Medo que congela: entenda o que faz o organismo "travar" diante de ameaça

A ciência acredita que essa paralisia temporária está relacionada a mecanismos primitivos de defesa

por Gláucia Chaves 20/10/2016 13:00
A notícia da morte do ator Domingos Montagner, 54 anos, pegou todos de surpresa. O ator se afogou nas águas do rio São Francisco durante um mergulho pós-gravações. Ao contar sobre o caso, a atriz Camila Pitanga, que presenciou o afogamento, relatou que o colega parecia não conseguir se mover. Conhecido popularmente como paralisia traumática, congelamento ou choque, o episódio é muito comum em casos de perigo extremo. “Pesquisadores da área de fisiologia do medo entendem essa reação como parte da cascata de eventos que ocorrem diante de uma situação de perigo”, detalha a psiquiatra Helena Moura.

A médica explica ainda que o mecanismo é uma forma de defesa. Assim que o perigo é percebido, há intensa liberação de adrenalina, dando mais energia e força para o corpo reagir — seja correndo, nadando, seja lutando contra a ameaça. Em alguns casos, contudo, o organismo, mesmo repleto de adrenalina, não reage. “Em animais, nos quais esse mecanismo é mais bem estudado, essa é uma forma de fugir da atenção do predador, muito sensível para detectar movimentos”, explica Helena Moura. “Assim, a presa fica de olho no predador ao mesmo tempo que tenta passar despercebida, podendo deixar a luta ou fuga apenas para o caso de esse mecanismo falhar.”

A ciência ainda não sabe por que algumas pessoas enfrentam a paralisia após eventos traumáticos, mas, segundo Helena Moura, alguns estudos indicam que o fenômeno está relacionado à exposição prévia a outros perigos. “Imobilidade tônica é uma reação que pode surgir quando a luta ou a fuga falhou, ou quando o indivíduo percebeu que não havia outra alternativa”, completa. Aqui, ao contrário do congelamento, o corpo não está pronto para reagir e há um relaxamento da musculatura. No mundo animal, seria o equivalente ao “fingir-se de morto” — uma tentativa de fazer o predador perder o interesse pela caça. “Em humanos, tem sido descrito em casos de estupro (e tem ajudado alguns advogados a defender suas vítimas da acusação de que não reagiram propositalmente), entre sobreviventes de ataques de guerra e também entre vítimas de acidentes de carro.”

Valdo Virgo / CB / D.A Press
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