Toninho Horta não sossega durante a quarentena

Acostumado a viajar pelo mundo para apresentar sua música, mineiro aproveita os dias de isolamento social para compor, planejar lives e organizar a nova edição de seu songbook

Augusto Pio 10/08/2020 04:00
Leandro Couri/EM %u2013 27/9/17
Toninho Horta tem saudades do palco, mas promete live para 29 de agosto (foto: Leandro Couri/EM %u2013 27/9/17)
 
Considerado um dos guitarristas mais talentosos do mundo, o mineiro Toninho Horta confessa: “Sou um artista cigano. Sempre gostei de viajar com o objetivo de expandir a minha música e absorver outras culturas”. A pandemia do novo coronavírus interrompeu as viagens, mas não tirou o pique desse sócio-fundador do Clube da Esquina, autor de Beijo partido, a canção romântica que virou hit de Milton Nascimento.
 
Toninho, de 71 anos, passa a quarentena em casa, em Belo Horizonte. “Continuo fazendo as minhas coisas”, conta. A agenda do cantor, compositor, guitarrista e violonista anda cheia, dedicada a lives, songbook e novas canções.


Tempo


O confinamento imposto pela COVID-19 fez com que o mineiro se voltasse para a própria obra. “Sou um cara de certa forma até organizado, mas as viagens me impediam de realizar algumas coisas. Com essa quarentena, estou ganhando tempo para me reorganizar”, diz. “Também aproveito para compor um pouco. Além disso, continuo ligado em catalogar as músicas e as gravações que fiz.”

Um dos projetos é a nova edição do songbook de Toninho, com lançamento previsto para este mês. “Será uma versão ‘fatiada’. Ela virá no formato digital, até para ficar mais fácil para as pessoas poderem adquirir o songbook”, informa.
 
O primeiro volume será dedicado à obra dele nos anos 1960. Toninho planeja liberar, mensalmente, as “fatias” relativas a outras décadas.
 
Em 2017, ele lançou o livro 108 partituras, com 360 páginas. O projeto de sua editora, Terra dos Pássaros, levou cinco anos para ficar pronto. Trata-se de um alentado “resumo da obra” do compositor. Com edição em português e inglês, trouxe melodias, cifras e diagramas de acordes com posições corretas para violão e piano.
 
Divididos por décadas – a partir dos anos 1960 –, os capítulos informam onde Toninho estava em cada época, quem o influenciou e os discos relevantes de cada período.
 
Além disso, a publicação trouxe fotografias, a discografia solo e com banda de Toninho, capas dos álbuns dos quais o mineiro participou (cerca de 300) e a relação dos 87 autores que compuseram músicas em homenagem a ele, entre brasileiros, israelenses, italianos e japoneses.
 
“Apesar da quarentena, as coisas estão indo bem pra mim. Estou fazendo música, pois a gente nunca deixa de compor. E aproveito para estudar mais, colocar os dedos em dia, organizar minhas partituras”, comenta Toninho.

De tarde


Outra linha de frente do compositor e instrumentista são as lives, apresentações on-line ao vivo que se transformaram em opção para os músicos, que se veem impedidos de fazer shows devido à proibição de aglomerações.
 
“Tenho organizado uma série de lives ao entardecer. Uma delas foi feita no terraço da casa de um sobrinho, no Anchieta”, conta, referindo-se ao bairro da Região Centro-Sul de BH. Em julho, ele tocou com a irmã, a flautista Lena Horta, e o cunhado, o baixista Yuri Popoff, na Sunset concert series.
A próxima live, marcada para 29 de agosto, será realizada no Estúdio Sonastério. “Ele fica na Quintas do Morro, local muito bonito que pertence ao município de Nova Lima”, diz Toninho. “Vou fazer outras. Anunciarei assim que já tiver as datas acertadas”, promete.
 
O compositor, guitarrista e violonista tem recebido vários convites para participar de apresentações on-line de colegas, inclusive de outros países. Por enquanto, tem se concentrado em projetos solo. Um desses convites veio da cantora Rosa Passos, a baiana radicada em Brasília que ganhou o apelido de “João Gilberto de saias”.
 
“Rosa me ligou recentemente, querendo cantar o Beijo partido comigo. Então, disse a ela: Faça uma gravação aí e me mande para eu ver o andamento de que você gosta.” A baiana lhe enviou uma gravação a capela. “Estava tão bonita que falei para ela: deixe a capela mesmo, ficou muito lindo. Na verdade, Rosa fez uma versão diferente, sem acompanhamento, que ficou muito legal”, comenta Toninho Horta.

Via Instagram, o compositor mandou um recado para a amiga: “Sou seu fã!”. Rosa respondeu: “Viva a música do coração”. Seguidores da página da baiana estão na torcida para o dueto se concretizar. “Gente do céu!!! Já tô na janela esperando!!!”, postou a cantora Teresa Cristina, que tem causado sensação nas redes sociais com suas lives. A cantora Liniker e o pianista, arranjador e compositor Cristovão Bastos também aprovaram a dobradinha.

Sossego 


Toninho procura aproveitar, de alguma forma, o isolamento social. “Tenho mais tempo para estar em casa, com minha família. Também temos tempo para nos dedicar a nós mesmos. É claro que, às vezes, ficamos meio aflitos em determinadas horas, principalmente porque não podemos sair. Mas o negócio é manter a calma e esperar esta pandemia acabar”, aconselha.
Porém, ele confessa: está louco para voltar a frequentar barzinhos e restaurantes, encontrar os amigos.
 
“Tudo voltará ao normal em breve, assim espero. Acredito que temos de passar por isso e estou aproveitando ao máximo para ajeitar a minha vida. As pessoas têm de achar uma maneira de superar até a hora em que tudo voltar ao normal. O problema é que a doença  mata muita gente, infelizmente. Vamos torcer para acabar logo.”
 
Enquanto isso, o mundo está na mira deste mineiro, que gravou discos no Japão e na Coreia do Sul, onde tem público cativo. “Vamos ver se consigo fazer lives para eles. Tenho muita ligação com o pessoal de lá e da Indonésia também. Terei de fazer a apresentação aqui, lá pelas 10h, exibida na Ásia às 22h. Vamos produzindo, pois não podemos ficar parados”, conclui.
 
 

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