The Coronas canta a esperança nestes tempos de pandemia

Trio irlandês lança o disco 'True love waits' e encara com bom humor o fato de seu nome estar associado, por coincidência, à doença que apavora o mundo. Pop rock dá o tom às 12 canções

Guilherme Augusto 11/08/2020 04:00
Reprodução/Youtube
Apesar dos memes na internet, The Coronas canta a esperança em seu novo disco (foto: Reprodução/Youtube)
Graças à pandemia da COVID-19, o trio The Coronas foi automaticamente alçado ao título de banda com o nome mais infeliz da década. Incapaz de competir com o vírus, o grupo irlandês lançou, na última semana de julho, o álbum True love waits (So far so good), não para versar sobre os tristes efeitos do coronavírus, mas para trazer um tom de esperança em meio ao caos.

O lançamento marca o início de um novo capítulo para a banda após a saída do guitarrista Dave McPhillips, anunciada em novembro do ano passado. Felizmente para os fãs, isso não impediu Danny O'Reilly, Graham Knox e Conor Egan de lançar um novo disco de inéditas.

Guitarras

 
Ao longo de 12 canções, o álbum traz uma abordagem pop rock bastante linear, sem experimentações ou viradas grandiosas, como mostra a faixa-título, responsável por abrir o trabalho. Mas a sonoridade orgânica das guitarras acústicas, associadas ao uso tímido de sintetizadores, não tira a atmosfera edificante da letra.

Never ending (On your side), a faixa seguinte, une sons eletrônicos e piano num arranjo explosivo ao qual também são adicionados metais – algo inédito na já significativa discografia do grupo, composta por Heroes or ghosts (2007), Tony was an ex con (2009), Closer to you (2011), The long way (2014) e Trust the wire (2017).

A terceira faixa, Lost in the thick of it, conta com a presença da cantora britânica Gabrielle Aplin, cujo vocal afinado combina com o tom mais grave da voz de O'Reilly. A sonoridade suave de I think we jinxed leva à canção Haunted, que gira em torno de um arranjo melancólico de piano e guitarra, além de mostrar as habilidades do vocalista. O tom emotivo continua na faixa seguinte, Cold.

Em algumas músicas, e particularmente em Brave, o acompanhamento instrumental parece incapaz de corresponder à intensidade dos vocais. O oposto pode ser dito, entretanto, para Heat of the moment: uma faixa alegre e nostálgica. O refrão animado faz da música um dos destaques do trabalho.

Danny O’Riley já mencionou, em outros momentos, o incentivo de outras pessoas para experimentar com sua voz, afirmação comprovada por Find the water. As linhas de metais crescentes têm os vocais penetrantes do cantor, irreconhecíveis em comparação com os discos anteriores.

Ao contrário do restante do trabalho, Need your presence e Light me up são canções crescentes com letras apaixonadas que criam terreno para a chegada da derradeira LA at night, faixa deslocada e pouco satisfatória para a longa jornada de quase 50 minutos de True love waits.

De certa forma, as canções melancólicas compõem um álbum promissor e otimista. Liricamente, as letras tratam da importância das relações pessoais – tema adequado ao momento de distanciamento social.

Ainda que não seja possível dizer que o The Coronas criou para si um estilo próprio – vide as músicas que inevitavelmente remetem a bandas como Keane, Beirut e Train –, é curioso o movimento que a banda realiza de se afastar de seu antigo estilo para expandir seus horizontes. E vindo de um grupo cujo nome remete diretamente ao vírus letal que se espalha pelo mundo, o futuro não parece um lugar tão sombrio.

No início da pandemia, quando o coronavírus ainda era novidade, o nome da banda virou assunto nas redes sociais e o grupo reagiu com bom humor. Em um post no Twitter, o perfil oficial perguntou para a marca de cerveja Corona, que também enfrentou uma crise por causa do nome, sobre o plano deles para lidar com as atuais circunstâncias.

Infeliz 


A banda foi entrevistada pela NMA. “Ninguém realmente sabe ou pode prever o que está acontecendo. Todo mundo está vivendo um dia de cada vez. É uma infelicidade para nós termos um nome tão infeliz”, declarou O'Reilly.

Apesar da coincidência nada conveniente, o músico garante que os integrantes não cogitaram mudar de nome, pois ainda não sabem quais serão os efeitos da crise. De qualquer maneira, eles acreditam que rir de si mesmos pode ser a melhor solução para encarar os problemas.

“Alguém mencionou que, talvez, nós deveríamos fazer um show com o The Vaccines. O Twitter foi à loucura. Os memes começaram e nós queríamos tirar sarro com nós mesmos. Às vezes, quando coisas sérias como essa acontecem, é bom olhar para isso de um ângulo mais leve”, concluiu o músico.

TRUE LOVE WAITS
The Coronas
12 faixas
Disponível nas plataformas digitais

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