados pequenos eletrodos na superfície do cérebro dos pacientes para ajudar na identificação do ponto que desencadeia as convulsões e no mapeamento de outras áreas neurais relacionadas, como regiões envolvidas na linguagem, a fim de evitar que a cirurgia as danifique.

Os participantes ouviram a gravação de quatro frases, ditas em três tons distintos. Os cientistas monitoraram a atividade elétrica dos neurônios relacionados à área auditiva, presentes no giro temporal superior (STG), e detectaram que alguns neurônios agiam quando o voluntário era convidado a apontar os três tons em que as palavras foram ditas. “Uma das missões do nosso laboratório é entender como o cérebro converte os sons em significado. O que estamos vendo aqui é que existem neurônios no neocórtex do cérebro que estão processando não apenas as palavras que estão sendo ditas, mas como essas palavras são ditas”, explicou, em comunicado, Claire Tang, uma das autoras do estudo e pesquisadora da Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos.

Os cientistas comemoraram o resultado, mas acreditam que muito ainda precisa ser estudado para entender a fundo como o cérebro processa os tons da voz. Eles também destacam que testes futuros poderão ajudar a compreender como esse órgão controla a fala. Trata-se de tema desconhecido, pois é impossível realizar esse tipo de experimento com animais. De acordo com o grupo, o mapeamento cerebral pós-cirúrgico usado no experimento atual poderá ajudar nessa tarefa.