Rubel lança disco com elementos da MPB, bossa nova, hip-hop e samba

Disco Casas conta com participação especial dos rappers Emicida e Rincon

por Guilherme Augusto* 02/03/2018 08:30
Guido Argel/divulgação
(foto: Guido Argel/divulgação)

Quando lançou seu primeiro disco, Pearl, em 2013, o músico Rubel não tinha grandes expectativas. O trabalho nasceu durante um intercâmbio nos Estados Unidos e foi a forma que ele encontrou de documentar a viagem. Embora tenha sido lançado apenas na internet, chamou a atenção, tornou-se um fenômeno virtual e transformou o jovem em revelação tão promissora que o fez vencer a categoria voto popular do edital Natura Musical 2016, dando suporte para que trabalhasse em um segundo trabalho. O resultado é Casas, que chega hoje às plataformas digitais.

Durante dois anos, Rubel se dedicou a aprender e colocar em prática uma nova forma de trabalhar, com a intenção de não repetir o que já havia feito. “As músicas do Pearl foram gravadas em três dias, muitas delas em apenas um take. Então, elas têm o frescor do momento”, explica. “Casas é um disco pensado, trabalhado e meticuloso, como uma tese de monografia.” O paralelo acadêmico não surge à toa, pois ele fez uma espécie de estudo para chegar ao produto final. Se antes as músicas eram marcadas por instrumentos orgânicos e predominava o som de um solitário violão, agora elas trazem o frescor moderno das batidas eletrônicas e o jogo lúdico proporcionado pelos samples, ou seja, trechos de outras gravações reutilizados como uma espécie de instrumento em novas produções.

“A ideia central do disco é juntar a canção de música popular brasileira com a forma de produção do hip-hop, que é mais livre e permite, por exemplo, que se transforme o riscar de um fósforo em uma batida. Então, cada faixa pôde ser produzida com o que fosse necessário”, explica. Rubel se permitiu explorar um território experimental, mas sem deixar que as principais referências ficassem diluídas demais ou desaparecessem. Isso está presente em Cachorro, que mistura o ritmo da bossa nova com sons eletrônicos, resultando em uma espécie de dream pop dos trópicos, marcado pela repetição de melodias e toada hipnótica.

“Cada música passou por um processo muito particular. Ficou bastante claro, pra mim, que o papel da produção é fazê-la chegar da melhor forma possível ao ouvinte”, diz.

HIP-HOP - Rubel vive entre dois tempos. Ao mesmo tempo em que admira Jorge Benjor e Caetano Veloso, não deixa de prestar atenção em artistas contemporâneos, como é o caso dos norte-americanos Chance The Rapper, Frank Ocean e Kanye West. Ao ser questionado sobre as grandes influências, destaca três nomes da cena nacional: Criolo, Emicida e Rincon Sapiência. “São os grandes poetas da música brasileira atual”, destaca. “O que eles fazem liricamente é algo que nunca vi igual, é muito artesanal e lindo. No Casas, minha intenção não foi reproduzir isso, fiquei mais no lugar de admirador que tem um grande respeito. O que me encanta é a forma de brincar com as palavras, a relevância dos temas. O rap é a música mais politizada que a gente tem hoje”, pondera.

Intenções à parte, a rítmica do gênero aparece nas faixas Colégio e Pinguim. A admiração é tanta que Emicida aparece na sétima faixa, Mantra, ode a São Jorge embalada por tambores de umbanda. As rimas de Rincon, por sua vez, estão em Chiste e são responsáveis por uma das passagens mais politizadas do trabalho (“As lágrimas são como Temer/ Necessário colocar pra fora”). “Mandei uma base e ele (Rincon) gostou muito, mas achava que deveria ser uma música de celebração. No meio do processo, percebi que estava com vergonha de fazer uma canção assim, como se a alegria fosse menor e menos preciosa ou importante. No final, a letra se tornou um confronto entre a dor e o riso, a alegria e a tristeza”, comenta.

A melancolia, no entanto, é a tônica do disco. Embora adote algumas melodias mais otimistas, como é o caso dos sambas Casquinha e Sapato, ele não se deixa levar e ainda concede mais espaço às narrativas trágicas ou tristes. A singela Explodir traz o músico sem seu modus operandi natural, ao violão, acompanhado de violoncelo e violino. Santana – única não autoral, escrita por Gustavo Rocha – fecha o álbum sob uma rara atmosfera de esperança: “É fácil ser feliz”, canta Rubel.

HIT - 
Na 13ª faixa, Partilhar, está depositada a potência e a graça que o transformaram em revelação musical. Ela remete ao hit Quando bate aquela saudade, cantado em uníssono nos shows e cujo clipe, lançado em 2015, atingiu 17 milhões de visualizações no YouTube. Aborda o tema universal do amor em frases que devem agradar aos internautas e trazem o charme da sinceridade.

Com tranquilidade, Rubel não se preocupa se o sucesso vai se repetir ou não. Com a sensação de dever cumprido, entrega um disco de desenho definido e passagens abstratas, essenciais para sua narrativa. Casas é experimental na medida e, como as construções, guarda as estruturas fundamentais de sua fundação. Rubel acena para um futuro auspicioso e prova que sua arte não é apenas fenômeno virtual. O show de lançamento chega a Belo Horizonte em 14 de abril, no Sesc Palladium.

* Estagiário sob supervisão de Ângela Faria



CASAS

. De Rubel
. Dorileo/ Natura Musical
. Disponível nas plataformas digitais

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