SUS oferece em até 180 dias antirretrovirais para "bloquear" infecção por HIV

Acesso será restrito a grupos de risco. Brasil é o primeiro país da América Latina a adotar a profilaxia

por Estado de Minas 25/05/2017 16:05
Reprodução/Internet/Huffington Post
(foto: Reprodução/Internet/Huffington Post)

Brasília -
O Sistema Único de Saúde (SUS) vai passar a ofertar para pessoas consideradas de comportamento de alto risco para HIV o uso preventivo de antirretrovirais. Os remédios hoje são indicados para tratar a infecção ou, em casos de acidente, para evitar a contaminação depois da exposição a uma situação de risco. Essa terceira estratégia, conhecida como Profilaxia Pré-Exposição (PrEp), é feita a partir do uso diário do remédio. O antirretroviral serviria, portanto, como um “bloqueador” da infecção.

O protocolo sobre a forma do uso do medicamento deverá ser publicado no Diário Oficial da União na próxima segunda-feira. No mesmo dia, será publicada a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que o antirretroviral, o truvada, possa ser usado também na pré-exposição.

A oferta do medicamento, no entanto, não será imediata. Serviços de referência começam a distribuir o remédio para pacientes selecionados em 180 dias. No primeiro momento, a distribuição dos antirretrovirais para PrEP será feita em 11 capitais e também em Ribeirão Preto (SP). A expectativa é de que, decorrido um ano do início do programa, a oferta já esteja em todas as capitais.

“A PrEP não é uma pílula mágica”, alertou a diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, Adele Benzaken. “Pessoas que iniciarem a estratégia devem manter o uso da camisinha.” O Brasil é o primeiro país da América Latina a incorporar a estratégia. Desde 2013, cinco estudos foram conduzidos no país para avaliar a eficácia da medida. O objetivo principal é reduzir o número de pessoas infectadas e, com isso, de circulação do vírus.

A indicação da PrEP não é para a população em geral. Seu uso será permitido para pessoas com mais de 18 anos que sejam consideradas de maior risco, como profissionais do sexo, transexuais, homens que fazem sexo com homens e casais sorodiscordantes – quando um é HIV positivo e o outro não.

José Cruz/Agência Brasil
"A PrEP não é uma pílula mágica. Pessoas que iniciarem a estratégia devem manter o uso da camisinha" - Adele Benzaken, diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (foto: José Cruz/Agência Brasil)
O uso também não será automático. Pessoas que se encaixam nesse perfil devem fazer exames para verificar se já não são portadoras do vírus e, sobretudo, se estão dispostas a manter o uso do medicamento por um período de tempo.

“A proteção contra o HIV não é imediata. As pessoas que vão fazer uso da terapia precisam tomar o remédio todos os dias. A proteção começa a partir do 7º dia para exposição por relação anal e a partir do 20º dia para exposição por relação vaginal”, disse Adele.

CUSTO

A estimativa é de que 7 mil pessoas façam o tratamento por PrEP por ano. O custo anual do tratamento é estimado em US$ 275 por paciente. O investimento inicial será de US$ 1,9 milhão na aquisição de 2,5 milhões de comprimidos.

Adele disse que a população atendida não é pequena. “Nem todos se encaixam nesse perfil. Além disso, com o acompanhamento, algumas pessoas podem reduzir o número de parceiros e considerar que já não é mais necessária a prevenção por meio de antirretrovirais”, completou.

As primeiras cidades que vão receber o medicamento são: Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Rio, São Paulo, Fortaleza, Recife, Manaus, Brasília, Florianópolis, Salvador e Ribeirão Preto (SP). Esses municípios foram escolhidos porque já participaram dos cinco projetos desenvolvidos com PrEP no Brasil ao longo dos últimos anos. “Os profissionais já estão capacitados”, disse Adele.

HIV no Brasil

Dados do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde revelam que 827 mil pessoas vivem com HIV/Aids no Brasil atualmente. Desse total, 372 mil ainda não estão em tratamento, sendo que 260 mil já sabem que estão infectadas e 112 mil não sabem que têm o vírus. A Aids, no país, é considerada uma doença estabilizada, com taxa de detecção em torno de 19,1 casos para cada 100 mil habitantes. Ainda assim, o número representa cerca de 40 mil novos casos ao ano.