'Barulho infernal 'conta a controversa história do heavy metal e suas variações

Em mais de 700 páginas livro compila entrevistas de músicos e produtores

por Valf 04/12/2015 12:30

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(foto: Divulgação)
Quando o diabo criou o rock, com certeza não tinha a menor ideia da real dimensão que sua obra alcançaria. Do misto de estilos musicais bem definidos como blues, country e rhythm and blues, o que nasceu de sua cabeça com a ingênua premissa de apenas tirar o sossego da sociedade norte-americana do pós-guerra, acabou se tornando muito mais do que isso. O entretenimento como negócio crescia como uma poderosa indústria e o mercado consumidor jovem se tornava a grande aposta. A pulsação do baixo, o ritmo frenético da bateria e as guitarras, ainda não tão distorcidas naquela época, davam seu recado em bom e alto volume.

Inúmeras bandas começaram a ser formadas e ídolos foram criados. E assim, o incompreendido ritmo nascia. Irritando os pais, ganhando os filhos. O tempo foi passando, e o que era até então uma completa novidade, passou a ser assimilado em sua estrutura e se consolidou como estilo. Do retumbante êxito musical e cinematográfico de Rock around the clock, do perigo da pélvis de Elvis, passando pelos quatro cabeludos de Liverpool, o sucesso avassalador cresceu, cruzou fronteiras e o rock and roll se tornou fenômeno mundial. E apenas pouco mais de meio século se passou desde então.

Os jornalistas americanos Jon Wiederhorn e Katherine Turman trazem agora uma obra que busca analisar uma das mais controversas crias do rock – o heavy metal. Em suas 722 páginas, Barulho infernal – a história definitiva do heavy metal propõe mais que simplesmente fazer um apanhado histórico do gênero. Usando o recurso da contextualização da época apenas em pequenos trechos de abertura dos seus 14 capítulos, o relato de quem viveu de perto as histórias dos diversos subgêneros do metal é apresentado em mais de 400 entrevistas obtidas ao longo de mais de 25 anos.

Desde o impreciso nascimento entre os anos 1960 e 1970 até os dias atuais, com as bandas de nu metal, a narrativa intimista dos personagens traça ricos perfis, elucida lendas, cria outras e acompanha a formação e a ruína de diversas bandas. Sem filtros e sem tomar partido, os autores mostram que as entrevistas, por vezes, oferecem versões diferentes sobre um mesmo assunto, criando curiosos contrapontos. O primeiro capítulo, sobre o surgimento do movimento, é o melhor exemplo disso. Depoimentos de bandas diferentes em locais e datas diversas sobre a paternidade do heavy metal mostram que cada uma delas estava empenhada em se mostrar como a precursora e, sobretudo, convicta de ter aberto a porta para as demais.

Da forma mais linear possível, levando-se em conta que vários subgêneros coexistiram, os autores dão nomes de canções representativas da época a seus capítulos e, de maneira bastante coesa, traçam um panorama dos muitos estilos. Como antes, sem afirmações cronológicas, mapeiam as influências e as transformações sofridas por bandas de diversas partes do mundo.

Acompanhamos em suas páginas o impulso inicial e o surgimento do British metal na Inglaterra e toda sua influência do outro lado do Atlântico, ao mesmo tempo em que assistimos à egotrip hedonista das bandas de hair metal e seus excessos do trinômio sexo, drogas e rock and roll na Califórnia. Passamos pelo nascimento do thrash metal para entender como seu veloz e agressivo estilo se tornaria uma referência direta para uma dezena de outros gêneros que viriam a ser criados depois e acabamos por presenciar como o black metal escandinavo, em seu roteiro de violência e vandalismo, acabou por um período eclipsando a sua esfera musical.

Justamente por utilizar o recurso da primeira pessoa, alguns capítulos especificamente são reveladores e constituem, assim, o grande diferencial. A conhecida história do assassinato do guitarrista da banda Pantera, Dimebag Darrell, por exemplo, ganha tintas muito mais fortes com os relatos pessoais sobre sua trajetória e da banda. Do difícil começo, os ensaios, as influências, o estrelato, o sucesso, as brigas e separações e, por fim, a fatídica noite de dezembro de 2004, onde um fã abriu fogo contra o guitarrista durante um show. Nessa e em outras histórias do livro, o leitor passa de mero conhecedor do frio fato à posição de expectador previlegiado.

Dessa forma, Barulho infernal cumpre, com louvor, o que propõe. Ser um registro criterioso e, sobretudo, apaixonado, de um polêmico gênero que divide opiniões. Por vezes incompreendido e até odiado, o metal é, para seus detratores, apenas barulho. No entanto, milhões de fãs espalhados pelo mundo parecem não se importar. Continuarão a lotar shows, tocar riffs de guitarra no ar e debater sobre a melhor formação de sua banda preferida. E é justamente para esse exército de camisas pretas que Barulho infernal foi escrito. Para ser lido no volume máximo. E que o heavy metal perdure ofendendo tímpanos por muito tempo.


Barulho infernal – A história definitiva do Heavy Metal
De Jon Wiederhorn e Katherine Turman
Editora Conrad
722 páginas
R$ 89,90

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