Exame de sangue ajuda a prever eficácia do tratamento do câncer de próstata

Doença representa a quinta principal causa de morte por tumores na população masculina

Estado de Minas 09/06/2017 14:17
Reprodução/Internet/Hippo Drs.
(foto: Reprodução/Internet/Hippo Drs.)

Um teste de sangue inovador poderá ajudar a prever se homens com câncer de próstata em estágio avançado responderão aos novos tratamentos contra a doença, de acordo com um estudo realizado por cientistas britânicos. O novo método ainda está sendo estudado, mas os resultados preliminares são animadores, segundo autores do estudo. O câncer de próstata é um tipo particularmente letal porque é detectado normalmente muito tarde para o tratamento eficaz. O câncer de próstata é  o segundo mais comum entre os homens no mundo e a quinta principal causa de morte por câncer na população masculina.

Os cientistas, liderados por Gerhardt Attard, do Instituto de Pesquisa do Câncer (Reino Unido), conseguiram detectar o DNA de células cancerosas no sangue de homens e localizar algumas delas com várias cópias de um gene importante para o crescimento de diversos tumores de próstata.

Os homens com várias cópias desse gene - conhecido como gene do receptor androgênico - tiveram maior resistência ao tratamento com abiraterona e enzalutamida - que atualmente são as drogas usadas no tratamento padrão para o câncer de próstata avançado.

De acordo com Attard, utilizando o teste de sangue, esses homens poderiam evitar tratamentos que provavelmente não funcionariam para ele se os médicos poderiam oferecer outras alternativas.

“A abiraterona e a enzalutamida são excelentes tratamentos para o câncer de próstata avançado e alguns homens podem tomar essas drogas por anos sem que o câncer volte a surgir. Mas, para outros homens, essas drogas não funcionam bem e a doença volta rapidamente. Atualmente não há nenhum teste aprovado para ajudar os médicos a escolher os melhores tratamentos para cada indivíduo”, afirmou Attard.

Segundo ele, o teste terá que ser avaliado em ensaios clínicos, mas, caso seja aprovado, custará menos de 50 euros (cerca de R$ 210) e poderá ser usado em consultórios médicos para personalizar os tratamentos.

“Desenvolvemos um teste robusto que poderá ser usado na clínica para decidir quais homens com câncer avançado de próstata têm mais probabilidade de responder ao tratamento com abiraterona e enzalutamida e quais precisarão de tratamentos alternativos”, disse Attard.

O estudo, que também teve participação de cientistas do Royal Marsden NHS Foundation Trust, também no Reino Unido, foi publicado na revista científica Annals of Oncology.

COMO FOI

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"Atualmente, não há nenhum teste aprovado para ajudar os médicos a escolher os melhores tratamentos para cada indivíduo" - Gerhardt Attard, cientista do Instituto de Pesquisa do Câncer (Reino Unido), coordenador do estudo (foto: Reprodução/YouTube)

Os pesquisadores analisaram as amostras de sangue de 265 homens com câncer de próstata avançado antes e depois do tratamento com abiraterona e enzalutamida. O estudo incluiu pacientes que nunca receberam quimioterapia e outros que já haviam recebido esse tipo de tratamento.

No teste preliminar com 171 pacientes, os homens cujo teste detectou múltiplas cópias do gene de receptor androgênico tiveram uma probabilidade quatro vezes maior de morrer durante o estudo, em comparação aos demais pacientes.

Os resultados foram então confirmados em um segundo grupo de 94 pacientes, no qual os homens com múltiplas cópias do gene tiveram uma resposta oito vezes menos eficiente ao tratamento, em comparação aos homens que possuíam apenas uma ou duas cópias do gene.

O receptor androgênico é conhecido por seu papel importante no processo que leva o câncer de próstata a se tornar resistente aos tratamentos com abiraterona e enzalutamida. Esses tratamentos são utilizados em homens cujo câncer é resistente à tradicional terapia de bloqueio hormonal e que já se espalhou pel ocorpo.

TÉCNICA IMPEDE MULTIPLICAÇÃO DE CÉLULAS CANCERÍGENAS

Uma das características do câncer que mais dificultam o seu combate é o crescimento anormal e incontrolável das células doentes. Pesquisadores norte americanos identificaram uma proteína presente no ciclo de proliferação dos tumores cancerígenos que, ao ser silenciada, pode retardar a evolução rápida e altamente prejudicial da doença. Testes em laboratório feitos com tumores humanos surtiram resultado positivo, o que leva a equipe a acreditar que poderá desenvolver um tratamento mais eficaz contra os carcinomas.

Todasas células têm um ciclo em que uma série de eventos desencadeia o seu crescimento e a sua divisão ordenada. No câncer, porém, há um desequilíbrio, com uma divisão descontrolada que leva as células a invadirem diversos tecidos do corpo. Os pesquisadores identificaram que a proteína Tudor-SN desempenha umpapel importante durante o ciclo celular, principalmente no período preparatório, antes de a estrutura começar a se dividir. Eles usaram, então, uma tecnologia de edição de genes, chamada CRISPRCas9, para eliminar a Tudor-SN em células de câncer de rim e colo de útero.

A intervenção fez com que as células levassem mais tempo para se preparar para a divisão, ou seja, a perda da proteína retardou o ciclo celular. “Sabemos que a Tudor-SN é mais abundante em células cancerosas do que nas saudáveis, e nosso estudo sugere que o direcionamento dessa proteína poderia inibir o crescimento rápido de células cancerosas”, declarou, em comunicado à imprensa, Reyad Elbarbary, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores também descobriram que a Tudor-SN influencia o ciclo celular porque controla micro RNAs - moléculas que atuam na expressão de milhares de genes. Quando a proteína é removida das células, os níveis de micro RNAs sobem, colocando “freios”em genes que estimulam o crescimento celular. “Com esses genes na posição ‘desligada’, a célula se move mais lentamente na fase preparatória, antes da divisão celular. Como as células cancerosas têm um ciclo celular defeituoso, perseguir fatores envolvidos no ciclo celular é uma avenida promissora para o tratamento do câncer”, frisou Lynne E. Maquat, pesquisadora do Centro de Biologia do RNA, e também autora do estudo.

Maquat apresentou um pedido de patente para o tratamento e adianta que as próximas etapas de investigação analisarão quais moléculas e proteínas poderão ajudar a silenciar a Tudor-SN. Segundo ela, já existem compostos que podem bloquear a ação da proteína. A pesquisa atual foi detalhada pela revista Science.