Ocorrência de espinhas e cravos na idade adulta preocupa muitas mulheres

O problema tem tratamento e raramente está ligado a fatores hormonais, ao contrário do que se imagina

por Revista do CB 17/11/2016 15:00
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
A estudante Bárbara Mendes estranhou o aparecimento tardio de espinhas (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Mulheres adultas podem se deparar com a acne. E não tem jeito: ela incomoda tanto quanto a da adolescência. Na puberdade, a estudante Bárbara Mendes, 21, não se preocupava com essa questão. Tinha espinhas de vez em quando, mas nada que a incomodasse. Porém, a partir dos 19 anos, começaram a surgir em excesso. Hoje, o problema está sob controle, mas as marcas a aborrecem. “Achei estranho o surgimento da acne depois de mais ‘velha’. Ninguém merece, né? Mas acho que os hormônios e a alimentação têm muita influência nisso”, especula. A jovem faz uso de alguns produtos que a ajudam a controlar a oleosidade, como sabonete, leite de rosas e um protetor específico. “Mas quando estou no período, a quantidade aumenta muito, não tem jeito.”

Além de ser trabalhoso cuidar da doença inflamatória, há um abalo na vaidade. “Acho legal a gente falar sobre autoestima também. Não é comum ter acne na minha idade e essa é uma fase que estamos buscando empregos, namorados e nos descobrindo como jovens adultos”, reclama a estudante. Como forma de evitar o surgimento de novas espinhas, ela foca em uma alimentação mais saudável, com menos gordura e livre de fast-food.

Segundo a dermatologista Regina Santos, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, considera-se acne da mulher adulta o quadro acneico após os 25 anos. Geralmente, é um prolongamento das espinhas adolescentes (acne persistente) ou uma ocorrência após um período de melhora (acne recorrente). É classificada como inflamatória ou não inflamatória, com graus que variam de leve a grave, a depender do número e do tamanho das lesões.

Assim como Bárbara, a assessora de marketing Bruna Baioneta, 22 anos, que convive com a acne desde os 13, afirma que o problema chegou a prejudicar sua vida social. “Eu já estou velha para espinhas tão horríveis e via as pessoas comentando na rua. Era péssimo, não queria fazer mais nada.” Quando adolescente, procurou um especialista que pudesse receitar um tratamento. “Acho que já fiz todos os tipos de intervenções que existem: sabonetes específicos, ácido, pomadas, manipulação de produtos e tudo mais. Sem contar as limpezas de pele que fazia com frequência.” Porém, a inflamação não deu trégua.

Foi assim que, em conjunto com seu dermatologista, optou pelo tratamento com isotretinoína, medicamento mais conhecido como Roacutan, que só deve ser feito em último caso, pois atrofia as glândulas sebáceas e tem efeitos colaterais severos.  “Desde o começo do ano, estou tomando o remédio e vejo uma enorme diferença. Sou outra pessoa e ainda faltam 3 meses para acabar. Depois, só vou precisar fazer um tratamento a laser para tirar as manchas que ficaram”, comemora.

A medicação e cuidados escolhidos para tratar a acne dependerão do tipo de acne, variando desde uma simples limpeza com produtos específicos, até o uso de medicamentos tópicos e/ou sistêmicos, como antibióticos, retinoides e terapia hormonal. Além disso, suavizam-se as cicatrizes com peelings, aplicação de laser ou fototerapia.

A pele naturalmente oleosa sempre deu trabalho à administradora financeira Camila Zanuto, 26 anos. Desde a adolescência, ela investe em limpezas trimestrais, pomadas antibióticas e cremes específicos para o rosto e para as costas. “É uma característica de família. Eu uso os produtos e, hoje em dia, a quantidade de espinhas diminuiu drasticamente. Se eu seguisse o tratamento à risca, talvez não tivesse mais acne, mas acabo me esquecendo de um produto ou outro.”

O período pré-menstrual pode ser mais complicado para Camila. “Quando espremo também piora, mas logo passo a pomada e elas somem em dois ou três dias”, acrescenta. De acordo com o dermatologista especialista na área de saúde da pele (cosmiatria) André Marinho, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diferentemente do que se imagina, apenas uma pequena parte (cerca de 30%) dos quadros de acne da mulher adulta tem relação com alterações hormonais.

Outras causas para esse tipo de acne são: estresse, alimentos com alto índice glicêmico, hereditariedade, banhos quentes, tabagismo e, principalmente, uso errado de cosméticos. “É muito comum as mulheres comprarem cosméticos por conta própria e isso não é certo. Mesmo para comprar apenas um filtro solar, é sempre prudente consultar um médico especialista”, diz André. Para ter um diagnóstico correto, é essencial a visita ao dermatologista.

Tire suas dúvidas
O dermatologista Marcelo Brollo, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, esclarece algumas dúvidas bastante comuns sobre acne na idade adulta.

Qual é a diferença entre acne e espinha?
Espinha é o nome popular da acne e se subdivide em quatro graus, sendo eles: cravos; bolinhas vermelhas e pontos de pus; nódulos profundos; e cistos. Quando os cistos encontrados na acne grau 3 se comunicam, formam túneis. É um quadro mais raro e severo.

Quais são as possíveis causas da acne na fase adulta?
Mulheres com distúrbios hormonais (por exemplo, a síndrome dos ovários policísticos) têm maior chance de terem acne, mas elas são minoria. Geralmente, o quadro ocorre por uma maior sensibilidade da pele a fatores inflamatórios do sangue.

Existe alguma forma de prevenir a acne na idade adulta?
Primeiro, adotar bons hábitos de vida (dieta balanceada, dormir bem, beber bastante água, evitar fumo e praticar atividades físicas). Segundo, realizar tratamentos dermatológicos preventivos, com sabonetes e filtros solares adequados. Em terceiro lugar, evitar uso de hormônios e suplementos que provocam acne — a suspensão do uso da pílula anticoncepcional também pode ser causa de surtos de acne.