Right to repair: conheça a onda que pode transformar o uso da tecnologia

O lixo eletrônico representa um percentual crescente de toda a poluição gerada pela humanidade

08/08/2022 18:00
Pixabay
Lixo eletrônico. (foto: Pixabay)
A presença da tecnologia e, consequentemente, os custos financeiros com novos aparelhos cresce diariamente: dos smartphones que estão sempre evoluindo ao aparecimento de novas demandas como lâmpadas inteligentes, fones de ouvido sem fios, placas de vídeo para jogos, entre tantas outras categorias de aparelhos inteligentes. O problema é que ao mesmo tempo em que observamos aumentos consideráveis nas capacidades e funções de nossos eletrônicos, parece que a qualidade e durabilidade estão sempre sendo reduzidas.

Isso não é apenas uma ilusão: o lixo eletrônico representa um percentual crescente de toda a poluição gerada pela humanidade, e os gastos com a substituição de aparelhos eletrônicos quebrados já se torna quase uma despesa mensal para consumidores e, para empresas, chega a superar os custos com limpeza ou manutenção de um escritório. Diversos fatores contribuem para que hoje um smartphone precise ser trocado em dois anos, mas um televisor ou geladeira da década de 60 fosse feito para durar mais de 20 anos de uso. 

Agora, um novo movimento promete acabar com essa realidade e mudar a forma como enxergamos o ciclo de uso de nossos dispositivos eletrônicos, e escolher produtos que se alinham com essa ideia pode ser fundamental para reduzir custos, se preparar para o futuro, e até criar um kit de sobrevivência digital como alerta a ExpressVPN. Conheça mais sobre o right to repair que ganha força nos Estados Unidos e Europa, e que já se tornou relevante para o Brasil.
 

Obsolescência e baixa qualidade

Pense no último eletrodoméstico ou eletrônico que comprou e é provável que ao invés de representar um tipo de aparelho que não possuía em casa, o novo seja, na verdade, um substituto para um antigo que quebrou ou simplesmente é muito lento ou desatualizado, impedindo seu uso diário. Essa realidade não afeta somente dispositivos digitais como computadores e telefones, mas graças a predominância de aparelhos smart como lâmpadas LED e geladeiras com painéis digitais, esse fenômeno está por todo lado. 

Duas grandes mudanças na forma como nossos produtos são fabricados explicam essa tendência: a obsolescência acelerada ou programada, e a redução extrema na qualidade da fabricação e materiais utilizados. Para explicar o primeiro, basta pensarmos em exemplos comuns do cotidiano: se uma lâmpada vendida com uma durabilidade de 50 anos, eventualmente todas as casas estariam equipadas com lâmpadas que duram, em essência, uma eternidade - assim, como a empresa que as fabricou continuaria vendendo produtos a cada ano? A resposta é a obsolescência controlada pelo fabricante. 

No caso da obsolescência programada, o dispositivo apresenta algum recurso ou falha de engenharia que resultará em defeito ou quebra completa após um período de tempo determinado pela empresa. Lâmpadas usam filamentos que queimam em pouco tempo, e aparelhos como smartphones passam a apresentar lentidão intolerável que não existia quando o produto era recente - como o exemplo famoso onde a Apple foi processada por reduzir a velocidade de iPhones antigos. Já as mudanças na qualidade envolvem a fabricação que visa reduzir ao máximo os custos, mas sem representar preços mais baixos ao consumidor, aumentando o lucro e diminuindo a qualidade - basta observar aparelhos que antes eram feitos com metais resistentes e vidro e, atualmente, usam plástico. 


O direito de realizar reparos


A baixa durabilidade e obsolescência acelerada já são, por si só, grandes problemas para os consumidores, mas nos últimos anos a situação se agravou: empresas criam produtos impossíveis de serem reparados, e se alguém consegue fazer algum reparo sem autorização, o aparelho bloqueia suas funções. Exemplos incluem os AirPods, fones sem fio da Apple que possuem bateria que degrada com o tempo mas completamente encapsulada, sendo necessário descartar os fones por não ser possível efetuar a troca da bateria. Em aparelhos da Samsung, a troca da câmera ou tela do smartphone pode ativar um recurso no software que bloqueia diversas funções como zoom, foco automático, e até controle de brilho. 

O movimento right to repair é, portanto, a resposta de especialistas, técnicos de eletrônica, ativistas ambientais e consumidores que desejam um fim para essa realidade. Traduzindo do inglês para o português, o nome significa "direito de efetuar reparos" e é um conjunto de demandas que pressionam empresas e governos a permitirem que seus aparelhos sejam transparentes e fáceis para o reparo e reutilização. Suas ideias incluem a obrigação de qualquer empresa a fornecer esquemas técnicos e peças de substituição para venda, acabando com a necessidade de comprar baterias e telas falsificadas, por exemplo, além do uso de parafusos em formatos e tamanhos padrão, remoção de limites de software (permitindo, inclusive, que usuários removam atualizações ou usem aplicativos novos em aparelhos antigos), programas de reciclagem para baterias e outros componentes degradáveis, e acesso completo à garantia.

Os resultados já são palpáveis e avançam rapidamente: nos Estados Unidos ordens executivas e projetos de lei obrigam empresas a fornecerem peças e manuais de reparo, inclusive para equipamentos como máquinas agrícolas e veículos, e o mesmo acontece no Reino Unido. Na Europa, fabricantes serão forçadas a adotar padrões como cabos USB-C evitando a necessidade de comprar cabos ou carregadores específicos para aparelhos específicos. Em resposta, empresas como a Apple lançaram programas completos para que usuários possam realizar reparos em seus aparelhos, comprando peças e até mesmo recebendo em casa ferramentas profissionais para facilitar o processo de troca de componentes. No Brasil ainda sofremos com limitações que prejudicam o consumidor, empresas podem, por exemplo, encerrar a garantia caso um consumidor repare seu produto ou faça substituições, mas projetos de lei como a PL 6151/2019 buscam transformar esse cenário, adotando por completo as diretrizes dos movimentos estrangeiros para o Brasil. 

Agora nos resta fazer boas escolhas na hora de comprar um produto e pressionar nossos representantes para avançar com as medidas de right to repair que são fundamentais para garantir menos gastos para os consumidores, menos lixo no planeta, e um uso mais eficiente da tecnologia.

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