Fotógrafo do Estado de Minas constata a atual situação do Lago de Furnas

Nível da água está muito abaixo do que já foi e a paisagem se transformou, deixando pontes e deques que ligam nada a lugar algum

por Leandro Couri 01/01/2016 08:00
Leandro Cour/EM/D. A Press
(foto: Leandro Cour/EM/D. A Press)
Cada vez mais distantes da água que ali passava, e pela recorrência das paisagens submersas dos inúmeros deques encontrados na região que, teoricamente, é a mais rica do estado, o Sul de Minas Gerais, podemos ter ideia de quão crítica é a crise hídrica pela qual passa o Lago de Furnas, muito agravada nos últimos três anos. De um lado, o lago secou e, de outro, o nível abaixou consideravelmente. Mas o que chama mesmo a atenção foram as construções, algumas de madeira, muitas já arqueadas, bambas e/ou faltando pedaços, ou de concreto, todas muito longe de cumprir a função para a qual foram colocadas ali e, que flagradas pelas objetivas fixas e calmas de minha câmera, transmitiam melancolia e abandono.


Ao fim da escada de um ancoradouro, havia o Lago de Furnas. Onde está ele? Não se vê. Nem mesmo a distância. São muitas as pousadas e outros estabelecimentos que tiveram que se adequar à triste realidade de não poder mais ter como atrativo um lago que permitia esportes aquáticos e náuticos, pela abundância de suas águas, além da tão valiosa contemplação.
Agora se contemplam pastos. Ou nem isso. Viraram verdadeiros pântanos de lama. Em outro ponto, um trampolim mortal para um chão seco e duro. Só bem adiante se vê água e as novas estruturas necessárias para o tráfego e a ancoragem de barcos e lanchas. Em comum, todas têm as margens secas. Meu silêncio foi quebrado pelo óbvio pensamento: não há mais água, nem haverá.


Embaixo de um antigo deque, um bode amarrado encara e se intriga com a presença do curioso fotógrafo. Ali sempre foi a casa dele, mas, pela extensão e idade da construção, deveria ser ponto onde pescadores passaram longas horas pegando tilápias, traíras, mandis, piaus ou  tucunarés. Daquele lado do lago, não mais. O “mar de Minas”, como ficou conhecido, agoniza, e os 34 municípios banhados por ele já não são mais os mesmos. Em um conhecido restaurante, nenhuma criança brinca ou nada. Está completamente vazio, bem na hora do almoço. Para o proprietário, a certeza de que é urgente e necessário se reposicionar frente à nova realidade.


Cada vez mais distantes, as estruturas ali largadas me remetem à Terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, onde o espaço é delimitado pela presença concreta do rio. Aqui, por conta da ausência deste, permitindo-me “rosear”, intuo: essas pontes também estão numa Terceira Margem.

 

Leandro Cour/EM/D. A Press
(foto: Leandro Cour/EM/D. A Press)

 

Leandro Cour/EM/D. A Press
(foto: Leandro Cour/EM/D. A Press)

 

Leandro Cour/EM/D. A Press
(foto: Leandro Cour/EM/D. A Press)
 

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