Melatonina sintética ajuda a melhorar a qualidade do sono sem os efeitos dos 'tarja preta'

Substância ainda não foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no país

por Zulmira Furbino 07/05/2015 09:00

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Cristina Horta/EM/D.A Press
Anestesista Marinho Safar percebeu que suas noites ficaram mais repousantes com o uso da melatonina (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
A primeira vez que usou melatonina, princípio ativo produzido pela glândula pineal, que, entre outras funções, regula o ciclo sono-vigília e é responsável pelas noites bem dormidas, há dois anos, o médico anestesista Marinho Safar estava fora do país e pretendia combater os efeitos do jet lag, descompensação caracterizada pelo cansaço em viagens onde as diferenças de fuso horário são significativas. Com o uso contínuo, Safar, que também é adepto das atividades físicas intensas, percebeu que, com o hormônio, suas noites passaram a ser mais repousantes, mesmo que ele fizesse uso de termogênicos, substância usada por atletas para a queima de gorduras, que têm como efeito colateral a perda do sono.

Como o anestesista, milhares de brasileiros que enfrentam problemas para dormir descobriram na melatonina sintética uma forma de acabar com o incômodo sem sofrer os efeitos colaterais dos medicamentos tarja preta, como perda de memória, indisposição e dependência. Isso ocorre porque a melatonina sintética tem as mesmas propriedades do hormônio natural produzido pelo corpo humano para regular a hora de dormir e a hora de acordar. Além disso, mesmo que usada na forma sintética, com a luz do Sol o cérebro elimina a substância, o que impede aquela sensação de sonolência durante o dia. Mas, por que pouco se fala desse indutor natural do sono – e eficaz antioxidante – no Brasil?

O motivo é que a substância ainda não foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no país. Segundo a Anvisa, “não há pedido de registro de medicamento com melatonina no país. Portanto, a substância não foi avaliada, já que isso só é feito quando há um pedido de registro. Não há argumentos contra a liberação. Simplesmente se trata de um produto sem registro, o que o torna clandestino. A importação para uso pessoal é possível, mas a comercialização no país não”, explica a Anvisa. “A melatonina tem vantagens sobre outros medicamentos indutores do sono. Ela é um hormônio bioidêntico e, por isso, não causa aquele efeito de ressaca dos outros medicamentos”, sustenta Marinho Safar, que adquire o produto quando viaja ao exterior ou por meio de amigos que viajam. “Faço uso diário. Antes, não conseguia dormir a noite inteira. Agora, tenho um sono tranquilo.”

LIBERADO
Nos Estados Unidos, o hormônio sintético é comercializado em farmácias, lojas de suplemento alimentar e em supermercados. O recipiente com 100 a 120 comprimidos de 5mg custa entre US$ 12 e US$ 20. O preço varia conforme a qualidade do produto. A venda do medicamento também é liderada no Canadá e na Europa. No Brasil, apesar de proibido, alguns estabelecimentos se arriscam a comercializá-lo. O médico ortomolecular Luiz Jabbur explica que, nos Estados Unidos, ela vem sendo prescrita há meio século, com autorização do FDA (Food and Drug Administration), órgão governamental responsável pelo controle dos alimentos, suplementos alimentares, medicamentos, cosméticos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano.

De acordo com ele, é uma “lástima” que o medicamento não seja liberado no Brasil, já que o FDA é um órgão tão ou mais rigoroso quanto a própria Anvisa. O ideal, segundo ele, é que uma pessoa durma entre sete e oito horas por noite, passando pelas quatro fases do sono. “Estudos recentes mostram que se uma pessoa dorme menos do que cinco horas, seus riscos de desenvolver uma doença cardiovascular aumentam 120%. Por outro lado, dormir mais do que nove horas por noite eleva o risco em 52%”, explica. Mas os efeitos positivos não param por aí, avisa o médico. A melatonia é antioxidante, tem ação anti-inflamatória e antidepressiva, protege a glândula pineal, que é o relógio biológico do ser humano e uma das principais causas do seu envelhecimento, e não causa efeitos colaterais ou qualquer tipo de dependência.

Estudos conduzidos no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) mostram que a melatonina também pode ser uma importante aliada no combate a distúrbios metabólicos, entre eles diabetes, hipertensão e obesidade. Por outro lado, estudo realizado na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) indica que a melatonina também pode combater o câncer de mama. E não é só. Ao diminuir a oxidação das células de maneira endógena, a melatonina diminui o envelhecimento precoce das células e da pele, o que previne e ameniza rugas, acabando com a aparência cansada da pele. A empresária Maria Isabel de Almeida, de 50 anos, começou a tomar melatonina quando uma amiga trouxe dos Estados Unidos. “Sempre tive dificuldade de pegar no sono. Antes, quando tomava remédio para dormir, às vezes acordava como se um trator tivesse passado por cima de mim. Com a melatonina não tem essa história de ficar o dia inteiro com sono. Você tem uma noite tranquila e acorda ótima”, sustenta.