Tudo começou de forma despretensiosa em 2004 e, como tudo nos dias atuais, caiu na rede e se espalhou pelo mundo. Virou um fenômeno do bem. Movimento internacional que, ao contrário de muitos que perdem força ou caem no esquecimento, a free hugs campaign (campanha dos abraços grátis/freehugscampaign.org), que propõe abraçar estranhos em locais públicos, só ganha adeptos. De forma isolada ou organizada por grupos de amigos e entidades, o certo é que a história que começou com o australiano Juan Mann e ganhou fama mundial em 2006, com vídeo no YouTube e a música All the same, da banda Sick Puppies, adquiriu outra dimensão. Um dos vídeos mais assistidos do site, com mais de 74 milhões de acessos até fevereiro deste ano.
Daniel Soares, diretor-executivo da Juventude Batista Mineira (Jubam), conta que desde 2011, quando conheceu a campanha, a instituição adotou a ação nos projetos missionários. Todo mês de janeiro em Belo Horizonte e em várias cidades do interior de Minas, grupos de 30 a 50 jovens, adultos e adolescentes, invadem espaços públicos e distribuem abraços grátis. “O impacto é grande na vida de quem dá e recebe o abraço. Ao oferecê-lo, aproximamo-nos uns dos outros. A receptividade sempre foi positiva.” Para ele, as pessoas se sentem sós e todos estão cada vez mais fechados num mundo particular. “Nada melhor do que o contato com o outro. Tudo é tão corrido que parar para um abraço é um bálsamo. Sei que me faz muito bem. Já gostava de abraçar, mas passei a prestar atenção e o deixei mais presentes no meu dia a dia. O abraço me fez refletir e mudar de atitude diante da vida.”
ESSÊNCIA - Maria Antônia de Oliveira, dona do Centro de Orientação Profissional e Coaching (Cope), graduada em filosofia e com pós-graduação em orientação e supervisão escolar, se emociona ao dizer que “o abraço é minha essência”. Ela revela que “meu grande talento é meu acolhimento e toda a minha história de vida começa a partir de um abraço. Seja abraçar com os olhos, com o tom de voz ou com palavras”. Mas a filósofa e coaching enfatiza que a forma mais poderosa de manifestar ternura por alguém é o abraço, o que ela faz todos os dias.
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Para Maria Antônia, o abraço é a oportunidade de acolher na essência. “Ele significa a verdadeira cura. É quase como se estivéssemos juntando quem vive um conflito, por exemplo, os pedaços quebrados e lhe trazendo a vida de volta, a saúde e a cura.” Ela conta que não seleciona quem abraça. “Vou na direção de todos que encontro, pronta para abraçar. É a minha perspectiva de acolhimento. Ao chegar perto, percebo se a pessoa está aberta.” A filósofa revela que, pelo tipo ou estilo do abraço, ela sabe como cada um é. “Tem tipos de abraço. O tapinha nas costas, o de lado, aquele com medo de encostar no outro. Abraço gera compromisso e no jeito como sou correspondida, ou não, percebo o nível de relação que vou estabelecer com a pessoa.”
Maria Antônia conta que, apesar de saber o poder do abraço, entende quem tem dificuldade de abraçar a vida. “Cada um expressa o mundo a partir de sua história”, portanto, uns refletem dureza, amargura, dissabor e os tropeços e as pedras que encararam pelo caminho. Adotam comportamento rígido. “Mas sei que não tem gesto mais poderoso do que viver o abraço que, muitas vezes, dispensa palavras. Quem abraça e é abraçado se sente único.”
Como tudo começou...
“Estava vivendo em Londres, quando meu mundo virou de cabeça para baixo e eu tive que voltar para casa. No momento em que meu avião pousou de volta a Sydney, tudo que eu tinha era uma bagagem de mão, um mundo de problemas e ninguém para me receber de volta. Observei outros passageiros se encontrando com amigos e familiares de braços abertos, abraçando e rindo juntos. Queria ter alguém esperando por mim para me abraçar. Então, tinha um pedaço de papelão e uma caneta. Achei o mais movimentado cruzamento de pedestres da cidade e escrevi Free hugs. Por 15 minutos as pessoas só olhavam. A primeira que parou, bateu no meu ombro e me contou como seu cachorro tinha acabado de morrer naquela manhã. Contou também que naquela manhã tinha sido o aniversário de um ano de sua única filha, que morreu num acidente de carro e como ela só precisava naquele momento de um abraço. Nós nos abraçamos e quando nos despedimos ela estava sorrindo. Todo mundo tem problemas e ver alguém, que antes estava carrancudo, sorrir, mesmo que por um momento, vale a pena o tempo todo.”