Ao fim da escada de um ancoradouro, havia o Lago de Furnas. Onde está ele? Não se vê. Nem mesmo a distância. São muitas as pousadas e outros estabelecimentos que tiveram que se adequar à triste realidade de não poder mais ter como atrativo um lago que permitia esportes aquáticos e náuticos, pela abundância de suas águas, além da tão valiosa contemplação.
Agora se contemplam pastos. Ou nem isso. Viraram verdadeiros pântanos de lama. Em outro ponto, um trampolim mortal para um chão seco e duro. Só bem adiante se vê água e as novas estruturas necessárias para o tráfego e a ancoragem de barcos e lanchas. Em comum, todas têm as margens secas. Meu silêncio foi quebrado pelo óbvio pensamento: não há mais água, nem haverá.
Embaixo de um antigo deque, um bode amarrado encara e se intriga com a presença do curioso fotógrafo. Ali sempre foi a casa dele, mas, pela extensão e idade da construção, deveria ser ponto onde pescadores passaram longas horas pegando tilápias, traíras, mandis, piaus ou tucunarés. Daquele lado do lago, não mais. O “mar de Minas”, como ficou conhecido, agoniza, e os 34 municípios banhados por ele já não são mais os mesmos. Em um conhecido restaurante, nenhuma criança brinca ou nada. Está completamente vazio, bem na hora do almoço. Para o proprietário, a certeza de que é urgente e necessário se reposicionar frente à nova realidade.
Cada vez mais distantes, as estruturas ali largadas me remetem à Terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, onde o espaço é delimitado pela presença concreta do rio. Aqui, por conta da ausência deste, permitindo-me “rosear”, intuo: essas pontes também estão numa Terceira Margem.