UFMG promove encontro internacional de saxofonistas em Belo Horizonte

Evento terá concertos abertos ao público no Conservatório e na Escola de Música da universidade. BH foi pioneira no ensino do instrumento no Brasil

por Ana Clara Brant 27/08/2019 08:00
CB/D.A Press
(foto: CB/D.A Press)

O saxofone tem relação para lá de especial com Minas Gerais. A primeira escola do país dedicada ao ensino do instrumento funcionou no estado na década de 1980. Até sexta-feira (30), será realizado o EnSerra1º Encontro Internacional de Saxofonistas da UFMG, em Belo Horizonte, reunindo especialistas do Brasil e do exterior.

Patenteado em 1846 pelo belga Antoine Joseph Sax, conhecido como Adolphe Sax, respeitado fabricante de instrumentos que viveu na França, o saxofone chegou ao Brasil no século 19, trazido por franceses e portugueses. “Ele foi logo inserido em bandas militares, nas quais se faz marcante até hoje. Só na década de 1980 o país ganhou sua primeira escola dedicada ao saxofone e ela ficava em Minas”, informa o brasiliense Carlos Gontijo, instrumentista e professor.
 
Wander Vieira/Divulgação
Saxofonista e professor Carlos Gontijo vai dar um workshop e um recital (foto: Wander Vieira/Divulgação)
 
Gontijo é um dos participantes do EnSerra, realizado na Escola de Música e no Conservatório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Idealizado pelos professores Robson Saquett e Paulo Rosa, o evento terá concertos do espanhol Carlos Ordóñez, do argentino Emiliano Barri e do quarteto brasileiro Monte Pascoal, além de workshops e masterclasses.

“O saxofone vem ganhando destaque tanto no meio erudito quanto no popular. Sempre tivemos a intenção de fazer algo maior, pois o máximo que conseguíamos era um convidado dando aula, tocando e indo embora. O EnSerra, encontro de uma semana, representa um marco”, afirma Robson Squett, que se apresentou com seu grupo, o Quarteto Mineiro de Saxofones, na abertura do evento. “Eu organizo, produzo e toco. A gente joga em todas as frentes”, brinca.

O primeiro professor universitário do país dedicado exclusivamente ao sax integrava os quadros da UFMG. Trata-se do pernambucano Dilson Florêncio, de 57 anos, único sul-americano detentor do 1º Prêmio de Saxofone do Conservatoire National Supérieur de Musique de Paris.

“Foi Dilson quem começou a propagar o sax erudito no Brasil. A primeira escola dedicada a ele foi a UFMG. Não havia material didático no país, nada que auxiliasse esse ensino. Os professores usavam material para flauta e clarinete. Dilson trouxe seus conhecimentos da França. Por isso, é muito significativo ter o EnSerra em BH”, diz Carlos Gontijo.

TROMPETE Gontijo descobriu o sax quando entrou para a banda de Brazlândia, no Distrito Federal. Como o grupo contava com muitos saxofonistas, só sobrou um trompete para o garoto. “Sempre quis o sax, nunca consegui explicar essa paixão. Larguei o trompete e fui estudar saxofone na Escola de Música de Brasília e depois na UnB. Muito versátil, vários compositores brasileiros se dedicam a ele justamente por suas infinitas possibilidades sonoras”, comenta.
O repertório do recital de Carlos Gontijo terá peças de italianos e a obra brasileira mais emblemática dedicada ao instrumento: Fantasia para saxofone, de Heitor Villa-Lobos. Nos últimos anos, ele tem se dedicado à pesquisa sobre o sax erudito para a publicação de um livro, que deve ser concluído até dezembro.

JAZZ De acordo com Robson Saquett, o EnSerra evidencia a pluralidade do instrumento. Apesar de ser associado ao jazz e ao choro, no caso do Brasil, o sax é versátil. “Ele é muito comum nas bandas militares. Isso ajuda a explicar um pouco por que Minas tem tantos saxofonistas de talento”, afirma Robson.

Saquett iniciou seus estudos tocando violão e teclado. “Eram os mais populares, digamos assim. Só quando entrei numa banda fui tomar gosto pelo sax. Nunca mais parei, fiz graduação na UFMG e me tornei professor efetivo. É um instrumento bonito de ver e ouvir. O mais interessante é que cada saxofonista consegue um som totalmente diferente do outro. A sonoridade particular é uma de suas marcas”, defende.

BARULHENTO Foi por meio da banda de sua terra natal, Andrelândia, no Sul de Minas, que Paulo Eduardo de Almeida descobriu o saxofone, aos 7 anos. Os amiguinhos da rua haviam ingressado no grupo. “O futebol acabou, porque todo mundo estava tocando (risos). No começo, não gostava muito. Achava barulhento demais, mas acabei me rendendo e de cara já peguei o sax”, revela.
 
Bruno Jorge/Divulgação
Quarteto 5 oitavas é uma das atrações do Enserra (foto: Bruno Jorge/Divulgação)
 
Paulo Eduardo fez licenciatura em música com habilitação em saxofone na Universidade Federal de São João del-Rei. Durante o mestrado na UFMG, conheceu os estudantes Ronan Ramos, Luiz Antônio e Bruno Jorge. Eles montaram o Quarteto 5 Oitavas. “Nosso repertório busca abarcar vários estilos e gêneros: música de concerto, música popular e até temas de filmes e jogos.”

No EnSerra, o 5 Oitavas vai tocar Mendelssohn, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth e até o tema de Mário Bros, de Koji Kondo. Paulo comemora a visibilidade que o saxofone vem conquistando. “O evento da UFMG é uma oportunidade de mostrar do que ele é capaz”, conclui.

CONCERTOS

   TERÇA (27)

12h30 – Quarteto Monte Pascoal. Escola de Música da UFMG
19h30 – Jesiel Pinheiro e Duo Rosa Camisassa. Conservatório UFMG

   QUARTA (28)

12h – Quarteto de Saxofones 5 Oitavas. Conservatório UFMG
18h10 – Emiliano Barri. Escola de Música da UFMG

   QUINTA (29)

19h30 – Carlos Ordóñez. Conservatório UFMG

   SEXTA (30)

19h30 – Carlos Gontijo. Conservatório UFMG

ENSERRA – 1º ENCONTRO INTERNACIONAL DE SAXOFONISTAS DA UFMG
Até sexta-feira (30), na Escola de Música da UFMG – Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha, e no Conservatório UFMG – Av. Afonso Pena, 1.534, Centro. Concertos e recitais têm entrada franca. Palestras e workshops custam R$ 40 (com direito a programação integral). Inscrições: www.eventbrite.com.br. Informações: instagram.com/enserraufmg/ 

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