Cirurgias com robôs são realidade próxima

Procedimentos videolaparoscópicos auxiliados por essa tecnologia devem chegar em breve a Belo Horizonte, que até lá tem o desafio de ampliar o acesso à técnica convencional

por Carolina Cotta 26/08/2015 10:23

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Configuração da sala de cirurgia robótica: o cirurgião fica em um console próximo, comandando os movimentos dos braços robóticos. Auxiliar e instrumentador ficam ao lado do paciente
Visão em três dimensões e movimentos precisos: os robôs são uma realidade na medicina. São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Fortaleza já operam com a ajuda dessa tecnologia, que não substitui o médico. Na cirurgia videolaparoscópica auxiliada por robô, ele reproduz os movimentos do cirurgião por meio de um console afastado da mesa cirúrgica. Outro cirurgião fica ao lado do paciente para ajustes necessários. Mesmo dependentes do homem, os robôs dão mais liberdade de movimento e uma visão ampliada e estável, pois a câmera é movida por um braço articulado. A Rede Mater Dei de Saúde está se estruturando para oferecer esse tipo de cirurgia, mas enquanto o robô não chega, ampliou o acesso aos procedimentos minimamente invasivos. O hospital acaba de inaugurar o Mais Saúde Mater Dei, serviço no qual os pacientes podem agendar consulta diretamente com especialistas em cirurgia laparoscópica.

Com a evolução tecnológica, o que antes precisava de grandes incisões hoje pode ser feito por pequenos orifícios ou mesmo sem cortes, por meio dos orifícios naturais do corpo humano. Um exemplo desse último é a endoscopia para o tratamento dos cálculos urinários, na qual se utiliza o caminho natural, ou seja, a uretra, para acessar o sistema urinário e, assim, remover ou quebrar os cálculos. Outras doenças vêm sendo tratadas por meio das cirurgias laparoscópicas, como os tumores de próstata e rim, além das malformações do trato urinário. Nesse caso, os procedimentos são feitos por meio de incisões de cinco e 10 milímetros, por onde são introduzidas câmeras microscópicas. A cirurgia laparoscópica é um dos procedimentos minimamente invasivos mais disseminados e representou uma revolução na urologia.

Prostatectomia radical para tratamento do câncer de próstata: após a remoção da glândula doente, a bexiga é unida à uretra
A prostatectomia radical (retirada total da próstata), por exemplo, antes realizada somente por meio de cirurgia aberta, atualmente já pode ser feita por acesso laparoscópico, com pequenas incisões no abdome. Segundo Bruno Mello, urologista da Rede Mater Dei de Saúde e professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), nos Estados Unidos e Europa, inclusive, a maioria é feita desse modo. “Além da recuperação mais rápida, temos menos sangramento e menos dor no pós-operatório. Os resultados oncológicos e funcionais são os mesmos quando comparada à cirurgia aberta”, explica. Não só o tratamento do câncer de próstata, mas também o de câncer de rim se beneficiou. Tanto a nefrectomia parcial, quando se remove somente o tumor e uma parte do tecido, preservando o rim, quanto a total, com a retirada do órgão, podem ser feitas por método minimamente invasivo, a nefrectomia laparoscópica.

Nefrectomia parcial, indicada para remoção de tumores renais de até 7cm: o tumor é retirado com pequena margem de tecido renal saudável ao redor
“Com a mesma segurança da cirurgia aberta, a nefrectomia laparoscópica permite que o paciente retorne mais rapidamente às suas atividades cotidianas, além de ter menos dor e melhor resultado estético”, comemora o especialista, segundo o qual o tratamento das malformações do aparelho urinário também passou por mudanças recentes. O estreitamento da junção uretero-pélvica, que é a transição do rim para o ureter, é uma doença congênita, que pode levar à perda do rim acometido. Seu quadro clínico vai desde a doença assintomática até a cólica renal típica e o tratamento também pode ser feito por acesso laparoscópico, poupando os pacientes de incisões dolorosas e de tempo de recuperação mais longo. O tempo de internação e de afastamento do trabalho e os impactos estéticos são minimizados, mas os riscos de uma cirurgia laparoscopica e aberta seguem similares.

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Segundo o urologista Bruno Mello, um dos recursos mais recentes são equipamentos, por onde passam as pinças e a câmera, com 3mm (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
PREPARO
Quando usados de forma ética e responsável, em centros com estrutura e equipe com formação adequada, os procedimentos minimamente invasivos podem propiciar à população benefícios em qualidade de vida. Mas poucos profissionais e hospitais estão preparados para atuar com esses recursos. Segundo Mello, a curva de aprendizado, tempo necessário para preparar o profissional para atuar com a técnica, ainda é muito longa e, muitas vezes, exige especialização fora do país. “É difícil de aprender. Exige uma imersão nesse tipo de cirurgia e nem todo profissional está disposto a investir nessa formação. Como esse tipo de cirurgia é feito de uns 15 anos para cá, só mais recentemente os hospitais com residência na área têm professores habilitados para ensinar”, explica. Outro desafio é o custo, já que se tratam de equipamentos muito caros.

Para Pedro Romanelli, presidente do capítulo mineiro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil), e também urologista do Mater Dei, o ideal seria começar a incluir esse tipo de procedimento na grade curricular das faculdades de medicina. Para fazer cirurgias urológicas por laparoscopia, por exemplo, o médico precisa passar pelos seis anos de faculdade, dois anos de cirurgia, três anos de urologia e mais um ano de especialização em videocirurgia fora do país. Mas, hoje, os médicos que se formaram no exterior e atuam como preceptores já estão preparando os residentes. “A tendência é uma melhor formação dos preceptores e uma consequente disseminação da técnica”, explica. A própria Sobracil está ampliando a formação na área. Só este ano, serão 16 cursos de sutura laparoscópicas em Minas Gerais. A entidade também levará a formação para cidades polos no interior.

Pieloplastia para o tratamento da estenose da junção do rim com o ureter: a porção estreitada é removida e depois o ureter é suturado à pelve renal