Tecnologia de ponta ajuda a tratar tumores no pulmão

Doença é relacionada ao tabagismo, mas mesmo quem nunca fumou pode desenvolvê-la. Como a maioria dos cânceres, se diagnosticado no início, há chances de cura

por Carolina Mansur 31/07/2016 09:24
Euler Junior/EM/D.A.press
(foto: Euler Junior/EM/D.A.press)

Pelo menos 2,3 mil pessoas devem lutar contra o câncer de pulmão este ano em Minas Gerais. No país, a estimativa do Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) é que 28,2 mil pessoas sejam diagnosticadas com a doença, que não atinge somente quem tem histórico de tabagismo. A cada 100 mil homens mineiros, 14 devem desenvolver a doença em 2016, enquanto a proporção para mulheres é de 100 mil para sete que podem ter o tumor. Considerado o quarto tipo de câncer mais comum no país e um dos mais agressivos, a doença é frequente em pessoas com mais de 55 anos e ex-fumantes e exige diagnóstico precoce para garantir mais chance de cura e qualidade de vida.

Uma das novidades no tratamento do câncer de pulmão é o exame PET-CT, com tecnologia de ponta voltada para o diagnóstico, mas também para o monitoramento da efetividade da quimioterapia, radioterapia ou imunoterapia. “O gating respiratório, que nos permite ver o pulmão se movimentando paralelo ao tumor, e o planejamento de radioterapia pelo PET-CT são tecnologias que só temos aqui. Esse aparelho dá ao cirurgião mais informações sobre o local para se fazer a biópsia e também sobre o porte da cirurgia”, conta o coordenador do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital Mater Dei, Leonardo Lamego. Na capital, o exame, de tecnologia única na América Latina, é oferecido pelo hospital.

“O diagnóstico do câncer de pulmão deve ser feito o mais rápido possível, porque ele é sempre agressivo e quando o paciente tem muitos sintomas, geralmente é porque já está com a doença avançada. Num estágio precoce, o tumor, encontrado durante um diagnóstico ocasional, tem mais chances de tratamento curativo por meio de cirurgia”, diz o cirurgião de tórax Daniel Bonomi, da Rede Mater Dei, em Belo Horizonte. A investigação sobre um possível câncer de pulmão começa por meio de alguma alteração em exames de imagem, como raios X e tomografia, ou de sintomas como mudança no padrão da tosse, falta de ar, dor no peito, escarro com sangue e perda de peso.

Atualmente, segundo o oncologista do Hospital Integrado do Câncer Mater Dei Alexandre Jácome, existem subtipos distintos de câncer de pulmão, e alguns têm mais relação com o tabagismo que outros. Um deles, o adenocarcinoma, aparece, inclusive, em mulheres que nunca fumaram. “Quem fuma, já fumou ou tem histórico de tabagismo tem risco maior do que quem não fumou, mas não quer dizer que quem não fumou não vá desenvolver um tumor desses”, pondera. Entre os primeiros passos do tratamento está a realização de tomografia, para analisar as características anatômicas e morfológicas do órgão. Se identificado o tumor, o paciente passa ainda por avaliação do abdômen, esqueleto e do sistema nervoso central para saber qual é o estágio da doença, além de ressonância nuclear magnética de crânio.

Os pacientes com suspeita de câncer de pulmão passam ainda por avaliação clínica do organismo antes de ser ou não encaminhados para cirurgia. No Brasil, a idade mediana do diagnóstico é de 63 anos, enquanto nos Estados Unidos é de 71 anos. Nos casos diagnosticados, a retirada do tumor por meio de cirurgia aparece, segundo o cirurgião torácico da Rede Mater Dei de Saúde Marcelo Juntolli, como a melhor forma de tratamento para o câncer de pulmão localizado. “Uma vez retirada a parte do pulmão em que o tumor se encontra, são também retirados os gânglios linfáticos, que são examinados. Eles são parte importante do tratamento, pois se estiverem comprometidos, as chances de cura diminuem de forma exponencial e isso que vai exigir outros tratamentos”, afirmou.

As cirurgias para este tipo de tumor também registraram avanços nos últimos anos. Um deles é a cirurgia por videotoracoscopia, que é minimamente invasiva e realizada por meio de pequenos orifícios na pele, e que permite uma recuperação mais rápida do paciente. “Antigamente, para operar essas lesões fazíamos um corte enorme, mas hoje, pelas pequenas incisões, conseguimos fazer o mesmo tratamento oncológico”, conta Daniel Bonomi. O médico destaca ainda a tecnologia presente em uma das salas de cirurgia do Mater Dei, conhecida como sala híbrida, onde há um aparelho de tomografia que permite o diagnóstico de onde está um pequeno nódulo mesmo durante a cirurgia.

Nova opção terapêutica
Acaba de chegar ao Brasil o primeiro medicamento de administração oral indicado para o tratamento do câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC) avançado relacionado a uma alteração genética específica (fusão EML4-ALK). O crizotinibe, disponível desdem meados de julho, representa um importante exemplo da aplicação da medicina de precisão para o tratamento oncológico. Ao focar em um grupo mais restrito de pacientes, com características genéticas semelhantes, esses medicamentos são direcionados a alvos muito específicos, melhorando as chances de respostas efetivas ao tratamento. Seguindo a linha da medicina de precisão, o medicamento age inibindo uma enzima produzida pela fusão dos genes ALK e EML4 que favorece a multiplicação das células tumorais no pulmão. Ao inibir essa enzima, o medicamento dificulta o desenvolvimento e a sobrevivência das células cancerígenas, o que pode levar à estabilização da doença ou, até mesmo, à sua regressão. Os estudos clínicos envolvendo o crizotinibe tanto para primeira como para segunda linhas de tratamento, mostram que os pacientes tratados com o medicamento apresentaram uma sobrevida livre de progressão da doença (SLP) superior em relação à terapia-padrão até então utilizada contra esse subtipo de tumor.

O câncer de pulmão pode se apresentar, basicamente, de duas formas principais, cada uma com características próprias de crescimento e de disseminação, assim como de tratamento: tumores de células pequenas (CPPC) e de não pequenas células (CPNPC). Essa última categoria, que se desenvolve a partir das células epiteliais, representa de 85% a 90% do total de casos de tumores pulmonares. O câncer de pulmão de não pequenas células apresenta três subtipos, dependendo do tipo de célula do qual se origina (o de células escamosas, o adenocarcinoma e o carcinoma de grandes células). As estatísticas a respeito da sobrevida em pacientes com câncer de pulmão variam conforme o estadiamento da doença no momento do diagnóstico. Apesar de o prognóstico para o câncer de pulmão não ser otimista, alguns pacientes com a doença em estágio inicial podem ser curados. Estima-se que cerca de 3% a 5% dos pacientes com CPNPC apresentem alterações no gene ALK. Embora já esteja claro que essas alterações representam fatores-chave no desenvolvimento do tumor, suas causas ainda não estão totalmente esclarecidas. Sabe-se, no entanto, que os quadros de CPNPC com essa alteração são mais frequentes em pacientes jovens, asiáticos e mulheres, ao passo que os outros tipos de câncer de pulmão são comumente associados ao tabagismo.

Rádio e Químio
No câncer de pulmão localmente avançado, a radioterapia tem papel importante, enquanto nas lesões disseminadas a quimioterapia é a medicação determinante no tratamento por alcançar várias regiões do corpo, por meio da corrente sanguínea. Nos casos em que o câncer atinge outros órgãos, os pacientes têm a qualidade de vida aumentada por meio de tratamentos igualmente tecnológicos e direcionados. Segundo Alexandre Jácome, o paradigma sobre o câncer de pulmão metastático, que é frequentemente associado com morte ou vida curta, mudou na última década.

Entre os avanços, Jácome lembra o aprofundamento do conhecimento da biologia molecular e na medicina personalizada, de precisão ou genômica, onde o tratamento é feito de acordo com o genoma de cada pessoa. Há também avanços nos medicamentos que tratam os efeitos colaterais da quimioterapia, que são estigmas do tratamento. “No câncer metastático, a quimioterapia continua ativa, mas hoje é perfeitamente possível fazer químio sem efeitos colaterais. Pesquisas recentes apontam que mais de 80% dos pacientes já são tratados sem o registro desses efeitos colaterais”, comenta.

No Brasil, o câncer de pulmão em estágio avançado ainda é o mais comum nos hospitais e para frear este tipo de tumor a orientação é que os pacientes façam acompanhamento médico, além de um checape oncológico. “O checape oncológico é direcionado, principalmente, a pessoas acima dos 40 anos, todos acima dos 50, e para pessoas que tenham histórico familiar, independentemente da idade”, diz Jácome. Na Rede Mater Dei, pacientes com doenças cardiológicas, pneumológicas ou vasculares periféricas podem fazer seus exames de rotina no Mais Saúde Mater Dei, núcleo do hospital que reúne equipe multiprofissional para o acompanhamento de pacientes crônicos.

MITOS E VERDADES
Só fumante desenvolve câncer de pulmão.
Mito. Hoje é observado o crescente surgimento de tumor em pacientes que nunca fumaram.

Todo câncer no pulmão é grave.
Verdade. Os tumores de pulmão em geral são agressivos.

Um nódulo no pulmão é sempre maligno.
Mito. Um nódulo no pulmão não é sempre maligno. Mas é preciso perguntar primeiro em quem está o nódulo: se em um jovem, que não fuma, há maior chance de que não seja tumor. Por outro lado, se for em pessoa idosa fumante, já aumenta muito o risco. O nódulo em si não quer dizer que é tumor e as chances de ser tumor ou não dependem de vários aspectos. Nódulo no pulmão pode ser uma tuberculose, uma infecção fúngica e, por isso, é preciso ter uma equipe multidisciplinar para fazer o melhor tratamento possível.

Se descoberto no início, há mais chances de cura para o câncer de pulmão.
Verdade. Se descoberto no estágio inicial, o tumor pode ser retirado por cirurgia, passa pelo tratamento indicado, e o paciente tem mais chances de cura.

Um simples raio-x do pulmão pode identificar um nódulo ou tumor.
Verdade. Pode, mas a identificação por raios X está associada a tumores maiores, com mais de 1cm. Como o exame de raios X é menos sensível que a tomografia, ele só consegue identificar tumores ou nódulos maiores.

Fumantes passivos ou pessoas que ficam expostas a muita poluição têm chance de desenvolver câncer de pulmão.
Verdade. Há tumores em pessoas que nunca fumaram, devido ao fumo passivo ou contaminação do meio ambiente, exposição a fogão a lenha e diversos outros tipos de alterações do ambiente que podem causar lesão pulmonar.

Mudança no padrão da tosse é um indicativo de câncer.
Verdade. Todo fumante tosse, de uma maneira geral. A tosse em si não é sintoma, mas a mudança do padrão da tosse deve ser observada. Se ele percebe que houve alteração, deve acender o alerta e procurar um médico para uma avaliação. Isso vale para quem nunca fumou ou um fumante. Qualquer tosse que persista por mais de 15 dias e rouquidão são situações que precisam ser investigadas.