Krav magá e kombato preparam para situações reais de brigas ou ameaças com armas brancas

As artes de defesa pessoal têm atraído praticantes de todas as idades interessados em aprender técnicas que os livrem de situações de risco extremo

por Paula Takahashi 23/03/2014 08:01

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Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Patrícia Figueiredo e Bruno Zanandreiz notaram as mudanças físicas desde que começaram as aulas de krav magá (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Sem regras ou competições, as artes de defesa pessoal têm atraído praticantes de todas as idades interessados em aprender técnicas que os livrem de situações de risco extremo. Criado dentro dos quartéis militares do Rio de Janeiro no fim da década de 1980, o kombato só foi disseminado para a população civil 10 anos depois de ser amplamente aperfeiçoado dentro das Forças Armadas.

Como o próprio nome diz, os praticantes devem estar preparados para o combate corpo a corpo, que já começa nas primeiras aulas. “Usamos de forma intensiva vários equipamentos de proteção individual que vão desde protetor de canela e luvas até capacete com protetor de grade”, explica Alberto Luiz Guerra, de 49 anos, faixa preta 3º grau em kombato. As lutas começam de forma gradativa e à medida que o aluno ganha confiança e capacidade técnica elas se aproximam da realidade que pode ser encontrada na rua.

As técnicas são testadas o tempo todo e começam com situações simples, como uma tentativa de beijo forçado num show, soco ou chute, até circunstâncias de ameaça extrema, como briga em meio a multidões e ameaça com arma branca (facas e estiletes) ou mesmo de fogo. Casos noticiados também são levados para a aula para que os alunos sejam estimulados a agir em situações reais.

“Trazemos essas histórias da rua para a aula. Estudamos a situação e provocamos os alunos a mostrar o que fariam em cada uma delas”, explica Alberto. Se novas formas de agressão surgem, o kombato está preparado para criar fórmulas de defesa. “Não é algo estático. Existe uma atualização das técnicas. Cada nova técnica criada é repassada para todas as escolas de kombato do Brasil para ver se será ou não reproduzida. É como um experimento científico”, compara o professor.

AUTOCONTROLE
Há 10 anos empenhado em aprimorar suas habilidades no kombato, o tecnólogo em redes de computadores Leandro Ancântara Batistoni, de 32 anos, vê claramente as mudanças pelas quais passou ao longo dos anos de prática. “Entrei procurando uma atividade física e percebi que me tornei uma pessoa mais calma, fico mais tranquilo diante de determinadas situações e tenho mais autocontrole”, pontua. Ao contrário de estimular atitudes violentas diante do domínio das técnicas, como se pensa, Leandro garante que o efeito é o contrário. “Antes eu era muito mais agressivo”, reconhece. No dia a dia ele observa que avalia melhor as situações antes de entrar em um confronto que poderia ser facilmente evitado.

A capacidade de superar limites é um dos aprendizados que a relações-públicas Ana Lúcia Brandão, de 44, levou para sua vida. “Aprendi a ter mais persistência e não desistir nas primeiras dificuldades. Na rotina, quando acho que não vou conseguir, persisto mais. Às vezes, nem sequer tentava”, afirma. Para a veterinária Natália Giosa, de 34, a princípio é difícil acreditar na capacidade de colocar em prática os conhecimentos. “Depois que vemos do que somos capazes, ganhamos confiança. Não é algo que dependa de força, mas sim da técnica. Mulheres conseguem derrubar marmanjos”, conta.

Na avaliação de Cristiano Barreira, professor da escola de educação física e esporte da USP de Ribeirão Preto e membro da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (Abrapesp), essa mudança pode ser justificada pelo emprego das técnicas por qualquer pessoa. “Quem faz, passa a se sentir diferente. Ganha mais confiança principalmente porque começa a aprender gestos e técnicas que vê funcionando. Passa também a acreditar que é capaz de realizar determinadas ações”, afirma.

Defesa, sem regras Enforcamento, ameaça com faca e diversas formas de imobilização são algumas das situações às quais os alunos de krav magá são submetidos nas aulas. Golpes explosivos e que, na grande maioria dos casos, visam a áreas sensíveis do oponente, como órgãos genitais, traqueia, olhos, nariz e ouvidos, são as armas preferidas para se desvencilhar do agressor. “Treinamos para usar os golpes em situações reais e, por isso, não podemos ter regras. O que existem são as técnicas de defesa e não de luta”, afirma o professor Beny Schickler, de 40, faixa preta de krav magá, ao justificar por que a criação do mestre Imi Lichtenfeld em Israel não pode ser encarada como arte marcial.

As habilidades desenvolvidas permitem que qualquer pessoa, independentemente da idade ou sexo, seja capaz de aplicar golpes certeiros no agressor, mesmo estando em desvantagem clara, seja por questão de força ou altura. Condições que atraíram a publicitária e turismóloga Patrícia Figueiredo de Castro Vieira, de 29, que teve o primeiro contato com o krav magá em 2010. “É um exercício muito prático de defesa e ataque ao mesmo tempo. Isso é que me motivou a começar”, conta. No corpo, as mudanças foram visíveis. “Fiquei mais disposta, melhorei a postura e a flexibilidade”, afirma.

Com a faixa laranja na cintura, o estudante de engenharia civil Bruno Zanandreiz de Siqueira Mattos, de 24, também viu os efeitos físicos. Com eles vieram também as mudanças de comportamento. “Busquei o krav magá porque precisava de uma atividade. Estava abaixo do peso. Além de conseguir reverter isso, ainda melhorei minha timidez. Tinha muita vergonha de falar em público”, lembra. Hoje, ele puxa os alongamentos e já fez, inclusive, treinamentos para ser monitor.

DEFENDA-SE

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Golpe com arma branca (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
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Enforcamento (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
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Ameaça à mão armada (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
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Ameaça com faca (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
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Roubo de mochila (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
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Gravata (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)