Tony Belloto diz que Titãs não é cover de si mesmo e busca se renovar

Guitarrista afirma que nem Titãs nem Jota Quest estão 'cumprindo tabela', ao comentar as declarações de Samuel Rosa sobre a acomodação das bandas do pop rock nacional

Augusto Pio 30/11/2019 04:00
Silmara Ciuffa/divulgação
Branco Mello, Tony Belloto e Sérgio Britto se apresentam hoje, no KM de Vantagens Hall (foto: Silmara Ciuffa/divulgação)

“Não há o menor perigo de o Titãs se tornar cover de si mesmo. Primeiro, porque adoramos tocar juntos, e segundo porque procuramos sempre renovar em nossos shows.” Quem garante isso é Tony Bellotto, que, neste sábado (30), faz show em BH ao lado dos companheiros Branco Mello e Sérgio Britto.

A reportagem perguntou ao guitarrista sua opinião sobre a recente – e polêmica – entrevista do mineiro Samuel Rosa, que anunciou a paralisação das atividades do Skank afirmando que o grupo já “não oferecia mais riscos”, numa carreira acomodada. “Várias bandas já morreram, mas nem sabem disso e continuam existindo”, declarou ele à Folha de S.Paulo. “Muita gente acha que longevidade é sinônimo de sucesso, mas às vezes é simplesmente uma falta de assunto”, acrescentou. Disse também que recomendaria a Rogério Flausino, do Jota Quest, e Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, um “voo solitário” como o dele, que pretende assumir a carreira solo.

“Acredito que esta seja uma questão muito pessoal, um pouco como estar casado ou não estar”, afirma Tony Bellotto. “Nós, do Titãs, somos os primeiros a ter a consciência de que no momento em que virar um simples emprego, uma banda burocrática, o grupo não se sustentará mais. A questão é que gostamos muito de fazer o que fazemos. É sempre um prazer enorme tocarmos juntos, nem que seja uma música antiga como Sonífera ilha. Cada vez que tocamos essa canção, sentimos a repercussão, a resposta do público, é uma coisa muito emocionante.”

Recentemente, músicos do Titãs e do Jota Quest se encontraram nos bastidores de um show, em São Paulo. “Conversando nos camarins, a gente comentou o assunto (Samuel Rosa). Assim como o Titãs, o Jota também tem muita satisfação em tocar juntos e não sente que apenas está cumprindo tabela. Então, cada um faz o que quer, sem qualquer problema”, afirma Belloto.

O guitarrista diz que a posição de Samuel rumo ao voo solo é “compreensível” e cita a própria experiência do Titãs. “Tivemos várias situações como essa, de integrantes deixarem a banda por não estar se realizando nela. Queriam buscar outras coisas. Isso é muito natural. Por outro lado, há bandas, como é o nosso caso, que continuam encontrando muito prazer e satisfação no que fazem.”

Formada em 1982, a paulistana Titãs – referência do chamado BRock oitentista – perdeu Marcelo Fromer (ele morreu atropelado, em 2001), além de Nando Reis, Charles Gavin, Arnaldo Antunes e Paulo Miklos, que seguiram carreira solo. André Jung e Ciro Pessoa também fizeram parte do grupo. Esta noite, Belloto, Sérgio Britto e Branco Mello subirão ao palco do KM de Vantagens Hall ao lado de Mário Fabre (bateria) e Beto Lee (guitarra).

Desafio


Bellotto concorda com Samuel quando ele diz que artistas podem se tornar burocráticos, mas destaca que o Titãs não se acomodou. “Temos muitos sucessos, mas a gente está o tempo todo buscando novos desafios. Fizemos uma ópera-rock com 25 canções inéditas, o próprio show que apresentaremos em BH é outro desafio, um formato que nunca havíamos feito”, afirma. “Samuel estava sendo sincero quando disse aquilo, mas isso não se aplica a todas as bandas não.”

Tony revela que até hoje, quando toca o riff de Sonífera ilha, fica feliz com a reação das pessoas. “E olha que compus aquele riff há quase 40 anos, estávamos começando com o Titãs, a gente até conta essa história no show. Não é porque você faz uma coisa muitas vezes que, necessariamente, se cansará daquilo. Tem tanta coisa na vida que a gente faz e sente prazer renovado a cada vez que faz de novo...”

Tony comemora o fato de antigos fãs levarem os filhos para ouvir a banda. “Ver a garotada conhecendo e cantando as nossas músicas é muito gratificante. Não tem preço.” No palco, a banda recria canções do projeto Titãs acústico MTV e hits de seu repertório. Em 2018, o grupo lançou a ópera-rock feminista Doze flores amarelas, sobre garotas violentadas em uma festa obrigadas a lidar com a depressão, o preconceito e a vontade de se vingar.



TITÃS TRIO ACÚSTICO
Comemoração dos 20 anos de Titãs acústico MTV
  • KM de Vantagens Hall. Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro, (31) 3209-8989
  • Neste sábado (30), às 22h
  • R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia)



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