Nostalgia do palco gera onda de discos de shows ao vivo

Artistas da música recuperam suas apresentações pré-quarentena e as transformam em novos álbuns

Guilherme Augusto 22/11/2020 13:26
Alexandre Nunis/Divulgação
Salma Jô, vocalista da banda Carne Doce, que transformou em álbum sua última apresentação com público neste ano, em 21 de fevereiro, em São Paulo (foto: Alexandre Nunis/Divulgação)
Em março passado, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia do novo coronavírus, os shows foram duramente afetados. Por sua natureza aglomerativa, tanto para o público quanto para quem trabalha nos bastidores e no palco, eles foram adiados ou cancelados. Mas isso não acabou com a demanda por música ao vivo. Surgiram as lives, que depois evoluíram para apresentações pré-gravadas e performances em lugares vazios, sem a presença do público, com transmissão on-line.

Diante do esgotamento desses formatos, surge agora outra tendência: a da recuperação de registros ao vivo realizados no período pré-pandemia. É é o caso de Margem, finda a viagem, lançado recentemente por Adriana Calcanhotto nas plataformas digitais.

Gravado no Rio de Janeiro, em 14 de dezembro do ano passado, o álbum tem 18 músicas, entre elas faixas do disco homônimo ao show e também canções de Maritmo (1998) e Maré (2008), além de sucessos da carreira da cantora gaúcha como Devolva-me e Maresia.

O show, que teve sua estreia nacional em 23 de agosto de 2019, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, marca o fim da trilogia marinha iniciada por Adriana Calcanhotto no disco de 1998.

Para o registro ao vivo, foram adicionadas duas músicas gravadas com Rubel, Mentiras e Você me pergunta. Em contrapartida, saíram Quem vem pra beira do mar e Os ilhéus. Com direção de Murilo Alvesso, o show também será transformado em DVD, editado pelo Biscoito Fino. 

No palco, Adriana está acompanhada dos músicos Rafael Rocha, Bruno Di Lullo e Bem Gil. Essa é a banda que acompanha a cantora no retorno aos palcos, em Portugal, onde ela realiza uma turnê de seis shows, desde a última sexta-feira (20) até o próximo domingo (29).  

Por meio de seu canal no YouTube, a artista compartilhou o registro audiovisual de Mentiras e Devolva-me, composição de Renato Barros e Lilian Knapp gravada por Adriana Calcanhotto no disco ao vivo Público (2000). Na  nova versão, a música ganha cadência mais acelerada com a adição de guitarras e bateria.

CARNE DOCE

É também na plataforma de compartilhamento de vídeos que estão dois vídeos da apresentação que a banda Carne Doce realizou em São Paulo. No canal do Selo Sesc, é possível assistir à banda goiana apresentando a música Tônus, do disco homônimo lançado em 2018, e Açaí, faixa do álbum Princesa (2016).

As duas músicas estão entre as 11 faixas do disco Sessões Selo Sesc #10: Carne Doce, disponível nas plataformas digitais. O registro foi o último show que a banda realizou antes da pandemia, em 21 de fevereiro passado, no palco do Sesc Belezinho.

Naquela época, o grupo formado por Salma Jô (voz), Macloys Aquino (guitarra), João Victor Santana (guitarra e programações), Aderson Maia (baixo) e Fred Valle (bateria e pads), ainda se preparava para lançar o quarto disco de estúdio, Interior, que saiu em setembro passado. No entanto, uma das faixas do trabalho já aparece na apresentação ao vivo: Temporal.

O repertório gira em torno de músicas dos três primeiros álbuns da banda. Estão lá Fruta elétrica, Cetapensâno e Amor distrai (Durin). Destaque para as versões em pout-pourri que unem Comida amarga a Irmãs, e Sereno a Carne lab e Ideia.

Escalada para uma live especial do festival Levitation, de Austin, no Texas, a banda Boogarins resolveu transformar a apresentação em disco. Disponível nas plataformas digitais, Levitation sessions (2020) é uma boa amostra do que o grupo goiano é capaz de fazer no palco.

Expoente de um psicodelismo contemporâneo e brasileiro, a banda formada por Dinho Almeida (voz e guitarra), Benke Ferraz (guitarra), Raphael Vaz (baixo) e Ynaiã Benthroldo (bateria) é famosa por promover experimentações quando diante do público. Sendo assim, músicas conhecidas ganham reinterpretação possibilitada pela liberdade que os músicos têm no palco.

Para a live, a banda preparou um repertório que percorre seus quatro álbuns - As plantas que curam (2013), Manual (2015), Lá vem a morte e Sombrou dúvida (2019). Estão lá Erre, Benzin, Foi mal e A tradição, além da música Cães do ódio, presente na compilação Manchaca vol. 1, que o quarteto lançou em agosto passado.

Assim como os conterrâneos da Carne Doce, os Boogarins são ratos de estrada, ou seja, estão sempre a caminho do próximo show. No caso deles, em qualquer lugar do mundo. Encostada desde o início do ano, é bom ver que a banda ainda está em forma.

REPRODUÇÃO
(foto: REPRODUÇÃO)

Margem, finda a viagem
• Adriana Calcanhotto 
• Biscoito Fino
• Disponível nas plataformas digitais

REPRODUÇÃO
(foto: REPRODUÇÃO)

Sessões Selo Sesc #10: Carne Doce
• Carne Doce
• Selo Sesc
• Disponível nas plataformas digitais

REPRODUÇÃO
(foto: REPRODUÇÃO)

Levitations sessions
• Boogarins
• The Reverberation Appreciation Society
• Disponível nas plataformas digitais

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