Após hiato criativo de seis anos, a mineira Ana Carolina celebra retomada

Cantora investe em seu lado compositora e no reencontro com o repertório romântico em Fogueira em alto-mar

por Ana Clara Brant 02/06/2019 09:25
Pedro Dimitrow/Divulgação
Pedro Dimitrow/Divulgação (foto: Pedro Dimitrow/Divulgação)

Foi em 2013 que Ana Carolina lançou seu último álbum de inéditas, #AC, que dois anos depois ganhou uma versão ao vivo. Mas isso não significa que ao longo desses seis anos a cantora e compositora mineira não tenha tido uma agenda intensa e se dedicado a atividades bem interessantes. Houve, nesse período, a turnê Solo com o DJ baiano Mikael Mutti – que já gravou com Will.i.am e Stevie Wonder – e até o lançamento de Ruído branco, seu primeiro livro, com cerca de 50 poesias, prosas e letras. Na última sexta-feira (31), o público conferiu uma parte do novo trabalho fonográfico de Ana, Fogueira em alto-mar, que será disponibilizado em etapas. “Esse hiato foi importante, porque foquei em outras coisas. Além desses projetos, eu reservei um momento só pra mim mesma. Li muito, ouvi muita coisa. Foi um período importante e só meu”, comenta.

A primeira parte do disco – o 11º de sua trajetória – chegou às plataformas digitais com seis faixas, incluindo a que dá nome ao álbum, uma parceria com Zé Manoel. Ao todo serão 12 canções, sendo que o próximo EP será lançado em 28 de junho com três músicas, e o último em 26 de julho, com mais três. A artista de Juiz de Fora acredita que este projeto a reconecta com a Ana Carolina de 1999, quando começou sua estrada musical. “Ele traz muito daquele começo. Um repertório romântico, uma presença forte do violão. E eu retomei muito o meu lado compositora, seja com parcerias antigas ou novas”, ressalta.

Uma das novidades é Bruno Caliman, compositor baiano radicado no Espírito Santo, um dos campeões de arrecadação do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) e autor de hits gravados por sertanejos como Luan Santana, Gusttavo Lima e Marcos & Belutti. No disco ele criou em conjunto com Ana Carolina não só a música título – em parceria também com Zé Manoel –, como Não tem no mapa, lançada agora, e Com vista para amar, ao lado de Edu Krieger, e que integra a terceira etapa, que será conhecida no fim de julho.

Ana conta que Fogueira em alto-mar, que é uma das apostas românticas e que tem versos que prometem pegar, como “Eu vou te achar/ Nem que eu acenda uma fogueira em alto-mar/ Vou ser seu sol/ sua ilha, seu amanhecer/ Mais de um milhão de vezes/Vou me apaixonar de novo por você”, a conquistou de imediato. “Eu queria um título forte e não só gostei do nome como da letra. Ela fala dessa coisa do amor impossível e achei muito bonito”, comenta.

POR ETAPAS

A artista explica que foi numa conversa com sua gravadora, a Sony Music, que surgiu a ideia de “partir” o disco em três. “Achamos que seria a melhor maneira. O público tem recebido e aceitado muito bem essa história de música pela internet. Acho bacana também porque causa uma curiosidade e até uma ansiedade nas pessoas. O nosso site (www.ana-carolina.com) ganhou cara nova e estava gerando essa expectativa, já que estava numa contagem regressiva. As pessoas vão tendo uma amostra do todo”, defende. No entanto, a cantora não acredita que o disco físico esteja com os dias contados, apesar de Fogueira em alto-mar ser lançado somente no formato digital. “O próprio vinil voltou. Tem muita gente que curte, sim, essa coisa do CD, do encarte. Acho que tem espaço para tudo”, pontua.

Decepcionada


Ana Carolina não é muito de se posicionar politicamente, mas não esconde a decepção e a preocupação com a classe política brasileira. “Prometi que não ia mais falar de política. Mas estou bastante decepcionada com várias coisas. Com relação à cultura, acho que ela, no fim, sempre vence. Os artistas de todos os segmentos sempre dão a volta por cima. Isso é uma coisa do brasileiro, de ter essa força. Essa nossa mania de fazer arte nunca vai ser tolhida por nenhum governo”, opina.

BH vira ponto de partida


A turnê Fogueira em alto-mar põe o pé na estrada em 15 de junho e a estreia será numa cidade especial para a formação artística de Ana Carolina: Belo Horizonte. A cantora destaca que tudo corroborou para que o primeiro show fosse aqui. “Teve essa questão de conciliar as agendas, mas tem essa questão de ser um lugar de importância enorme pra mim. Toquei muito nos bares de BH, foi um público que me ajudou bastante e foi e é fundamental na minha carreira”, salienta. Foi numa apresentação no café do Cine belas artes, próximo à Praça da Liberdade, que as coisas começaram a mudar para a artista. Um rapaz a procurou depois do show com uma letra que se tornaria o primeiro grande sucesso na voz de Ana Carolina. A música era Garganta, que estourou e foi tema da novela global Andando nas nuvens (1999). E o rapaz era o compositor gaúcho Antonio Villeroy. “Ele se tornou um eterno parceiro. Sempre estará comigo. Tanto que assinamos juntos O tempo se transforma em memória e Canção antiga nesse disco”, frisa.

O primeiro EP ainda conta com uma homenagem a Elza Soares, uma das ídolas da artista juiz-forana. Da vila vintém ao fim do mundo (Ana Carolina/Zé Manoel) conta com uma participação da própria Elza. “Ela tinha me pedido uma música em 2017, uma canção de amor, e eu não consegui fazer. Eu costumo ficar travada com as minhas divas. Mas eu queria fazer uma homenagem nesse trabalho e aí me juntei ao Zé Manoel e fizemos esse samba. Elza é única, radiante e sou uma eterna admiradora”, ressalta. Outra faixa bem alto-astral é 1296 Mulheres (Moreira da Silva/ Zé Trindade), que traz versos divertidos como “Tive 200 baianas300 pernambucanas/95 paulistas/Mineiras, perdi a lista/Tive umas 20 gaúchas/E uma paraibana/Carioca umas 700/Só no bairro de Copacabana”. A composição, de 1966, foi uma indicação do amigo, jornalista, escritor e produtor cultural Rodrigo Faour.

SURPRESAS

As seis faixas da primeira etapa estarão na turnê, que terá também algumas surpresas, já que Ana Carolina está celebrando duas décadas de estrada. “Não vão faltar canções que marcaram minha carreira ao longo desse tempo e também músicas que nunca cantei em shows. Mas teremos outras novidades”, avisa.

Ana afirma que tem muito orgulho do que construiu na música e sabe que, apesar das conquistas, ainda tem muito chão pela frente. “Eu amo a música, amor cantar, tocar, gosto demais do que faço e me entreguei de coração nesses 20 anos. Me sinto feliz, realizada e vitoriosa, mas sei que ainda preciso aprender mais. Comemorar é olhar para atrás e saber para onde tenho que ir. O tempo vai formulando novas perguntas”, analisa.

REPERTÓRIO


» 1° EP  
Não tem no mapa (Ana Carolina/Bruno Caliman)
Fogueira em alto-mar (Ana Carolina/Zé Manoel)
O tempo se transforma em memória (Ana Carolina/Antonio Villeroy)
Da Vila Vintém ao fim do mundo (Ana Carolina/Zé Manoel)
1296 mulheres (Moreira da Silva/Zé Trindade)
Canção antiga (Ana Carolina/Antonio Villeroy)

» 2° EP – lançamento em 28 de junho
Tudo e mais um pouco (Ana Carolina/Dudu Falcão)
Dias roubados (Ana Carolina/Jonnas Mayrin/Antonio Villeroy)
Outra vez você (Ana Carolina/Délia Fischer/Dudu Falcão)

» 3° EP – lançamento em álbum completo com os demais EPs em 26 de julho
Com vista para amar (Ana Carolina/Bruno Caliman/Edu Krieger)
O que que há (Fábio Jr./Sergio Sá)
Quién sabe (Ana Carolina/Antonio Villeroy/Jonnas Mayrin)

 OGUEIRA EM ALTO-MAR
Em 15 de junho, às 22h, no KM de Vantagens Hall (Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, São Pedro). Ingressos a partir de R$ 50. Vendas: bilheteria e no site www.ticketsforfun.com.br

MAIS SOBRE MUSICA